Cine Garimpo http://cinegarimpo.com.br Blog de cinema, para escolher o filme pelo estado de espírito Thu, 16 Feb 2017 03:32:16 +0000 pt-BR 1.2 http://cinegarimpo.com.br http://cinegarimpo.com.br 1 201 https://wordpress.org/?v=4.6.3 ZUZU ANGEL http://cinegarimpo.com.br/zuzu-angel/ Mon, 29 Mar 2010 18:07:21 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=3513 DIRETOR: Sergio Rezende ROTEIRO: Sérgio Resende e Marcos Bernstein ELENCO: Patrícia Pillar, Daniel de Oliveira, Luana Piovani, Leandra Leal, Alexandre Borges, Ângela Vieira, Ângela Leal, Flávio Bauraqui, Paulo Betti, Nélson Dantas, Regiane Alves, Fernanda de Freitas, Caio Junqueira Brasil, 2006 (110 min) Lembrei de rever Zuzu Angel por causa das referências a ela e à sua filha, Hildegard Angel, na biografia de Paulo Coelho, O Mago, de Fernando Morais. Acabo de ler o livro. Não sabia que Hildegard e Paulo Coelho eram amigos naqueles anos de chumbo, a década de 70. Assim como o famoso escritor, Stuart (Daniel de Oliveira), filho de Zuzu, foi perseguido e torturado pelo regime militar. No entanto, não teve a mesma sorte e acabou assassinado, sem que seu corpo fosse jamais entregue aos familiares. Zuzu Angel (ótima por Patrícia Pillar) conta justamente sua luta para reaver o filho, vivo ou morto. Estilista famosa internacionalmente, acorda para o terror da ditadura quando seu filho desaparece, quando o regime passa a ameaçá-la diretamente, quando já não se vê costurando futilmente para as esposas dos militares enquanto artistas, estudantes e intelectuais morrem nos porões dos quartéis. Plasticamente o filme é muito bonito - embora muito triste, claro. Senti a beleza do filme, ao mesmo tempo em que senti a vergonha e a dor de mãe. O filme é embalado pela canção Angélica, tributo de Chico Buarque à estilista (veja o vídeo abaixo); mostra pessoas que fizeram parte da vida de Zuzu como a modelo Elke Maravilha (na pele de Luana Piovani); mostra Zuzu levantando a bandeira de mãe de um desaparecido político; mostra a posição das irmãs de Stuart, que criaram o Instituto Zuzu Angel (IZA) em 1993 para promover a moda enquanto expressão da cultura brasileira e preservar a memória da mãe e do irmão. Tudo isso situa o filme na realidade do nosso país - o que faz dele um registro muito, mas muito interessante. O primeiro vídeo, logo abaixo, é uma montagem com imagens reais e fictícias, com a canção Angélica de fundo; o segundo, o trailer oficial do filme. Gosto dos dois, embora tenha priorizado o primeiro, é verdade. Acho que ele transcende o cinema, entra na realidade e traz os fatos para perto de nós. Por mais duros que sejam. ]]> 3513 0 0 0 PIAF, UM HINO AO AMOR - La Môme http://cinegarimpo.com.br/piaf-um-hino-ao-amor/ Thu, 06 May 2010 21:36:35 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=3897 DIREÇÃO: Olivier Dahan ROTEIRO: Olivier Dahan, Isabelle Sobelman ELENCO: Marion Cotillard, Sylvie Testud, Pascal Greggory, Emmanuelle Seigner, Jean-Paul Rouve, Gérard Depardieu, Jean-Pierre Martins França, 2007 (140 min) Quando penso na vida de Édith Piaf (1915-63) com tantas as dores, frustrações amorosas e tragédias, fica difícil não relacionar com a trajetória de outras divas da música que também tiveram vidas parecidas com uma montanha-russa. As brasileiras Maysa e Elis Regina abusaram das drogas, do álcool e das intempéries do amor e puseram tudo a perder; a fadista Amália Rodrigues teve uma vida cheia de desencontros amorosos. É quem me vem à cabeça de imediato. Todas se tornaram ícones de uma época, de uma cultura, de um país, mas tiveram uma vida instável e tumultuada demais. Edith Piaf não foge à regra e conquista, não só  a França, como todo o mundo. Apelidada de "pequeno pardal" (la môme piaf) pelo dono do cabaré que descobriu seu talento, Edith teve uma infância sofrida, de mãe ausente e pai circense-aventureiro, teve de cantar nas ruas de Paris para comprar comida, até terminar nos palcos do mundo todo. Mas nada veio de graça. Com saúde frágil, Edith é frágil também emocionalmente e vive um verdadeiro turbilhão amoroso que a gente chega a sentir mesmo a sua dor. Isso é mérito da atriz Marion Cotillard (também em Meia-Noite em Paris, Nine), que está praticamente irreconhecível, tamanha é a sua entrega ao personagem. Faturou o Oscar, o Cesar e o Globo de Ouro de melhor atriz pelo papel. Impecável. Além de toda a ambientação de época (Piaf viveu de 1915 a 1963), vale a pena conferir a música, os trejeitos, o começo e o triste fim de Edith Piaf. Na canção Je ne regrette rien, ela diz não se arrepender de nada que fez. Ainda bem, mesmo porque, pelo que é mostrado de sua vida, as grandes tristezas não foram fruto de suas escolhas. Parece que era para ser assim mesmo. .]]> 3897 0 0 0 GANDHI http://cinegarimpo.com.br/gandhi/ Sat, 22 May 2010 23:25:25 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=3986 "Se adotarmos o princípio do 'olho por olho', toda a nação ficará cega."

Mahatma Gandhi

Não que o filme Gandhi precise de um incentivo para ser revisto. A trajetória de Mahatma Gandhi é tão importante para o contexto da Índia de ontem e de hoje, que deve fazer parte do repertório de todos - inclusive dos nossos filhos (o meu de 10 anos ficou 3 horas vidrado na narrativa). Mas o que me levou a revê-lo foi o fato de ter lido há pouco o romance O Sári Vermelho (de Javier Moro - ver em Dicas Afins), que conta a história da italiana Sonia Gandhi, nora de Indira Gandhi. É bom dizer que não há parentesco entre Mahatma Gandhi e Indira - é apenas uma coincidência. Mas todos eles fazem parte da história da Índia e é muito interessante cruzar os fatos e fazer associações com todo esse material. Vamos ao filme: Gandhi morre já na primeira sequência. Depois disso, o diretor Richard Attenborough conta a história do homem que tinha convicção de que libertaria a Índia da colonização inglesa sem pegar em armas. Retrata como Gandhi fica indignado com o racismo e a injustiça ainda quando era um jovem advogado na África do Sul. Mostra sua forma de pensar, a importância do "agir" e do protesto com intuito de instigar a reflexão. Ganhador de 8 Oscares em 1983, Gandhi é magistralmente interpretado por Ben Kingsley (também em Fatal e A Ilha do Medo). Além de toda a sua postura de não-violência ("não há caminho para a paz; a paz é o caminho"), é muito interessante lembrar as consequências da Índia independente. Assisti ao filme na semana em que terroristas paquistaneses foram responsáveis por tentativa de atentado nos Estados Unidos. Fica a pergunta sobre a eficácia da criação do Paquistão naquela época, a eficácia da separação de muçulmanos e hindus, a dificuldade de conciliação entre povos, raças e religiões sempre que há uma mudança no comando de uma nação. Segundo Gandhi, uma religião que não cuida das questões práticas e não ajuda a resolvê-las, não é uma religião. Aqui, as crenças funcionaram como verdadeiros barris de pólvora. Pena que sempre tenha sido assim.   DIREÇÃO: Richard Attenborough ROTEIRO: John Briley, Alyque Padamsee, Candice Bergen ELENCO: Ben Kingsley, Rohini Hattangadi, Roshan Seth, Saeed Jaffrey, Candice Bergen, Edward Fox, John Gielgud | 1982 (191 min) ]]>
3986 0 0 0 Richard Attenborough do espetacular GANDHI, de 1982]]>
UMA LONGA VIAGEM http://cinegarimpo.com.br/uma-longa-viagem/ Fri, 11 May 2012 19:15:59 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=9850 DIREÇÃO e ROTEIRO: Lúcia Murat ELENCO: Caio Blat Brasil, 2011 (97 min) A viagem parece durar até hoje. Quando revira as lembranças, cartas, sensações, descobertas e medos do passado, a cineasta Lúcia Murat decide contar o que viveu. E mais, o que viveram seus irmãos. Miguel morreu recentemente, o que motivou Lúcia a recordar, puxar pela memória a experiência daqueles anos de ditadura. Auxiliada pelo irmão Heitor, que dá seu depoimento emocionante e também é representado na telona por Caio Blat, ela escreve o roteiro daquilo que ficou registrado na mente e na alma dos membros da família. É por isso que a viagem é longa. Começa no fim dos anos 1960, quando Lúcia milita contra a ditadura no Brasil e Heitor é mandado pela família para Londres para não acabar também na cadeia. E dura até hoje. Heitor não só vai a Londres, como viaja por anos pelo mundo todo, vive uma época em que a contracultura está solta, em que as drogas, o sexo e o rock ‘n roll são a ordem da vez e ele se envolve profundamente com narcóticos de todos os tipos. Acaba ficando esquizofrênico, o que acarretou inúmeras intervenções psiquiátricas, como podemos perceber pela maneira de falar e recordar o seu passado nos depoimentos do filme. A viagem que começou naquela época teve sérias implicações até hoje e leva o espectador também por esse túnel de emoções pessoas e muito particulares. E esse é o ponto principal do filme, as sequelas emocionais que ficam, os valores que são criados e alimentados com as experiências da vida. E claro, a coragem de Lúcia Murat de abrir sua intimidade desta maneira. Em off, Lúcia narra suas lembranças neste documentário, o grande vencedor do Festival de Gramado do ano passado. A construção das passagens de Heitor na pele de Caio Blat (também em Bróder, Xingu, Carandiru, Os Inquilinos, As Melhores Coisas do Mundo, O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias) têm algo de surrealista, com base naquilo que foi escrito nas cartas enviadas por ele dos quatro cantos do mundo, guardadas por sua mãe. Não pretende parecer biográfico, acho que não. Mas sim um registro da memória afetiva de uma época que marcou a família e fez de seus membros aquilo que eles são hoje.   ]]> 9850 0 0 0 PERSÉPOLIS - Persepolis http://cinegarimpo.com.br/persepolis/ Thu, 01 Dec 2011 19:37:12 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=10193 ROTEIRO: Marjane Satrapi (quadrinhos), Vincent Paronnaud ELENCO: Chiara Mastroianni, Catherine Deneuve, Gena Rowlands (vozes em francês) França, 2007 (96 min)

A escritora e cineasta iraniana Marjane Satrapi tem uma história de vida interessante, trágica e emocionante para contar. Resolve fazer isso aos 35 anos, em forma de história em quadrinhos, que faz sucesso em todo o mundo e termina servindo de inspiração e roteiro para este filme. Assim como em Valsa com Bashir (que fala do envolvimento de um soldado israelense no massacre de palestinos no Líbano em 1982) a animação fala de um importante fato histórico do Oriente Médio, dá forma ao pensamento e às vivências das pessoas envolvidas e traz à tona explicações do mundo como ele é hoje.

Entender o Irã de hoje não é tarefa fácil. A República Islâmica do ditador Mahmoud Ahmadinejad é pura censura, autoritarismo, repressão e violência, como mostrado em produções como Isto Não é um Filme e Green Days. Mas é muito interessante conhecer como tudo isso começou, principalmente pelo olhar curioso e ingênuo de uma menina de 10 anos (como em A Culpa é do Fidel ou O Ano em que meus pais saíram de férias), que tinha uma vida confortável e tranquila com a família, até tomar conhecimento vagamente de que pessoas desapareciam, eram presas e torturadas sob o regime do xá Reza Pahlevi, que o povo andava insatisfeito, que algo ia muito mal.

Eram os anos 1970, quando os comunistas contestavam em todo o mundo os regimes de direita. No Irã não foi diferente. O povo derrubou o xá Reza Pahlevi, mas o aiatolá Khomeini, líder religioso xiita, tomou o poder e acabou instalando um sistema ainda mais repressor, impondo as leis islâmicas destorcidas e prejudiciais para todo o povo. E também para a pequena Marjane, que sente a mudança dos tempos na imposição do uso do véu para as meninas, na manipulação do modo de pensar e agir das pessoas em todos os campos que ousavam contestar o status quo, na constante tensão da vida a partir daquele momento. Marjane, então, conta a sua trajetória no exterior, sua dificuldade de se integrar com a cultura ocidental, a realidade da Europa naqueles tempos, a relação com a família (em especial com a avó) e os reflexos da mudança de rumos do país na sociedade iraniana como um todo. Interessantíssimo, ainda mais quando pensamos na rica produção de cinema iraniana de hoje e em todas as denúncias de cineastas presos, banidos da profissão, profissionais exilados, proibidos de se expressar.

O título Persépolis faz referência à antiga capital da Persia. Retoma, assim, as tradições do país através do olhar cuidadoso, incrédulo, contestador e sensível de uma criança, depois adolescente e adulta. Crescer significou para Marjane aguçar sua consciência política e social e escrever o livro e produzir este filme foi não só uma maneira de pensar a sua biografia, mas principalmente registrar uma época, documentar uma era, uma vida, uma realidade totalmente em voga nos dias de hoje na mídia e nas relações internacionais como um todo. Além, é claro, que ser uma animação cuidadosamente trabalhada nos seus detalhes em branco e preto do passado, do colorido do presente. Não foi à toa que Persépolis venceu o prêmio do júri em Cannes em 2007. Para entender o nosso mundo, o Irã, o mundo islâmico extremista e a mente de uma menina de 10 anos. Genial!

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Quem se interessar por esse tipo de registro, vale a pena dar um espiada no livro. Sei de um colégio que adota essa literatura com alunos de 12 anos. Superinteressante - linguagem familiar dos quadrinhos contada por alguém da mesma idade deles, para tratar de um assunto sério, atual e que provavelmente ainda terá muitas implicações nesse mundo globalizado. Além, é claro, de aumentar o repertório dos adolescentes com outras formas de expressão... Nada mal.

Persépolis (Marjane Satrapi, Ed. Companhia das Letras, 352 páginas)

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O ÚLTIMO DANÇARINO DE MAO - Mao's Last Dancer http://cinegarimpo.com.br/o-ultimo-dancarino-de-mao/ Fri, 09 Dec 2011 16:16:25 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=10285 DIREÇÃO: Bruce Beresford ROTEIRO: Jan Sardi, Li Cunxin (autobiografia) ELENCO: Chi Cao, Bruce Greenwood, Kyle MacLachlan, Wen Bin Huang, Penne Hackforth-Jones, Christopher Kirby, Madeleine Eastoe Austrália, 2009 (117 min)   Nos cinemas: 9 de dezembro   A primeira referência que me veio à mente ao assistir a O Último Dançarino de Mao, baseado na autobiografia Adeus, China – O Último Bailarino de Mao (Fundamento, 2007, 400 páginas), é o filme com o Mikhail Baryshnikov, O Sol da Meia-Noite, de 1985. Nele, o bailarino russo exilado nos Estados Unidos tem de fazer um pouso forçado no território soviético a caminho do Japão e acaba preso pela KGB por ser considerado um traidor. Fica isolado na Sibéria, sob cuidados de um bailarino americano que desertou do exército e casou-se com uma russa. A história toda gira em torno da saída ou não do território fechado da ex-União Soviética, do envolvimento da embaixada, da mídia, da opinião popular e, obviamente, traz à tona o tema da liberdade de ir e vir, de pensar, de se expressar em regimes autoritários e cruéis. O Último Dançarino de Mao retoma o assunto, contando a história verdadeira de Li Cunxin, que era um menino de 11 anos como tantos outros nas regiões remotas e carentes da China comunista de Mao, em plena Revolução Cultural nos anos 1970, quando as formas de arte deveriam ser politizadas, militarizadas. Foi escolhido para dançar balé na Academia de Dança de Pequim, submetendo-se a treinamentos intensos, dolorosos e competitivos. Em tempos de penúria e de forte influência do Partido, ser escolhido significava ganhar na loteria – era, de fato, uma chance única de ser alguém na vida aos olhos da família. Em 1979, Li Cunxin é escolhido para representar a China nos Estados Unidos, num intercâmbio cultural incentivado pelo governo dos dois países. Segue para o Texas, onde se depara com um mundo completamente diferente, do consumo à arquitetura, à liberdade de expressão. A partir daí Li faz suas escolhas, sempre recheadas de fatores políticos, envolvimento emocional, diplomacia – já que um abismo separa a China familiar e censurada, da possibilidade de ser livre, de fazer uma carreira internacional sólida e bem sucedida. A meu ver, há um importante contraponto em O Último Dançarino de Mao, do diretor australiano Bruce Beresford (também de Conduzindo Miss Daisy). Ao mesmo tempo em que é sentimental demais em algumas cenas e mostra personagens rasos, tem cenas belas e delicadas, momentos de verdadeira superação e escolhas difíceis. Talvez as coisas tenham realmente se dado dessa maneira, dramáticas. O ator e bailarino Chi Cao, escolhido para interpretar Li Cunxin, é intenso na sua interpretação e as cenas de dança são lindíssimas – gosto em particular da mais informal delas, a última. Quando vejo esse tipo de filme, procuro ter em mente o fato de ser uma história real. Isso muda tudo. Como eu dizia, apesar do sentimentalismo em alguns momentos, a história de vida supera qualquer excesso. Um registro importante e histórico de uma China que ainda reprime, mas que já presenteia seu bilhão com o capitalismo que tanto surpreendeu Li naqueles anos.

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KUNDUN http://cinegarimpo.com.br/kundun-2/ Sun, 01 Jan 2012 15:04:16 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=10678 DIREÇÃO: Martin Scorcese ROTEIRO: Melissa Mathison ELENCO: Tenzin Thuthob Tsarong, Gyurme Tethong, Tulku Jamyang Kunga Tenzin Estados Unidos, 1997 Kundun significa "A Presença". Era disso que os tibetanos precisavam quando foram invadidos violentamente pela China em 1950, quando o governo comunista de Mao queria banir a religião (considerada um veneno), expulsar os monges, proibir o culto e "libertar" os tibetanos do imperialismo. Incrustrado no Himalaia, o Tibete pediu ajuda internacional para não sucumbir ao poderio chinês, clamou pelo reconhecimento como região autônoma, mas não obteve ajuda. A presença de espírito do 14º Dalai Lama (então com 15 anos) diante do conflito, faz com que adote uma postura de não-violência, mesmo quando vê milhares de camponeses serem mortos pelas tropas do Partido Comunista, quando presencia a invasão de Lhasa e o sofrimento do povo. Mas corre risco de vida e não resiste - acaba fugindo com outros líderes religiosos para a Índia em 1959 respaldado pelo primeiro-ministro indiano na época, Jawaharlal Nehru, e instala ali o governo tibetano no exílio. Além de extremamente bem cuidado e minucioso, o filme de Martin Scorcese (também em Ilha do Medo) retoma um importante conflito regional, esquecido nas remotas montanhas do Himalaia, mas que tem suas consequências até hoje. Retoma as tradições tibetanas da procura pelo Lama (mestres budistas tibetanos), que eles acreditam ser a reencarnação do Buda da Compaixão, da sua educação dentro dos palácios do Tibete e a interrupção dessa tradição pela ganância chinesa. Vivendo até hoje em Dharamsala, saiu pela primeira vez da Índia em 1967 para lutar pelos direitos humanos, recebeu o prêmio Nobel da Paz em 1989 por sua postura pacífica e desde então percorre o mundo pregando a não-violência e da tolerância. Os conflitos no Tibete continuam até hoje. Monges tiram a própria vida queimando o corpo em praça pública para protestar e chamar a atenção da comunidade internacional, enfrentam os soldados chineses, pedindo a volta do Dalai Lama ao Tibete e a liberdade religiosa e cultural. Kundun é um importante e lindo registro de um momento histórico que ainda ganha as manchetes dos jornais com notícias de massacres e tensão entre as partes. É um daqueles filmes, assim como Gandhi, que valem ser vistos, não só pela qualidade cinematográfica irretocável, mas também para entender o nosso mundo. ]]> 10678 0 0 0 A DAMA DE FERRO - The Iron Lady http://cinegarimpo.com.br/a-dama-de-ferro/ Fri, 10 Feb 2012 12:38:04 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=11015 DIREÇÃO: Phyllida Lloyd ROTEIRO: Abi Morgan ELENCO: Meryl Streep, Jim Broadbent, Richard E. Grant, Ianin Glen, Alexandra Roach, Victoria Bewick, Emma Dewhurst, Olivia Colman, Harry Lloyd Estados Unidos, 2011 (105 min)

“Atenção aos pensamentos, porque eles se transformam em palavras. Atenção às palavras, porque elas se transformam em ações. Atenção às ações, que se tornam hábitos. Atenção aos hábitos, porque eles compõem seu caráter. Atenção ao seu caráter, que ele se torna seu destino. Nós nos tornamos aquilo que pensamos.”

Margareth Thatcher

 Nos cinemas: 17 de fevereiro    Lembro-me bem da imagem de televisão de Margareth Thatcher nos discursos mundo afora. Eram marcantes, em uma época em que as mulheres não eram muitas no poder. A postura irredutível, firme, absolutamente dona de si é o que me vem na memória quando penso na única primeira ministra britânica da história, no cargo de 1979 a 1990. Quando me dei conta disso, me arrependi de não ter revisto alguns de seus discursos antes de assistir ao filme. Com a ferramenta do YouTube, isso hoje fica fácil. Uma simples busca com o nome dela já disponibiliza diversos vídeos da Dama de Ferro discursando e imprimindo seu incomparável jeito de ser e fazer política. Vale a pena. Assim você tem a verdadeira Thatcher fresca na memória para encarar Meryl Streep (também em Manhattan, Entre Dois Amores, As Horas, Simplesmente Complicado, Julie & Julia, Dúvida), numa caracterização impecável. Não tenho ressalvas à sua interpretação. Indicada pela 17a vez ao Oscar de melhor atriz, Meryl Streep está a própria Thatcher, parecendo intocável na sua carcaça de raciocínio lógico e irônico, determinação e convicção, capaz de colecionar tantos inimigos quanto admiradores políticos. Quando um diretor se depara com a personalidade controversa como Thatcher, fica difícil encontrar um viés apropriado para contar, em apenas duas horas, o que foi sua presença e seu legado – ainda mais escolhendo uma americana para representar uma inglesa. Em se tratando da ex-primeira-ministra, como retratar sua postura diante da crise econômica, do aumento do desemprego, da pressão dos sindicatos e do partido conservador, da Guerra das Malvinas? O que a diretora Phyllida Lloyd, também de Mamma Mia, fez em A Dama de Ferro foi humanizar uma personagem dura, contando sua história política a partir das lembranças de uma frágil e solitária senhora, que sente saudades dos filhos pequenos e do marido companheiro, que sofre de demência, que diz não precisar de ajuda, que teima em não ir ao médico, que ainda é apegada aos pertences comuns que trazem registradas as histórias de uma vida. Para quem acha que ainda faltou contar muita coisa, talvez isso seja um consolo - personagens densos e complexos como ela ainda podem render ótimas histórias no futuro. A Dama de Ferro é um importante e bem feito registro, não só de um personagem histórico, mas de uma maneira de liderar e de viver a arte da política.   ]]>
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J. Edgar http://cinegarimpo.com.br/j-edgar/ Wed, 01 Feb 2012 00:26:03 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=11045 DIREÇÃO: Clint Eastwood ROTEIRO: Dustin Lance Black ELENCO: Leonardo diCaprio, Armie Hammer, Naomi Watts, Josh Hamilton, Judy Dench Estados Unidos, 2011 (137 min)

"Informação é poder." -   J. Edgar

Nos Estados Unidos dos anos 1920, o FBI (Federal Bureau of Investigation) era mais um departamento policial ineficiente e corrupto, sem qualquer critério técnicos ou científico para desvendar crimes e prender bandidos. Foi nessa época que o jovem advogado John Edgar Hoover, então com 22 anos, foi trabalhar no Departamento de Justiça americano. Escolhido para combater uma leva grande de estrangeiros subversivos e comunistas, que colocavam em risco a segurança nacional através de atentados e organizações secretas, acaba sendo designado para dirigir o órgão, que nunca mais seria o mesmo. J. Edgar passa a coordenar seu staff com mãos de ferro, adotando estratégias científicas e técnicas de investigação criminal - inclusive das impressões digitais - imprime sua marca logo de cara e termina sendo, ele mesmo, o próprio perfil do FBI. Foram 48 anos no poder da poderosíssima organização de inteligência americana. J.Edgar (Leonardo DiCaprio, também em Ilha do Medo, Foi Apenas um Sonho, A Origem, Titanic), sempre escoltado pela fiel assistente Helen Gandy (Naomi Watts, também em Jogo de Poder, 21 Gramas, Você Vai Conhecer o Homem dos seus Sonhos) e por seu suposto amante e sabido braço direito Clyde Tolson (Armie Hammer, também em A Rede Social), foi chefe do departamento já em 1924 e diretor de 1935 a 1972, quando morreu. Portanto, viveu no comando importantíssimos anos da história americana: época dos comunistas e gângsters (muito bem retratada em Inimigos Públicos, com Johnny Depp), da crise de 1929, da Segunda Guerra, da Guerra do Vietnã, da morte de Kennedy, do prêmio Nobel dado a Martin Luther King, da subida de Nixon ao poder. Anos tratados no filme num vai e vem entre passado e presente, que poderiam ser menos intensos - o roteiro assinado por Dustin Lance Black (também de Milk - A Voz da Liberdade) poderia ser mais suave nesse quisito. É assim que conhecemos a história contada por Clint Eastwood (diretor também de Além da Vida, A Troca, Gran Torino, Sobre Meninos e Lobos, A Conquista da Honra, Cartas para Iwo Jima) e é claro que está recheada de fatos interessantes. J.Edgar é retratado com um sujeito esquisito, duro e implacável, absolutamente dono da situação, de maneira muito competente por Leonardo DiCaprio. Viajei por esse pedaço da história, revi fatos, arquitetura, modos, costumes e a cronologia de uma época. Aqui Clint é impecável. Mas não entendo - e esta não é só a minha opinião, tenho lido por todos os cantos a mesma coisa - por que a maquiagem de envelhecimento ficou tão pesada. DiCaprio está muito bem, mas no rosto de Armie Hammer e Naomi Watts realmente parece que perderam o pé. Fiquei incomodada com essas imagens - o que é uma pena, já que se trata de um detalhe técnico fácil de resolver, ainda mais para diretores como Clint Eastwood. De qualquer modo, se isso realmente for só um detalhe para você, deixe passar. J.Edgar é um sujeito que tem, no mínimo, uma interessante e marcante história de vida. E Clint Eastwood, sempre uma maneira muito particular de contar.  
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ANDERSON SILVA - COMO ÁGUA - Like Water http://cinegarimpo.com.br/anderson-silva-como-agua/ Tue, 13 Mar 2012 10:36:07 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=11491 DIREÇÃO: Pablo Croce ROTEIRO: Ramon Lemos, Lyoto Machida, Damaso Pereira, Ed Soares Estados Unidos, 2012 (76 min)   Nos cinemas: 16 de março   Este comentário é para pessoas como eu, que não entendem nada de luta, muito menos de MMA ou artes marciais mistas (sigla em inglês), muito menos ainda da dinâmica e política do torneio UFC (Ultimate Fighting Championship). Como se isso não bastasse, também acho que este comentário pode fazer sentido para aquelas pessoas que, assim como eu, não veem graça, nem emoção, numa luta de "vale tudo" que Anderson Silva, o protagonista deste documentário, pratica. Portanto, quem entende, aprecia, acompanha os torneios do UFC mundo afora, vai achar que eu realmente não tenho o que dizer sobre o assunto. Nesse ponto, terão razão. Considerando isso, constatei que Anderson Silva - Como Água pouco acrescenta a pessoas como eu, sem conhecimento de causa. Não explica as regras do esporte, não fala do torneio em si, nem sequer conta a história do próprio lutador ou fala sobre as razões da sua vitória na fatídica luta retratada neste filme - que golpe foi esse que derrotou o adversário mesmo depois de ser massacrado durante a maior parte do tempo? Concentra-se no episódio específico da sua defesa do título mundial contra o arquirrival americano  Chael Sonnen, em 2010. Invicto, Anderson Silva é incontestavelmente o número 1 e fez questão de adotar uma política diferente daquela esperada pela organização do evento naquela ocasião: não entrou no jogo político do UFC, não aceitou as provocações públicas do adversário e concentrou-se na sua preparação, feita nos Estados Unidos, para a defesa do cinturão. Todo essa panorama de preparação, politicagem, entrevistas coletivas é retratado no filme, além, é claro, da luta em si, que termina com a vitória de Anderson Silva. Na entrevista coletiva após a exibição do filme, Anderson Silva adota a mesma postura que mostrou durante as filmagens do documentário. Diz ser avesso à intrigas, concentrado na técnica, voltado ao esporte e à família. Com essa postura "indiferente" - entre muitas aspas - além de deixar impaciente os adversários e organizadores que querem tirar proveito das declarações, controvérsias ditas em público e eventuais escorregões dos atletas, Anderson faz seu próprio marketing pessoal, constrói sua imagem de bom moço em contrapartida à arrogância do adversário, lança um filme, sai na capa de revista e ganha notoriedade fora do octógono. O subtítulo Como Água se refere à adaptação que devemos ter de acordo com as diferentes situações da vida, ao fato de ser preciso moldar-se, como a água, ao recipiente da vez, para então ser vencedor. Anderson Silva não se moldou ao esquema, montou sua estratégia essencialmente marketeira para ganhar mídia, também fora do reduto dos seguidores das lutas marciais mistas. Sem tirar o mérito do atleta (ele é o campeão, afinal de contas, e tudo indica que realmente um fenômeno), o filme não é um documentário. É uma peça publicitária.   ]]> 11491 0 0 0 LAWRENCE DA ARÁBIA - Lawrence of Arabia http://cinegarimpo.com.br/lawrence-da-arabia/ Sun, 15 Apr 2012 21:31:47 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=11991 DIREÇÃO: David Lean ROTEIRO: T.E. Lawrence, Robert Bolt ELENCO: Peter O'Toole, Alec Guinness, Antony Quinn, Jack Hawkins, Omar Sharif, Anthony Quayle, Claude Rains Inglaterra, 1962  (216 min) Guardadas as devidas proporções - que fique bem claro - O Príncipe do Deserto me inspirou a rever o grande clássico Lawrence da Arábia. Esse sim, um épico, com quase quatro horas de duração, vendedor de 7 Oscar e uma paisagem do deserto como poucos filmes conseguiram fazer. Ou nenhum. Também diretor de filmes como Dr. Jivago e Passagem para a Índia, David Lean constrói um retrato impecável da península arábica durante a Primeira Guerra Mundial, contando a história do oficial britânico que, cansado de executar tarefas no confortável e generoso escritório no Cairo, pede para atuar no campo. E, já naquele começo de século, atuar no campo no Oriente Médio era envolver-se num barril de pólvora. De um lado, as inúmeras tribos árabes rivais, violentas e ditatoriais por definição, disputavam terras e poder na península; de outro, os turcos que invadiam seus territórios, dominavam cidades e abriam caminho para anexá-los ao já enorme Império Otomano. Lawrence entra justamente nesse momento, em que os ingleses não queriam lutar contra os turcos, pois já combatiam na Europa, mas não desejavam o poder deles em uma região tão estratégica; e em que os árabes precisavam lutar contra um inimigo comum, e para isso precisavam colocar de lado seus interesses próprios e richas históricas. Lawrence da Arábia ganha identidade árabe, agindo como conciliador e estrategista inglês para combater os turcos, graças à sua crença na revolta árabe e profundo conhecimento geográfico da região. Independente de sua controversa postura (que o filme não deixa claro, apenas sugere que tem dúvidas, inseguranças, que questiona sua missão em alguns momentos), é um fator determinante na reconquista da península pelas tribos nativas e sua direta negociação, daquele momento em diante, com os interesses ingleses e ocidentais. Mesmo se você preferir não entrar nos detalhes dessas questões políticas e dos interesses particulares do Ocidente, fato é que Lawrence da Arábia é um clássico impressionante de cenas de batalhas entre tribos, viagens pelo deserto de fotografia impar. E mais: em se tratando de lutas tribais, de vingança e richas entre líderes, torna filmes como O Príncipe do Deserto algo novelesco e nada mais. Eu já tinha avisado - são propostas diferentes, não tem nem como comparar. Cada um no seu devido lugar.]]> 11991 0 0 0 FRIDA http://cinegarimpo.com.br/frida/ Tue, 17 Apr 2012 03:21:02 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=12008 Camille Claudel se apaixona por Rodin e tantos outros casos em que a admiração confunde-se com o amor, mas a diferença de idade e geração termina por tumultuar a relação. Mas isso foi depois de Frida sofrer o grande revés de sua vida, aos 18 anos: um acidente gravíssimo, que não a deixa paralítica por pouco, mas deixa sequelas que vão dificultar sua vida para sempre. O mestre muralista e mulherengo Diego Rivera (Alfred Molina, também em Educação, Magnólia) será seu grande companheiro, entre tapas e beijos por toda a vida, mas responsável por incentivar o talento e a personalidade da obra. Frida é, sobretudo, um filme sobre a perspectiva da artista, muito bem representada por Salma Hayek, sobre a vida. A sua vida - já que ela sofria restrições físicas e fortes dores durante longos períodos e isso é refletido na sua obra. Parece surrealismo, mas também parece ser sua leitura da realidade quando deitada numa cama. Apesar de tudo, consegue projeção internacional, envolve-se com o Partido Comunista e com líderes de esquerda. Mas o filme não tem tom político, nem dramático. As cenas de dor são suavizadas pelas cores fortes, pela música mexicana marcantes e pelo figurino maravilhoso. Para quem gosta de biografias de artistas, mais uma boa dica para a lista que certamente inclui Piaf - Um Hino ao Amor.   DIREÇÃO: Julie Taymor ROTEIRO: Hayden Herrera, Clancy Sigal ELENCO: Salma Hayek, Alfred Molina, Geoffrey Rush, Antonio Banderas, Valeria Golino, Diego Luna, Mia Maestro, Roger Rees | 2002 (123 min) ]]> 12008 0 0 0 GARIMPO NA NETFLIX: já dá pra assistir à FRIDA, com Salma Hayek, biografia da artista mexicana em casa. E vale a pena]]> HELENO - O PRÍNCIPE MALDITO http://cinegarimpo.com.br/heleno-o-principe-maldito/ Thu, 19 Apr 2012 21:01:34 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=12134 Heleno - O Príncipe Maldito seria mais uma história de sucesso-esquecimento de ídolos que não conseguem lidar com a fama e o dinheiro de forma equilibrada, se não fosse a atuação de Santoro. Particularmente, gosto muito da maneira como representa e imprime um olhar especial aos seus personagens. E gosto cada vez mais. Desde seu primeiro longa Bicho de Sete Cabeças, de Laís Bodanzky, o talento é inegável. Aliás, é curioso que 11 anos depois Santoro volte a encenar o personagem de sanatório, de olhar e coração perdidos. Depois do primeiro vieram Carandiru, Abril Despedaçado, Che - O Argentino, Che - A Guerrilha, Leonera, Reis e Ratos, Meu País, além de produções internacionais importantes a serem lançadas nos próximos anos. Santoro não para de trabalhar e tem mérito nisso. A força que dá ao personagem Heleno é grande, o que faz o filme não ser sobre futebol, apesar do tema, mas sim sobre um rapaz talentoso e boa pinta, que não sabe ouvir críticas, é estourado, acha que tem o mundo aos seus pés e acaba  tropeçando no vício, nas traições, nas grosserias e perde o trono para a sífilis aos 39 anos. Fiquei surpresa com o filme e justiça seja feita: há um outro fator que o torna interessante. A escolha do preto e branco, da filmagem que coloca o espectador realmente no Rio de Janeiro dos anos 40/50, no Copacabana Palace, nas praias desertas é linda, bem cuidada e um tanto quanto nostálgica. Bela, sobretudo. Ponto para o diretor José Henrique Fonseca. Teria sido realmente necessário algum tom especial para que o filme não caísse na mesmice, nem na idolatria ou vitimização de um atleta. Ele humaniza a postura de Heleno diante da mulher Silvia (Alinne Moraes, também em O Homem do Futuro), dos amigos e colegas. E conta uma boa história. Que infelizmente, se repete, repete e repete.   DIREÇÃO: José Henrique Fonseca ROTEIRO: José Henrique Fonseca, Fernando Castets ELENCO: Rodrigo Santoro, Alinne Moraes, Othon Bastos, Herson Capri, Angie Cepeda, Erom Cordeiro | 2011 (116 min)   ]]> 12134 0 0 0 HELENO - O PRÍNCIPE MALDITO, não sabe o que está perdendo - com Rodrigo Santoro]]> TEATRO - VERMELHO http://cinegarimpo.com.br/teatro-vermelho/ Sun, 22 Apr 2012 17:34:47 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=12211 DIREÇÃO: Jorge Takla TEXTO: John Logan ELENCO: Bruno Fagundes, Antonio Fagundes Vermelho como sangue arterial, ferrugem na bicicleta, incêndio na noite de Dresden, o sol em Rousseau, bandeira em Delacroix, mármore fiorentino, corte ao se barbear, sangue na espuma branca,  bandeira russa, bandeira nazista, bandeira comunista, víceras, chamas, satã! - Rothko, o artista Vermelho como o entardecer, bater do coração, paixão, vinho, rosas, batom, beterrabas, tulipas, maçãs, tomates, pimentas, nariz de um coelho, olhos de um albino, telefone vermelho na mesa do presidente, caquis, romãs, distrito da luz vermelha, placa de "pare", Papai Noel! - Ken, o aprendiz O embate do Vermelho! Mestre contra aprendiz, experiência contra inocência, conhecimento contra emoção, velho contra novo, desgaste contra o fresco. Vermelho, no palco com Bruno e Antonio Fagundes, pai e filho, fala dessa dualidade natural da passagem do tempo a todo momento. E o faz através de um momento específico da carreira do pintor russo Mark Rothko (1903-70). Expressionista abstrato, contemporâneo de Jackson Pollock (veja link do filme Pollock), fez parte do grupo de artistas que surge após a Segunda Guerra para fazer uma arte que reflita os sentimentos, a visão de mundo, a tragédia humana. Com cores fortes e marcantes, vive um momento de crise em sua carreira, quando recebe uma encomenda milionária para pintar painéis para o luxuoso restaurante Four Seasons em Nova York nos anos 1950. Se aceita a encomenda, está colaborando com a dinâmica da arte comercial, aquela arte que "combina com o sofá" - o que vai contra sua leitura da expressão máxima do artista. É esse embate entre o emocional e o racional que ele trava com seu aprendiz Ken (Bruno Fagundes). Ken é o representante da nova geração de artistas que vê na pop art de Andy Worhol a nova visão de mundo, que vai sufocar o expressionismo abstrato, que por sua vez sufocou o cubismo e o surrealismo, e assim por diante. É todo esse conteúdo de renovação e decadência que é tratado no lindo e sensível texto de John Logan, peça que fez muito sucesso na Broadway, sem ser abstrato demais. Afinal, tem como espinha dorsal a interessantíssima história de Rothko, com sutis e delicados toques de humor. Os Fagundes têm liga no palco de fato. Achei acertado também no sentido figurado - a inocência de Ken em relação à arrogância e vivência de Rothko pode ser transportada pela maestria de Antonio e o talento inexperiente de Bruno. Tanto é verdade que no fim da peça os atores nos convidaram para ficar mais, bater um papo, conversar sobre o que vimos. Convidam-nos para doar um pouco mais de tempo (assim como pede Rothko em relação à observação de sua arte), para conversar, refletir - coisa rara hoje em dia. Portanto, programe-se para uns 20 minutos a mais além da 1h20 de espetáculo no belo e novo em folha Teatro Geo. O papo com os atores é delicioso, enriquecedor e principalmente muito descontraído. Toda a experiência de Antonio Fagundes nos palcos (parece que são 36 anos) aparece ali sem máscaras, de uma maneira generosa, como quem quer, precisa, adora trocar. Conhecimento, experiências, teatro. _________________________ PROGRAME-SE: Teatro Geo (Instituto Tomie Ohtake), R. Coropés, 88 - Pinheiros - tel: (11) 3728 4930 - de quinta a domingo. 
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SETE DIAS COM MARILYN - My Week with Marilyn http://cinegarimpo.com.br/sete-dias-com-marilyn/ Thu, 26 Apr 2012 19:53:02 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=12248 DIREÇÃO: Simon Curtis ROTEIRO: Adrian Hodges, Colin Clark (livro) ELENCO: Michelle Williams, Eddie Redmayne, Kenneth Branagh, Julia Ormond, Pip Torrens, Geraldine Somerville, Dougray Scott, Judie Dench, Emma Watson Inglaterra, 2011 (99 min)   Em agosto de 2012 faz 50 anos que Marilyn morreu. Mesmo para quem veio depois de sua morte, que é o meu caso, a sua imagem é fortíssima, marcante, única, um ícone. Não há outra Marilyn. Nem outra com a dimensão da sua fama, beleza e capacidade de atrair a atenção – feminina, também, diga-se de passagem. Portanto, eu diria que apresentar Marilyn Monroe (1926-62) é chover no molhado. Mesmo para quem não sabe direito em que filmes atuou, quantos casamentos teve, por que morreu tão jovem aos 36 anos, por que vivia tão deprimida, por que a vida não lhe dava paz – aquilo que ela mais queria – para continuar usufruindo com tudo aquilo que a vida lhe deu de bandeja: fama, dinheiro, sucesso. Não há outra Marilyn, é verdade. Mas Michelle Williams (também em Namorados para Sempre, Ilha do Medo) consegue parecer Marilyn de fato. Em Sete Dias com Marilyn, que estreia dia 27 de abril nos cinemas, a atriz conseguiu incorporar o que para mim é o que mais me chama atenção na diva: o olhar dúbio, ao mesmo tempo poderoso e extremamente carente. Não se trata de uma biografia – o que é bem interessante. São somente sete dias que conseguem nos mostrar essa faceta em que, antes de ser atriz, Marilyn é uma mulher como todas nós, com seus medos, inseguranças e dúvidas. Em somente sete dias a vida do jovem e rico aspirante a produtor Colin Clark (Eddie Redmayne, também em Os Pilares da Terra) muda completamente. Assistente do famoso cineasta e ator Laurence Olivier (Kenneth Branagh), ele trabalha na filmagem de O Príncipe Encantado (The Prince and the Showgirl) em 1956. Encanta-se com Marilyn e vive com ela esses sete dias mágicos e irreais, quando seu marido, o dramaturgo Arthur Miller, volta para os Estados Unidos. Colin Clark conta sua experiência no livro The Prince, the Showgirl and Me (sugestivo, o título), mas só revela esta semana fatídica mais tarde em livro homônimo, agora adaptado para o cinema. Além de plasticamente muito bonito e até poético, o filme é uma viagem no tempo, principalmente para quem não tem a filmografia de Marilyn fresca na cabeça, nem paciência (ou vontade) de assistir a seus filmes. Este vale a pena. Para mim, soou perfeita a observação que um dos personagens faz sobre seus atrasos, sua postura egocêntrica, frágil e conturbada no set de filmagens. Marilyn seria uma estrela, que tenta ser uma grande atriz. Daí a dificuldade dos grandes atores lidarem com ela, porque talvez nunca cheguem ao patamar de estrelas. Ela brilha, mesmo na sua insegurança indiscutível. E Michelle Williams, que venceu o Globo de Ouro pelo papel, foi muito corajosa em aceitar tamanha responsabilidade. Afinal, não há duas Marilyns. ]]> 12248 0 0 0 DIÁRIO DE UM JORNALISTA BÊBADO - The Rum Diary http://cinegarimpo.com.br/diario-de-um-jornalista-bebado/ Thu, 26 Apr 2012 11:43:37 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=12266 DIREÇÃO: Bruce Robinson ROTEIRO: Bruce Robinson, Hunter S. Thompson ELENCO: Johnny Depp, Giovanni Ribisi, Aaron Eckhart, Michael Rispoli, Amber Heard, Richard Jenkins Estados Unidos, 2011 (120 min) Quem gosta de Johnny Depp? Prefere o ator na pele de personagens afetados como o chapeleiro em Alice no País das Maravilhas, Piratas do Caribe, Edward Mãos de Tesoura, ou alguém mais normal como em Inimigos Públicos e O Turista? Em Diário de um Jornalista Bêbado ele encarna um sujeito instável e alcoólatra, que vai a Porto Rico trabalhar em um jornal de segunda linha, praticamente falido e sem qualquer poder editorial. Vale a pena falar de Thompson, para que você possa entender um pouco mais da história. Hunter Thompson foi o jornalista que inventou o jornalismo "gonzo", em que não escreve com distanciamento ou objetividade, mas participa da matéria sobre a qual vai escrever, sente na pele o que está acontecendo. Jornalismo com emoção e opinião, basicamente, e no filme vemos o início dessa linha de pensamento. Escreve o livro homônimo, em que cria o personagem de Paul Kemp, um alter ego ainda na fase jovem, quando não era conhecido, já bebia e usava alucinógenos e vai parar em Porto Rico nos anos 1950. Foi amigo pessoal de Johnny Depp e por isso o projeto saiu do papel. Paul Kemp é um sujeito que faz caras e bocas, tem o tom e o timing engraçado característico de Depp, que tenta se adequar à maneira de pensar e viver deste país caribenho. Fica dividido entre os mandos frouxos do editor, entre a demanda dos empresários americanos que querem divulgar a especulação imobiliária e ganhar muito dinheiro apropriando-se da beleza do país, e entre o seu lado ético. Em meio a toda a confusão e exageros, ele se depara com a namorada do empresário, apaixona-se por ela e tudo se complica para o seu lado. Diário de um Jornalista Bêbado é movimentado e dinâmico, com situações divertidas vividas por Kemp e seus amigos jornalistas - não menos bêbados e desmedidos. Mas ele tem momentos de lucidez e confesso que gosto quando faz um papel mais... normal. O mais interessante no filme é a ambientação em Porto Rico, as questões culturais do país e a maneira de viver. Mas eu diria que é preciso gostar antes da figura de Depp para encarar o filme pelo viés da diversão. Quem gosta de Johnny Depp? ]]> 12266 0 0 0 BIRD http://cinegarimpo.com.br/bird/ Mon, 30 Apr 2012 14:50:25 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=12319 DIREÇÃO: Clint Eastwood ROTEIRO: Joel Oliansky ELENCO: Forest Whitaker, Diane Venora, Michael Zelniker, Samuel E. Wright Estados Unidos, 1988 (161 min) Aos amantes do jazz, Bird vai encantar por seu repertório. Aos que esperam uma história dinâmica, vai cansar. A biografia feita por Clint Eastwood (também em J.Edgar, Sobre Meninos e Lobos, Além da Vida, Conquista da Honra, Invictus, Cartas de Iwo Jima, Gran Torino, A Troca) é escura, dentro dos bares, da noite, dos clubes de jazz e da imensa depressão e do profundo vício em que o jazzista Charlie Parker (Forest Whitaker, vencedor em Cannes pelo papel) se afunda. Bebe e se droga desde os 15 e ao morrer, aos 34 anos, o médico legista estima que seu corpo tenha a idade de 65. Claro que Eastwood não dá ponto sem nó - ganhou inclusive o Globo de Ouro por este filme. A escuridão é proposital, é reflexo da vida que Parker levou. Considerado um dos mestre do jazz, o percursor do bebop e do jazz agradável para se ouvir, não só para se dançar (como era antes com as big bands), teve uma vida pessoal consumida pela instabilidade, com mais baixos do que altos, o que é muito bem retratado no filme. Até por isso - e por suas 2h20 de duração - Bird se alonga um pouco demais da conta e vai ficando a cada cena mais sombrio. Assim como a vida do músico e compositor. De novo: para quem ama o jazz, sem dúvida uma biografia interessante dos anos 1940/50 no mundo da música. Se esse não for seu tema preferido, outras biografias do diretor como J.Edgar (sobre o chefão do FBI) e Invictus  (sobre Nelson Mandela) talvez agradem mais. Mas lembre-se de que Eastwood tem um estilo próprio, que não precisa pedir passagem nem permissão para filmar. ]]> 12319 0 0 0 VIOLETA FOI PARA O CÉU - Violeta Se Fue a los Cielo http://cinegarimpo.com.br/violeta-foi-para-o-ceu-violeta-se-fue-a-los-cielo/ Fri, 22 Jun 2012 12:38:13 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=12973 DIREÇÃO: Andrés Wood ROTEIRO: Eliseo Altunaga ELENCO: Francisca Gavilán, Thomas Durand, Christian Quevedo, Gabriela Aguilera, Chile, Brasil, 2011 (101 min) Mesmo que você nunca tenha ouvido falar de Violeta Parra, assista ao filme. Mesmo que você tenha em mente que não gosta da música andina e que a primeira que lhe vem na cabeça soa como algo pejorativo, assista. Por dois simples motivos: o primeiro, cinematográfico - este filme é muito bem feito, com intensidades de música, emoção e tragédia na medida certa. O segundo, pessoal: a vida de Violeta Parra (1917-67), um ícone da música folclórica chilena, que teve um infância humilde, foi reconhecida internacionalmente, para depois morrer abandonada física e moralmente, já é uma história de vida e tanto. Violeta Foi Para o Céu venceu o Prêmio de Júri Internacional do Festival de Sundance, além de ter sido o grande aclamado no Cine Ceará de 2012. Reconhecidamente, o trabalho e o olhar do diretor chileno Andrés Wood (também de Machuca) se destaca pela sensibilidade e coerência. Eu não conhecia a história de Violeta, mas já nos primeiros minutos, fragmentos da infância e da vida adulta se misturam, mostrando a confusão e instabilidade da vida da cantora e compositora, que também pintava, que traçou sua trajetória internacional com a cara e a coragem, conseguiu expor no Louvre, morou na Europa e foi desprezada em seu próprio país. Interpretada pela excelente atriz Francisca Gavilán, Violeta se mostra inflexível, sensível, geniosa, possessiva, intensa. Em tudo que fazia. Depois de sua temporada fora, volta para Santiago, cria um espaço onde pretendia disseminar a cultura popular chilena, mas é nocauteada pelo amor não correspondido e pelo fracasso da proposta. Se mata, deixando um legado que é hoje divulgado por seu filho Ángel Parra, que escreve um livro em que este filme se baseia, e sua filha, ambos cantores e compositores. Além de música - muito boa, sonora, forte, com letras recheadas de protestos sociais e políticos e alta dose de inconformismo  sensibilidade - Violeta Foi Para o Céu é cheio de vida, inquieto. A própria Violeta. Assista, mesmo que seja só para tirar a impressão de a música latino-americana é toda igual. Não é, a de Violeta é cantada com uma força impressionante. ]]> 12973 0 0 0 ALÉM DA LIBERDADE - The Lady http://cinegarimpo.com.br/alem-da-liberdade/ Mon, 30 Jul 2012 21:44:22 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=13398 Orquídea de Aço seria o melhor título. Tenho dito aqui e repito: essa coisa de optar por palavras teoricamente de apelo emocional (como "liberdade", "felicidade"), tão comuns nos títulos dos filmes estrangeiros, produzem o efeito contrário. Enfraquecem o pôster (grande chamariz) e a narrativa, e caem no lugar comum. Seria o melhor título, porque é assim que a ativista birmanesa Aung San Suu Kyi, vencedora do Prêmio Nobel da Paz em 1991, é conhecida. Filha do general Aung San, que comandou a libertação da Birmânia da ocupação inglesa e foi morto em 1947 pelos militares que tomaram o poder, Suu Kyi é a cara da Birmânia, atual Mianmar, no que tange a repressão política, o poder autoritário, a falta de liberdade. Orquídea de Aço se aplica à sua resistência pacífica durante os 21 anos em que sofreu violenta repressão, inspirada e amparada pelos princípios e ensinamentos de Gandhi. Portanto, apesar de o filme em si não ser uma obra-prima, produções como essas normalmente valem a pena. Fornecem informações interessantes e atuais sobre um país distante, mas sobre uma realidade muito comum e bem perto de nós. Importante dizer isso antes de tocar no teor da produção e escolhas feitas pelo diretor francês Luc Bessson. Cada aspecto tem a sua importância e considero o teor histórico e documental (apensar, eu sei, de ter também situações fictícias, como sempre acontece) o mais rico - nem que seja só para se inteirar do assunto. Dito isso, vamos ao filme em si. Suu Kyi (Michelle Yeoh) vai estudar em Oxford, onde conhece o professor Michael Aris (David Thewlis), casa-se e tem dois filhos. Volta para a Mianmar em 1988 para cuidar da mãe, quando se dá conta do caos social, econômico e político em que o país está mergulhado. Sensibilizada, mobiliza seguidores para formar a força de oposição e lutar pela democracia no país. Sem querer que Suu Kyi vire mártir, o governo decreta sua prisão domiciliar em 1989. Até ser inteiramente revogada em 2010, graças à forte pressão internacional, Suu Kyi passa esses 21 anos sem poder sair do país, totalmente cerceada, sendo que a maior parte do tempo é vivida em prisão domiciliar. Em abril deste ano foi eleita deputada e só conseguiu sair de Mianmar em junho deste ano - mais uma razão para assistir ao filme e se manter atualizado com o que acontece no mundo. De modo geral, Além da Liberdade me manteve entretida e interessada durante todo o tempo. A personagem de Suu Kyi assume a postura e atitude pacifista, enfrentando seus opositores violentos com orquídeas, abrindo mão do convívio familiar para lutar pela causa. Apesar da força que sabemos que ela tem, no filme quem comanda é seu marido Michael, na pele de David Thewlis. Ele tem um papel mais dramático e rouba a cena em diversas ocasiões. Claro que o filme poderia ter se aprofundado mais, ainda mais considerando o peso, a importância e a história da persoangem, mas a pincelada é boa, nos dá uma noção interessante sobre um personagem histórico espetacular. Esse é o grande trunfo da história. Para entender o nosso mundo, claro. Ou entender cada vez menos. DIREÇÃO: Luc Besson ROTEIRO: Rebecca Frayn ELENCO: Michelle Yeoh, David Thewlis, William Hope, Jonathan Raggett, Jonathan Woodhouse, Susan Wooldridge, Benedict Wong | 2011 (132 min) ]]> 13398 0 0 0 ALÉM DA LIBERDADE. Ela ficou 21 anos em prisão domiciliar e ganhou o Nobel da Paz em 1991 ]]> MASTER CLASS | Teatro http://cinegarimpo.com.br/master-class-teatro/ Mon, 14 Sep 2015 15:10:57 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=22429 What Happened, Miss Simone - só pra citar o mais recente. A gente fica mais sensível, observa mais os modos de vida, enriquece, aprende e segue garimpando. Tudo isso pra dizer que Master Class cumpre esse papel. Pra quem é craque no quisito música lírica, vai se deleitar. Pra quem não é, abra os ouvidos e o coração e aprecie. A montagem, anteriormente feita aqui no Brasil com Marília Pera no papel de Callas, consegue uma proeza: harmoniza drama e humor; transpira força e suavidade. É preciso ser sensível - e sensato - pra conseguir isso. Coisas do diretor diretor José Possi Neto. Sem muito conhecimento de causa, mas com um olhar de espectador que deixa as emoções chegarem, sem juízo de valor, apenas desfrutando, depois de alguns dias eu diria que vários fatores contribuíram pra uma conjunto tão equilibrado, cuidadoso e atual. Eu sei que já virou clichê, mas gosto demais dele: menos é mais, no que diz respeito ao cenário. Só há um ambiente, neutro e coringa, mas nem por isso sem graça. Pelo contrário. A cenografia de fundo, aliada ao jogo de luzes é elegante e importante à altura de Maria Callas. Não falta nada. Outro ponto é a protagonista: Cristiane Tornoli tem uma presença de palco que chega a arrepiar. Traz pra perto a mulher forte e frágil, profissional e apaixonada, exigente e insegura. Se eu tivesse que defini-la em uma palavra, seria "generosidade". Torloni compartilha a vida da cantora com o público e, de alguma maneira, saí do teatro pensando a mulher que foi Callas, nas suas várias facetas e momentos de vida. Julianne Daud, que eu já tinha visto no palco em New York, New York, brilha com seu sorriso e seu canto, assim como os outros atores que fazem o papel de alunos de Callas nos anos 1970. E, como não poderia faltar, o texto: que grata surpresa ter o humor mesclado ao drama, a entrega a atriz aos desafetos e desafios, a chance de se emocionar com o que é vivido no palco. Sim, porque não dá pra desgrudar o olho de lá, Cristiane Torloni hipnotiza a plateia e vai até o fim nessa sua entrega por Maria Callas. Ainda bem que tem arte que fala da arte. Tantos filmes me trouxeram as trajetórias de pessoas interessantes, batalhadoras, dramáticas, artistas, criativas, que foram formadoras e opinião e seguem sendo referência. Master Class, como eram chamadas as aulas que Callas dava aos alunos mais talentosos, entra nessa prateleira. Uma contribuição para que não conhece o assunto, uma aula particular sobre liderança, a entrega plena de uma mulher. Dentro e fora do palco.  ]]> 22429 0 0 0 TEATRO: MASTER CLASS harmoniza drama e humor; transpira força e suavidade, tudo ao mesmo tempo]]> NA NATUREZA SELVAGEM - Into the Wild http://cinegarimpo.com.br/na-natureza-selvagem/ Tue, 06 Oct 2009 20:25:39 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=201 “A felicidade só é real quando compartilhada.”

O que é a liberdade para você? É se ver livre do status quo, das regras e padrões impostos pela sociedade? É dar as costas para a relação hipócrita e materialista e negar os laços familiares? É prescindir de dinheiro, carro, diploma, terno, gravata, estado civil e até do próprio nome? Pois é. Para Christopher McCandless , liberdade era ir ao encontro do seu eu mais íntimo, até entender que formos feitos para nos relacionar. Christopher é um excelente aluno, recém-formado, que joga dinheiro, futuro estável, família, vínculos para o alto e vai viajar pelos Estados Unidos, sem rumo. Sempre refletindo sobre sua condição e sobre o que quer da vida, encontra pessoas bem diferentes pelo caminho, com que se relaciona e consegue ser verdadeiro – como nunca fora com seus familiares. Mas não se firma, não estabelece vínculos – como se eles fossem o maior dos problemas. Realiza o sonho de chegar no Alasca, onde a solidão e a própria natureza dão conta de mostrar-lhe que não fomos feitos para vivermos sozinhos. Isso fica claro nos encontros pelo caminho. Independente do estilo de vida, as pessoas se relacionam, se comunicam, dependem e contam umas com as outras. E que essa é a base da liberdade feliz – ter elos, cuidar deles e deixar que eles cuidem de nós. O filme toca fundo quando se sabe que a história é real. McCandless deixou tudo registrado num diário, que virou livro pelas mãos de Jon Krakauer (de No Ar Rarefeito). Sean Penn (do espetacular Milk - A Voz da Igualdade) contou com a opoio da família McCandless para produzir o filme e consegue realmente mostrar a profundidade desse grande questionamento. DIRETOR: Sean Penn ROTEIRO: Sean Penn, Jon Krakauer ELENCO: Emile Hirsch, Willima Hurt, Marcia Gay Harden, Jena Malon, Catherine Keener | 2007 (148 min) ]]>
201 0 0 0 GARIMPO NA NETFLIX | Pensando em bons road movies, NA NATUREZA SELVAGEM, de Sean Penn, é um dos mais incríveis e transformadores]]> 21 0 0
GONZAGA - DE PAI PRA FILHO http://cinegarimpo.com.br/gonzaga-de-pai-para-filho/ Sun, 28 Oct 2012 13:31:21 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=14658 DIREÇÃO: Breno Silveira ROTEIRO: Patrícia Andrade ELENCO: Adelio Lima, Chambinho do Acordeon, Land Vieira, Julio Andrade, Giancarlo di Tomazzio, Alison Santos, Nanda Costa, Silvia Buarque, Luciano Quirino, Claudio Jaborandy, Cyria Coentro, Olivia Araújo, Zezé Motta, João Miguel Brasil, 2012 (120 min)
"E se eu chorar
E o sal molhar o meu sorriso
Não se espante
Cante
Que o teu canto é a minha força pra cantar"
- Sangrando, Gonzaguinha
"Se tem alguém que gosta de você nessa vida é esse menino, Luiz. Tudo que ele queria era ser seu amigo", diz Priscila, criada com Luiz Gonzaga desde a infância no sertão de Pernambuco e sua fiel escudeira a vida toda. Ela resume em poucas palavras a complexidade da relação entre o Rei do Baião, Luiza Gonzaga, e seu filho, Gonzaguinha. Foram poucos anos de convivência na vida e na música, antes de a morte chegar, para o pai em 1989 e em seguida para o filho, em 1991. Mas o que Breno Silveira fez, também como diretor de Dois Filhos de Francisco, foi contar como traçaram o seu destino, com muita sensibilidade e um olhar um tanto quanto intimista na relação entre pai e filho.
Confesso que pouco conhecia da vida familiar  de Luiz Gonzaga e Gonzaguinha. Sem fazer melodrama, mas dando a devida importância ao relacionamento entre pai e filho, ou ausência dele, às diferenças ideológicas e comportamentais e à sua música, Silveira acerta no tom e conta uma bela história. Sofrida, mas vivida. Com sorriso estampado no rosto, os três atores que interpretam Luiz Gonzaga dão vida ao personagem do rei do baião, que saiu de sua casa simples no sertão por causa de uma desilusão amorosa e penou muito até encontrar um ritmo na sanfona que fizesse a diferença. E o fazem com coragem e muita competência. Gonzaguinha cresce sem a mãe, que morre de tuberculose, e sem o pai, que está preocupado em fazer a carreira e ganhar dinheiro. De uma maneira atrapalhada e pouco habilidosa, Luiz Gonzaga constrói uma relação com o filho fundamentada na mágoa e no ressentimento. Gozaguinha faz carreira sem ficar na sombra do pai, o compositor de Asa Branca, trilhando um caminho diferente, mas vai se reconciliar lá na frente, quando a carreira do pai já está em decadência. Quando se encontram nessa fase, Gonzaguinha resolve entrevistar o pai. É através do momento da entrevista que o roteiro se desenrola.
Delicioso de ver na sua musicalidade, brasilidade e complexidade familiar. Figuras públicas, ícones da música e do legado brasileiro, Gonzaga - De Pai Para Filho deve ser visto, principalmente se você pouco sabe sobre esses personagens. Por um momento me esqueci de que Gonzaguinha já tinha morrido - e faz 21 anos. Tão presente é a sua imagem, tamanha a semelhança física do ator com o personagem e sua interpretação cuidadosa e talentosa. Agora fica selada em filme, a historia de pai para filho.
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SOMOS TÃO JOVENS, cinebiografia de Renato Russo http://cinegarimpo.com.br/somos-tao-jovens-cinebiografia-de-renato-russo/ Wed, 06 Mar 2013 18:12:09 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=16410 Somos Tão Jovens, de Antonio Carlos de Fontoura. O filme conta a trajetória de Renato Russo e mostra como foi a juventude do cantor e compositor que morreu jovem, aos 36 anos, mas deixou muita poesia em forma de música. Para quem quiser conhecer um pouco do som de Brasília daquela época, pode ter um gostinho como ótimo documentário Rock Brasília - Era de Ouro, de Vladimir Carvalho. Aí vai o trailer! ]]> 16410 0 0 0 SOMOS TÃO JOVENS http://cinegarimpo.com.br/somos-tao-jovens/ Fri, 03 May 2013 00:14:18 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=17019 somos tão jovens 2DIREÇÃO: Antonio Carlos da Fontoura ROTEIRO: Marcos Bernstein ELENCO: Thiago Mendonça, Bianca Comparato, Conrado Godoy, Nicolau Villa Lobos, Laila Zaid, Bruno Torres, Daniel Passi, Sandra Corveloni, Marcos Breda Brasil, 2013     Contar um pouco da vida de gente famosa sempre deixa no ar a dúvida sobre a veracidade das informações, gestos, personagens. Somos Tão Jovens é uma obra de ficção, baseada em fatos reais e em personagens que realmente existiram, com algumas licenças poéticas permitidas pelo diretor Antonio Carlos da Fontoura. E ainda mais, o filme é apenas um recorte - e por isso não menos importante - da vida de Renato Manfredini Jr., que de adolescente nerd, deslocado e esquisito, encontra seu lugar ao sol e no rock e desponta com o poeta, músico e líder da Legião Urbana, quando a banda explode no Rio de Janeiro, em 1982. Se a ideia for conhecer mais a fundo e ver depoimentos reais da turma de músicos do fim dos anos 1970 e início dos anos 80 em Brasília e entender como funcionava a dinâmica desses jovens de classe média alta, que não tinham o que fazer naquela cidade provinciana e por isso resolveram fazer rock, vale assistir ao documentário Rock Brasília - Era de Ouro, de Vladimir Carvalho. Este sim traz os depoimentos e vivências propriamente ditos para a tela e, com certeza, merece ser visto, principalmente para quem viveu aqueles anos, se viu no meio do turbilhão de bandas surgindo e nunca parou para se perguntar de onde vinha tudo isso. Dito isso, aceitemos a licença poética. Ela é benéfica, compõe o todo e faz parte do cinema. Como disse o diretor em entrevista coletiva (ler mais detalhes no post Somos Tão Jovens é um Filme de Turma), "Dado e Bonfá estão aqui para não me deixar mentir". E de fato, os parceiros de Renato Russo na banda Legião Urbana referendam o que viram e acham, sim, que Renato iria gostar. Vale dizer que há duas mulheres marcantes no filme. Uma delas é real, a Carmem Teresa (muito bem representada por Bianca Comparato), irmã de Renato, figura extremamente presente na produção do filme e na vida do cantor; a outra é fictícia, a Aninha (também marcante na atriz Laila Zaid), uma criação do diretor que buscava sintetizar todas as meninas da vida de Renato numa só. Para você ver que aqui não importa muito essa coisa de ficção e realidade (desde que bem equilibrada), a cena em que Thiago Mendonça interpreta a canção Ainda é Cedo para Aninha é uma das mais bonitas do filme. "Queria que ela fosse a menina que ensinou a ele tudo aquilo que sabia", confessa Fontoura. Real ou não, a figura de Aninha amarra muito bem essa questão fundamental da adolescência irriquieta de Renato, que foi fundamental para que sua veia criativa e incansável deixasse o legado que deixou. Não ter zona de conforto gera conflito, criação, música, contestação, poesia. O tom encontrado por Fontoura vai no sentido de desvendar o mito, mas não no sentido de endeusá-lo. Com todas as suas questões, dificuldades de relacionamento, língua afiada e domínio completo do verbo e da palavra escrita, Renato cria canções incríveis, vive intensamente com integrantes de outras bandas de Brasília como Plebe Rude e Capital Inicial e é muito bem representado por Thiago Mendonça em toda a sua rebeldia. Na sua busca pela sexualidade, na sua incompreensão de como a sociedade funciona, de como as relações familiares se dão. Na sua dúvida constante: "será só imaginação?/ será que nada vai acontecer?/ será tudo isso em vão?/ será que vamos conseguir vencer?" Assista e cante muito. Assim como outros filmes interessantes sobre nomes importantes da música brasileira como Gonzaga - De Pai pra Filho e Cazuza, Somos Tão Jovens é, acima de tudo, um tributo bonito ao cantor que morreu tão jovem. E mais: como disse o próprio ator Thiago Mendonça, se o filme servir para sacudir o jovens e fazê-los largar o celular, já valeu. E se servir para lembrar e cantarolar Legião Urbana, ainda mais. Se bem que, nesse caso, não se trata de recordar. Todo mundo lembra da Legião.   ]]> 17019 0 0 0 FLORES RARAS http://cinegarimpo.com.br/flores-raras/ Thu, 15 Aug 2013 02:12:09 +0000 http://cinegarimpo.com.br/cms/?p=18005 Flores Raras conta essencialmente a história do longo romance entre a poetisa norte-americana Elisabeth Bishop (Miranda Otto) e a arquiteta autodidata carioca Lota de Macedo Soares (Gloria Pires). Para o diretor Bruno Barreto, esse foi só o pano de fundo para falar de algo mais profundo, presente nos poemas de Bishop. “O fato de Bishop ter vindo ao Brasil na época não era o suficiente para fazer um filme”, explica ele em entrevista coletiva. “O que permeava toda a relação era o sentimento de perda: quando a vencedora vai ficando cada vez mais fraca, porque não sabe lidar com perdas, e a alcoólatra mal ou bem vai ficando mais forte, porque aprendeu a conviver com elas, eu tinha uma boa história para contar.” É verdade. No começo, vemos uma Bishop perdida, que decide passar uma temporada no Brasil para espairecer e procurar inspiração; encontra Lota no Rio, determinada, empreendedora e absolutamente dona da situação. A relação entre as duas se equilibra, ambas atingem o ápice (Bishop ganha o Pulitzer; Lota constrói o Parque do Flamengo), mas a balança se inverte no final. A australiana Miranda Otto, que encarna Bishop de uma maneira muito natural, lembra que a volta da poetisa para os Estados Unidos significou o fim do seu romance com Lota e com o Brasil. “No discurso que Bishop faz antes de partir, ela diz que não entende como o Brasil pode ser tão generoso e tão indiferente ao mesmo tempo”, diz Miranda. Era época do golpe e ninguém protestou. Mesmo se fragilizando no final, Lota ainda é Gloria Pires, e portanto, uma forte e marcante presença na tela. Adoro seu trabalho no cinema. Em seu primeiro filme falando inglês, Gloria se sai bem, embora às vezes soe artificial – acho inevitável que isso aconteça, já que as emoções pedem sempre a língua mãe. Segundo ela, o desafio mesmo foi fazer o personagem homossexual, o primeiro da sua carreira. “É interessante o momento do filme, por causa da discussão sobre o casamento gay, a adoção de crianças por pessoas do mesmo sexo e tudo mais que está na mídia”, diz a atriz. De fato, o tema está em voga, mas nem por isso foi mais fácil conseguir patrocínio, conforme contou a produtora Paula Barreto. Eu diria que é mais bonito em Flores Raras é a reconstrução de uma época, no belíssimo figurino, na maravilhosa locação cercada de Mata Atlântica e em todos os detalhes de luz e arquitetura da cuidadosa produção. Com tudo isso muito caprichado, dá realmente vontade de ter vivido esse Rio de Janeiro.   DIREÇÃO: Bruno Barreto ROTEIRO: Matthew Chapman, Julie Sayres baseado em um roteiro de Carolina Kotscho ELENCO: Gloria Pires, Miranda Otto, Tracy Middendorf, Treat Williams, Marcello Airoldi, Lola Kirke | 2103 (118 min)    ]]> 18005 0 0 0 FLORES RARAS tem Gloria Pires no papel principal, com a forte presença de sempre]]> HANNAH ARENDT http://cinegarimpo.com.br/hannah-arendt-2/ Thu, 15 Aug 2013 18:32:21 +0000 http://cinegarimpo.com.br/cms/?p=18046 Hannah Arendt vale seu ingresso: se você já sabe quem é essa pensadora alemã, já tem noção da importância de suas ideias; se não conhece e se interessa minimamente pela história da humanidade e pela maneira com que ela é passada pelos historiadores e filósofos, não perca tempo. Eu não conhecia o trabalho da "pensadora da liberdade", como era chamada, e fiquei bastante impressionada com sua ousada maneira de pensar as relações entre holocausto, o nazismo e o povo judeu, sendo ela mesma uma refugiada da Segunda Guerra. Com a ascensão de Hitler na Alemanha em 1933, Hannah foge para a França, onde é presa no campo de concentração pelo governo colaboracionista de Vichy durante a guerra, até conseguir migrar para os Estados Unidos em 1941. Mas isso não passa no filme. O que a diretora Margarethe von Trotta faz é um recorte de um momento específico da vida profissional e pessoal de Hannah, que marca seu legado para sempre. Já com uma carreira acadêmica sólida e respeitada, Hannah Arendt se candidata a cobrir o julgamento do carrasco nazista Adolf Eichmann em 1963, capturado na América Latina e enviado para julgamento em Jerusalém. Hannah vai à Israel  e do seu relato Eichmann em Jerusalém, escrito para a revista The New Yorker, surgem as críticas ferozes ao seu modo de pensar. Aliás, o "pensar" é a pedra fundamental para Arendt - e aqui é que ela não se fez entender em muitos aspectos. Em sua obra, ela afirma que Eichmann não teria exterminado judeus por vontade própria, que apenas seguia ordens e cumpria a lei de Hitler e que, portanto, era um ser medíocre, incapaz de pensar e tomar a próprias decisões. Ao rotular o nazista, responsável pela arquitetura da chamada Solução Final, de "homem comum", Hannah causa revolta na comunidade judaica do mundo todo. Ainda mais quando sugere que líderes judeus teriam sido cúmplices dos nazistas. Não poderia haver hora mais imprópria para publicar tais opiniões. Israel era um país novo, os sobreviventes tratavam de refazer suas vidas, os horrores da guerra eram realidade viva. Nem acho que cabe aqui esse julgamento - deixo isso para filósofos, cada um com seu ponto de vista. O que me interessou profundamente no filme é a construção do pensamento. Sem negar o sofrimento do povo judeu, as barbaridades do holocausto, Hannah Arendt atenta para a necessidade de analisar os fatos friamente e tentar entender por que algumas pessoas são omissas, indiferentes e banais, a ponto de influenciarem definitivamente a história da humanidade como a conhecemos. Segundo Hannah, o exercício que havia feito a partir do julgamento de Eichmann era uma tentativa de compreender esse triste episódio da vida dos judeus, e que isso não era, de forma alguma, a mesma coisa que perdoar. Difícil separação essa, do raciocínio e da dor. Mas genial na ousadia e coragem.   DIREÇÃO: Margarethe von Trotta ROTEIRO: Pam Katz, Margarethe von Trotta ELENCO: Barbara Sukowa, Axel Milberg, Janet McTeer, Julia Jentsch, Ulrich Noethen, Michael Degen | 2012 (113 min)   ]]> 18046 0 0 0 HANNAH ARENDT]]> SOMOS TÃO JOVENS http://cinegarimpo.com.br/somos-tao-jovens-2/ Thu, 22 Aug 2013 23:33:29 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=18186 Somos Tão Jovens é uma obra de ficção, baseada em fatos reais e em personagens que realmente existiram, com algumas licenças poéticas permitidas pelo diretor Antonio Carlos da Fontoura. E ainda mais, o filme é apenas um recorte - e por isso não menos importante - da vida de Renato Manfredini Jr., que de adolescente nerd, deslocado e esquisito, encontra seu lugar ao sol e no rock e desponta com o poeta, músico e líder da Legião Urbana, quando a banda explode no Rio de Janeiro, em 1982. Se a ideia for conhecer mais a fundo e ver depoimentos reais da turma de músicos do fim dos anos 1970 e início dos anos 80 em Brasília e entender como funcionava a dinâmica desses jovens de classe média alta, que não tinham o que fazer naquela cidade provinciana e por isso resolveram fazer rock, vale assistir ao documentário Rock Brasília - Era de Ouro, de Vladimir Carvalho. Este sim traz os depoimentos e vivências propriamente ditos para a tela e, com certeza, merece ser visto, principalmente para quem viveu aqueles anos, se viu no meio do turbilhão de bandas surgindo e nunca parou para se perguntar de onde vinha tudo isso. Dito isso, aceitemos a licença poética. Ela é benéfica, compõe o todo e faz parte do cinema. Como disse o diretor em entrevista coletiva (ler mais detalhes no post Somos Tão Jovens é um Filme de Turma), "Dado e Bonfá estão aqui para não me deixar mentir". E de fato, os parceiros de Renato Russo na banda Legião Urbana referendam o que viram e acham, sim, que Renato iria gostar. Vale dizer que há duas mulheres marcantes no filme. Uma delas é real, a Carmem Teresa (muito bem representada por Bianca Comparato), irmã de Renato, figura extremamente presente na produção do filme e na vida do cantor; a outra é fictícia, a Aninha (também marcante na atriz Laila Zaid), uma criação do diretor que buscava sintetizar todas as meninas da vida de Renato numa só. Para você ver que aqui não importa muito essa coisa de ficção e realidade (desde que bem equilibrada), a cena em que Thiago Mendonça interpreta a canção Ainda é Cedo para Aninha é uma das mais bonitas do filme. "Queria que ela fosse a menina que ensinou a ele tudo aquilo que sabia", confessa Fontoura. Real ou não, a figura de Aninha amarra muito bem essa questão fundamental da adolescência irriquieta de Renato, que foi fundamental para que sua veia criativa e incansável deixasse o legado que deixou. Não ter zona de conforto gera conflito, criação, música, contestação, poesia. O tom encontrado por Fontoura vai no sentido de desvendar o mito, mas não no sentido de endeusá-lo. Com todas as suas questões, dificuldades de relacionamento, língua afiada e domínio completo do verbo e da palavra escrita, Renato cria canções incríveis, vive intensamente com integrantes de outras bandas de Brasília como Plebe Rude e Capital Inicial e é muito bem representado por Thiago Mendonça em toda a sua rebeldia. Na sua busca pela sexualidade, na sua incompreensão de como a sociedade funciona, de como as relações familiares se dão. Na sua dúvida constante: "será só imaginação?/ será que nada vai acontecer?/ será tudo isso em vão?/ será que vamos conseguir vencer?" Assista e cante muito. Assim como outros filmes interessantes sobre nomes importantes da música brasileira como Gonzaga - De Pai pra Filho e Cazuza, Somos Tão Jovens é, acima de tudo, um tributo bonito ao cantor que morreu tão jovem. E mais: como disse o próprio ator Thiago Mendonça, se o filme servir para sacudir o jovens e fazê-los largar o celular, já valeu. E se servir para lembrar e cantarolar Legião Urbana, ainda mais. Se bem que, nesse caso, não se trata de recordar. Todo mundo lembra da Legião.   DIREÇÃO: Antonio Carlos da Fontoura ROTEIRO: Marcos Bernstein  ELENCO: Thiago Mendonça, Bianca Comparato, Conrado Godoy, Nicolau Villa Lobos, Laila Zaid, Bruno Torres, Daniel Passi, Sandra Corveloni, Marcos Breda | 2013 (     ]]> 18186 0 0 0 SOMOS TÃO JOVENS conta a história da banda Legião Urbana e tantas outras do Planalto Central]]> JOBS http://cinegarimpo.com.br/jobs-2/ Fri, 06 Sep 2013 00:23:24 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=18298
Tem algumas histórias que são espetaculares por si só. O que Steve Jobs construiu e a maneira com que transformou a relação das pessoas com o entretenimento, com o trabalho e com a imagem é genial. Sem precedentes. Portanto, qualquer diretor que ousasse contar essa historia no cinema já teria uma missão dificílima pela frente: não poderia ser menos do que espetacular. Senão, o personagem de Steve Jobs não chegaria nem aos pés do visionário da Apple. E aí tudo ficaria morno, cronológico, óbvio. Seria a antítese de Jobs, igual a todos.
Infelizmente é isso que acontece com a leitura de Joshua Michael Stern. O filme é cronológico, a não ser pela primeira cena em que Jobs apresenta o dispositivo que revolucionaria o mundo da música, o iPod. Depois compõe a trajetória do garoto sonhador, que achava que a educação formal o levaria ao lugar comum, ao lugar esperado. Que acreditava que para chegar ao inédito, inusitado, transformador, precisaria ousar, criar uma tecnologia nova, que pudesse ser usado por qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo. Algo que fizesse parte da vida de cada um, que todos pudessem personalizar, algo para "chamar de seu". Steve queria ser único e seu legado dispensa apresentações. Olhe à sua volta e diga se não há, aí bem perto de você, um Apple fazendo a diferença. Eu escrevo em um iPad neste momento, dentro do carro, enquanto espero o horário deus compromisso. Jobs mudou tudo. De maneira espetacular. O que quero dizer é que  isso não aparece no filme com a importância, a emoção, o entusiasmo e a magia que representa. Se vale o ingresso? Vale, é gostoso de ver, mas já que estamos falando de gurus da era digital, eu diria, sem medo de errar, que A Rede Social, de David Fincher, que conta a historiando criador do Facebook, é mais emocioante e vigoroso. Jobs é correto, conta a história, mas não representa o genioso e genial idealizador da Apple Computers. O lado bom é que, no caso de sujeitos como ele, espetaculares, sempre haverá campo de trabalho para roteiristas e diretores ávidos por uma boa história. Pode ser até que não aconteça, mas não será por falta do que falar.
DIREÇÃO: Joshua Michael Stern  ROTEIRO:  Matt Whiteley ELENCO: Ashton Kutcher, Dermot Mulroney, Josh Gad, Lucas Haas, Matthew Modine | 2013 (128 min)
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18298 0 0 0 JOBS dispensa apresentações - é só olhar para o seu lado agora e ver se não há um Apple fazendo a diferença. Mas para alguém tão genial, esperava um filme espetacular]]>
RUSH - NO LIMITE DA EMOÇÃO - Rush http://cinegarimpo.com.br/rush-no-limite-da-emocao/ Thu, 12 Sep 2013 22:13:32 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=18300
Mesmo se voce não gosta de automobilismo, nem ao menos de Fórmula 1, Rush é uma produção que prende, porque tem dramaticidade. Com isso quero dizer que, o fato de a história ser boa por si só não garante que o filme seja emocionante, claro. No caso de Rush, a expectativa se confirma e a eletrizante história do piloto austríaco Niki Lauda ganha o tamanho da sua ousadia e coragem.
O que conta muito aqui é a seriedade do elenco. Lauda é representado pelo ator alemão Daniel Brühl (também em Adeus, Lênin!, Bastardos Inglórios, E Se Vivêssemos Todos Juntos?, Salvador), desde o começo da carreira. O foco é a sua rivalidade com Jamed Hunt (Chris Hemsworth), oposto em temperamento, páreo duro nas pistas. Por serem polos opostos - Hunt era mulherengo, desorganizado, impulsivo; Lauda era metódico, pragmático e determinado - a rixa é absurda e leva a vida dos dois realmente às últimas consequências.
Tudo com muita emoção, como diz o subtítulo. No limite. A ação das corridas e a explosão humana dos pilotos é intensa e tem um equilíbrio que realmente não deixa você sair do filme. Eu me lembro bem do rosto queimado de Niki Lauda quando acompanhava as corridas na infância, mas confesso que não conhecia essa história toda. Quem é fã de Fórmula 1 deve saber, mas mesmo se você não fizer parte desse grupo, Rush é uma grata surpresa porque foca no homem, e não na corrida em si. Mas é verdade que na pista, em plenos anos 70, fica tudo muito mais bacana.
DIREÇÃO: Ron Howard ROTEIRO: Pete Morgan ELENCO: Daniel Brühl, Chris Hemsworth, Olivia Wilde | 2013 (123 min)
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18300 0 0 0 RUSH - NO LIMITE DA EMOÇÃO, que foca na competicão humana entre Niki Lauda e James Hunt nos anos 70 ]]>
JACK NICHOLSON FORA DA TELONA? http://cinegarimpo.com.br/jack-nicholson-fora-da-telona/ Thu, 05 Sep 2013 17:39:29 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=18309 Hoffa - Um Homem, Uma Lenda e Ironweed, que precisam ser revistos. Mas há filmes memoráveis já publicados no Cine Garimpo, que valem ser revisitados, em grande parte pelo talento coringa (e isso não é um trocadilho com seu papel em Batman): consegue ser aterrorizante em O Iluminado, engraçado em Melhor é Impossível e romântico-atrapalhado em Alguém tem que Ceder e Laços de Ternura. Antes de Partir também rende boas gargalhadas e aqui a amizade é que é prestigiada. E não poderia faltar Um Estranho no Ninho, em que Nicholson tem uma atuação espetacular. Filmes que valem ser revistos.]]> 18309 0 0 0 ALGUÉM TEM QUE CEDER. Uma comédia romântica divertidíssima, das boas que existem por aí.]]> JACK NICHOLSON vai parar de fazer cinema. Será? Veja os filmes com o ator que valem ser revisitados e indicados ]]> PINA http://cinegarimpo.com.br/pina-2/ Mon, 21 Oct 2013 23:14:20 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=18664 Pina poderia me descolar da dureza, da crueldade e da insensatez do asfalto. Somente a linguagem do corpo, do olhar, das mãos (!) já na cena de abertura do filme foram capazes de me fazer abstrair tamanha falta de sensibilidade e flutuar por outras esferas. Com essa licença bem particular e autoral, introduzo este documentário sobre a coreoógrafa e bailarina alemã Pina Baush. Quase uma licença poética, que marcou a sensação completamente oposta do cru e do sublime. Pina não conta uma história, não tem propriamente um enredo. Prescinde de palavras e depoimentos e é essencialmente formado de peças encenadas, maravilhosamente expressadas pelos bailarinos de sua companhia de dança, que a acompanharam na sua trajetória, de diversos lugares do mundo, inclusive do Brasil. A intensidade dos movimentos impressiona, a força da interpretação essencialmente de sentimentos humanos como a alegria, o medo, o amor, a dor, a raiva, a separação, a compaixão. A total interação com o meio, a sensação de fazer questão de pertencer, de marcar presença, de sentir o lugar, a dança, o corpo e a mente e transmitir. Porque transmite, o tempo todo, ainda mais com o recurso do 3D, Pina realmente me fez dançar junto. Num dia em que meus pés estavam cravados no chão, na realidade nua a crua. O recurso tridimensional faz com que o movimento não só se apresente, mas ele penetra, tem volume, preenche a tela tanto quanto a trilha sonora. Sem exageros, apenas complementar. O que se vê é uma ode ao que temos de mais precioso, a capacidade de expressão, onde represamos todos os nossos sentimentos, não-sentimentos, negações, afirmações. Da maneira com que Pina concebeu as peças apresentadas, esse repertório vem verdadeiramente à tona, extravasa, transborda. Antes de morrer, ela já havia passado com o diretor Wim Wanders o conteúdo do documentário. Mas a obra é póstuma e espetacular. Claro que quem não aprecia minimamente a dança, vai se cansar. Mas o que eu fico realmente imaginando é o que esse registro representa para quem realmente vive e pratica a dança. Para quem simplesmente vive, já é uma preciosidade.   DIREÇÃOROTEIRO: Wim Wenders | ELENCO: Pina Bausch, Regina Advento, Malou Airaudo | 2011 (103 min)   ]]> 18664 0 0 0 PINA: o documentário da coreógrafa e bailarina alemã Pina Bausch, primorosamente feita pelo diretor conterrâneo Wim Wenders]]> 12 ANOS DE ESCRAVIDÃO - 12 Years a Slave http://cinegarimpo.com.br/12-anos-de-escravidao/ Mon, 24 Feb 2014 21:15:27 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=19099 12 Anos de Escravidão deve levar a estatueta de melhor filme no Oscar no dia 02 de março. É a minha aposta. Já levou o Globo de Ouro e o Bafta, prêmio da academia inglesa e, de todos, é o que tem o maior apelo emocional. Já ouvi de algumas pessoas que Trapaça é um pouco cansativo; que O Lobo de Wall Street enaltece o mundo do dinheiro e é apelativo; que Gravidade não agrada a gregos e troianos. E que os outros não têm chance de ganhar, são filmes de nicho, bons mas não tão completos como aquele que toca na ferida americana - e, por que não, global? 12 Anos de Escravidão conta a história verídica de Solomon Northup, um negro livre de Nova York, que foi trapaceado e vendido como escravo a fazendeiros sulistas em 1841. Além de ser muito bem produzido, tem um apelo emocional forte e uma revisão de valores implacável. Ninguém sai ileso. Northup escreve sua biografia e é com base nela que o diretor Steve McQueen dirige este filme. Salomon é vítima, claro, de um sistema cruel e desumano. Tenta sobreviver a todo custo, manter sua sanidade mental e física, buscar uma saída, provar que é de fato um homem livre. McQueen (também do fortíssimo Shame) coloca toda a frieza dos senhores de escravos na tela, mas sem criar um drama a parte. A história é como ela é, nada pode ser feito para mudar. A sensação que se tem é de mea culpa, de que ele nos faz engolir a amarga realidade de ser conivente com uma sociedade (como a nossa inclusive), cheia de injustiças e desigualdades. É um tapa na cara, sem luva de pelica. Fiquei sem ar, não dá pra respirar. E que, seja lá o que consigamos no futuro, nunca será suficiente. Mas nada disso seria tão arrebatador se o elenco não estivesse na exata medida do drama. Chiwetel Ejiofor merece ser aplaudido de pé e é forte concorrente ao Oscar. Os senhores de olhares e chicotes implacáveis são fortes na figura de Michael Fassbender e Benedict Cumbaerbatch. Brad Pitt faz uma ponta rápida, mas que muda o ruma das coisas. E a escrava Lupita Nuong'o é o desespero no que sobrou de uma pessoa, também indicada ao Oscar. Portanto, time completo. Sem falar que o filme causou controvérsias mundo afora, pela tamanha violência retratada. Steve McQueen é negro e pode ser o primeiro a levar o Oscar de direção. Mas é inglês. Por que é que nenhum diretor americano fez um filme desta envergadura sobre essa dívida americana?   DIREÇÃO: Steve McQueen ROTEIRO: John Ridley, Solomon Northup ELENCO: Chiwetel Ejiofor, Michael K Williams, Michael Fassbender, Benedict Cumberbatch, Quverzhané Wallis, Lupita Nyong'o, Brad Pitt | 2014 (134 min) ]]> 19099 0 0 0 12 ANOS DE ESCRAVIDÃO, é um tapa sem luva de pelica - fala com todas as sociedades que cultivam injustiças e desigualdades]]> CLUBE DE COMPRAS DALLAS - Dallas Buyers Club http://cinegarimpo.com.br/clube-de-compras-dallas/ Fri, 21 Feb 2014 13:01:36 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=19314 O Lobo de Wall Street. Mas o drama vivido por Ron Woodroof em Clube de Compras Dallas é mais intenso, tem um tom humano, sem sátiras ou ironias. É a vida como ela é, na seara dos marginalizados, dos que sofrem preconceito, dos que remam contra a corrente. Apesar de o trabalho dos outros concorrentes (Christian Bale, em Trapaça, Bruce Dern, em Nebraska, Chiwetel Ejiofor em 12 Anos de Escravidão) ser também excelente, alguns filmes tocam mais fundo. E isso depende de muita coisa além do talento do ator: depende do estado de espírito de quem assiste, do tema e do impacto do filme. E nesse quisito, se Matthew McConaughey tem concorrente, ele se chama Chiwetel Ejiofor, que também causa tremendo impacto. O difícil papel de McConaughey faz lembrar Tom Hanks em Filadélfia, que também levanta a questão da AIDS, a recém descoberta doença nos anos 1980, de uma forma emocionante - revi recentemente, vale a pena. Ron Woodroof é um eletricista, caubói nas horas vagas, em Dallas. Leva uma vida promíscua e desregrada, até descobrir que tem AIDS. Em 1985, a medicação do AZT ainda estava em teste e não há muito o que fazer para prolongar a vida de Ron. Mas determinado a ajudar as pessoas também contaminadas e inconformado com o prognóstico de que teria somente 30 dias de vida, começa a contrabandear uma droga do México que ajuda no tratamento. Funda o chamado Clube de Compras Dallas, em que os membros soropositivos pagam uma mensalidade para receber a medicação, que de fato melhora um pouco a qualidade de vida. Parece que vemos na tela pessoas reais e não atores. Além do excelente protagonista, o ator Jared Leto está ótimo e também concorre à estatueta como ator coadjuvante. A história é verdadeira, daquelas de inacreditável virada de mesa e força de vontade de viver. Além, é claro, de frisar bem a questão transformadora. Homofóbico e intolerante, Ron se transforma em uma pessoa melhor, deixa cair por terra o preconceito e modifica também aqueles que acreditam na sua causa e que o acompanham até o final.   DIREÇÃO: Jean-Marc VAllée ROTEIRO: Craig Borten, Melisa Wallack ELENCO: Matthew McConaughey, Jennifer Garner, Jared Leto| 2013 (117 min)  ]]> 19314 0 0 0 CLUBE DE COMPRAS DALLAS: é transformador, humano e se mistura à realidade daqueles anos 1980]]> FILADÉLFIA - Philadelphia http://cinegarimpo.com.br/filadelfia-philadelphia/ Thu, 20 Feb 2014 18:50:12 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=19342 Filadélfia é essencialmente o tribunal, a questão do preconceito contra o brilhante advogado Andrew Beckett (Tom Hanks, também em Forrest GumpSintonia de Amor, Tão Forte e Tão PertoCapitão Phillips). Vale dizer que estamos no começo dos anos 90, quando milhares de casos apareciam no mundo todo, causando pânico nos grupos de risco e na sociedade em geral. Lembro de o filme chocar na época pela objetividade com que trata o assunto, que acaba por englobar não só o preconceito contra os portadores do HIV, como também contra homossexuais, afroamericanos, negros e outras minorias. Tom Hanks ganha o Oscar de melhor ator, mas conta com um parceiro à altura. Denzel Washington (também em O Livro de Eli) é seu advogado e com clareza pontua a manipulação, o interesse econômico e os direitos iguais de uma pessoa, independente de orientação sexual, comportamento ou raça. Vale rever, principalmente agora que entra em cartaz o ótimo Clube de Compras Dallas, também sobre o tema. O assunto do preconceito ronda nosso dia a dia de maneira inclemente. E tem mais: a música Streets of Philadelphia, de Bruce Springsteen, é linda e levou o Oscar de melhor canção.   DIREÇÃO: Jonathan Demme ROTEIRO: Ron Nyswaner ELENCO: Tom Hanks, Denzel Washington, Roberta Maxwell, Karen Finley, Mark Sorensen Jr. | 1993 (125 min) ]]> 19342 0 0 0 CLUBE DE COMPRA DALLAS (em cartaz) faz lembrar o ótimo FILADÉLFIA, de 1993, com Tom Hanks, sobre o mesmo tema: a chegada da AIDS]]> POR QUE VOCÊ PARTIU? http://cinegarimpo.com.br/por-que-voce-partiu/ Tue, 11 Mar 2014 00:34:27 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=19447 Por Que Você Partiu? na prateleira dos filmes despretensiosos, que te conquistam por algum motivo. Acho que vai tecendo uma rede emotiva forte. Os chefs contam por que saíram do país, os problemas que enfrentaram no Brasil, sucessos e dessabores, regados com muita coisa saborosa da gastronomia francesa. Fez lembrar o delicioso - bem brasileiro -  O Mineiro e o Queijo, que também entra na seara emotiva, da tradição familiar e, no meu caso, da lembrança do sabor de infância. Filmes com sabor – esse seria o lugar. Sem ser excepcional – e há coisas que são especiais exatamente por isso – esta produção é descontraída e nos convida a brindar. Assim como fazem os chefs franceses amigos em terras tupiniquins.   DIREÇÃO: Eric Belhassen ROTEIRO: Eric Belhassen, Marc Belhassen | 2013 (94 min)      ]]> 19447 0 0 0 POR QUE VOCÊ PARTIU? contra os sabores e dessabores dos chefs franceses que fizeram carreira no Brasil, como Laurent Suaudeau (foto)]]> FRUITVALE STATION - A ÚLTIMA PARADA - Fruitvale Station http://cinegarimpo.com.br/fruitvale-station/ Thu, 03 Apr 2014 01:08:57 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=19574 Jean Charles. A história é muito parecida: um sujeito é injustamente morto no metrô, sem que ao menos tivesse direito a defesa. Assassinato a sangue frio. Por policiais. A cena é filmada por alguns dos usuários do metrô, o que não deixa dúvida sobre a culpa da polícia. O brasileiro foi confundido com um terrorista, que estava sendo procurado em Londres. O americano não. Foi agredido no metrô na noite de ano novo, por ex-colegas de prisão. Sim, havia passado uma temporada preso anteriormente, mas estava decidido a mudar de vida, firmar-se num emprego e cuidar da família. Leva uma surra, a polícia de Oakland, Califórnia, é acionada, a turma encurralada na estação de metrô Fruitvale. Todos negros, sob a pistola de policiais brancos. Confusão, protestos  de que não tinham culpa de nada e um tiro. Atinge Oscar Grant III. 22 anos, pai de uma menina de quatro. Ele não resiste, morre no hospital. Embora de dimensões semelhantes, Fruitvale Station - A Última Parada é um filme superior, sem dúvida. Michael B. Jordan como Oscar e Octavia Spencer, na pela de sua mãe, conseguem transmitir a intensidade do drama que deve ter sido aquela madrugada - e os anos anteriores a ela, em que o rapaz tentava reconstruir a vida. O lance do preconceito versus a simplicidade de Oscar e sua genuína gentileza é cruel e se torna ainda mais dramático à medida que sabemos que isso é a pura verdade. Frutivale Station foi premiado no Sundance Festival e exibido na categoria de Cannes que eu gosto mais, Um Certo Olhar (Un Certain Regard). E tem mesmo, um olhar dramático, humano, sensível, amoroso e  realista, mostrando como a mente perversa e conturbada das pessoas funciona. E o tamanho do abismo social que existe.   DIREÇÃO e ROTEIRO: Ryan Coogler ELENCO: Michael B. Jordan, Melonie Diaz, Octavia Spencer| 2013 (85 min)  
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19574 0 0 0 FRUTIVALE STATION - A ÚLTIMA PARADA é o ponto final para Oscar, assassinado a sangue frio no metrô da Califórnia em 2009; ótimo registro de uma tragédia social]]>
CÁSSIA ELLER http://cinegarimpo.com.br/cassia-eller/ Thu, 29 Jan 2015 18:43:42 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=21098 Tim Maia – Não Há Nada Igual), Renato Russo (Somos Tão Jovens e Faroeste Caboclo), Gonzaga e Gonzaguinha (Gonzaga – De Pai pra Filho), Raul Seixas (Raul – O Início, o Fim e o Meio) e Cazuza. Agora, Cássia Eller. Em toda a sua intensidade. Com sua voz inconfundível e a capacidade única de interpretar canções e se transformar no palco, Cássia é descrita pelos amigos, familiares e por ela mesma como tímida. São inúmeros os depoimentos, com destaque para os amigos Nando Reis e Zélia Duncan. Além de repassar inúmeras e lindas canções, o documentário traz bastante a questão da gravidez de Cássia e da luta pela guarda de seu filho Francisco por Maria Eugênia Vieira Martins, companheira de Cássia por 14 anos – que foi uma decisão inédita da justiça brasileira. Cássia morreu jovem, aos 39, no auge da carreira, em 2001. E justamente no ano em que se consagrava como grande talento da música brasileira com seu acústico da MTV e sua participação no Rock in Rio. Com muito material inédito, Fontenelle consegue mostrar a Cássia artista e criadora, mas também mostra seu lado pessoal mais íntimo, suas amizades e escolhas. O laudo do IML diz que a cantora morreu de ataque cardíaco. Se foi por uso de drogas e álcool não interessa mais à essa altura do campeonato. Nada vai conseguir mudar o que ficou, como diz seu grande sucesso “Por Enquanto”. Sua obra está aí e vale seu ingresso pra ouvir suas músicas na telona.   DIREÇÃO e ROTEIRO: Paulo Henrique Fontenelle ELENCO: Cássia Eller, Nando Reis, Zélia Duncan, Luiz Melodia, Milton Nascimento, Francisco Eller | 2015 (120 min)   ]]> 21098 0 0 0 CÁSSIA ELLER é bom: é ótimo, não percam!]]> RAÇA - Race http://cinegarimpo.com.br/raca/ Thu, 23 Jun 2016 21:29:03 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=23586 Quando o título é certeiro, ele transcende o filme. Raça tem dois sentidos e ambos têm tudo a ver com o filme. Raça negra, porque se trata da história do atleta americano Jesse Owens, que desafiou a lógica nazista racista nas Olimpíadas de 1936, na Alemanha; e é fato que ele teve muita raça pra enfrentar o comitê olímpico dos Estados Unidos e para entrar na pista e competir.

A gente bem que está precisando de histórias de superação. Raça é emocionante porque desafia. A história de Jesse Owens não é muito diferente das outras que a gente vê por aí: improváveis campeões, que tiveram que lugar contra situações adversas, falta de dinheiro, de oportunidade e de estrutura pra treinar, na América da Grande Depressão. Mas não falta de coragem. Owens era pobre, lutou para estudar, entrou na universidade, conseguiu um bom emprego - o que já era um feito e tanto - mas largou tudo para seguir o sonho de ser um atleta olímpico. Caiu em boas mãos e agarrou com todas as forças a oportunidade. Raça lida com a questão da luta por um ideal e por um sonho. Parece utópico, mas quem não acredita não anda. É luta contra tudo e todos - inclusive contra os nazistas, que fizeram daquela Olimpíada o cartão de visitas do regime da supremacia ariana e tiveram que engolir um negro como campeão de atletismo. Cara raçudo!   DIREÇÃO: Stephen Hopkins ROTEIRO: Joe Shrapnel, Anna Waterhouse ELENCO: Stephan James, Jason Sudeikis, Eli Gorre, Jeremy Irons, William Hurt, Shanice Banton | 2016 (136 min) ]]>
23586 0 0 0 RAÇA: Jesse Owens foi campeão ao enfrentar, nas pistas de atletismo, os nazistas racistas nas Olimpíadas de 1936, na Alemanha]]>
FLORENCE - QUEM É ESSA MULHER? - Florence Foster Jenkins http://cinegarimpo.com.br/florence-quem-e-essa-mulher-florence-foster-jenkins/ Thu, 07 Jul 2016 15:55:33 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=23597 Caminhos da Floresta, a mãe amarga em Álbum de Família, Margaret Thatcher em A Dama de Ferro, a cozinheira de mão cheia Julia Child em Julie & Julia, a freira sisuda em Dúvida, a chefe implacável em O Diabo Veste Prada, uma guitarrista em Ricki and the Flash e tantas outras mulheres em Pontes de Madison, As Horas, Kramer X Kramer. Genuína camaleoa. Agora ela é uma cantora lírica norte-americana Florence Foster Jenkins, que herdou uma fortuna do pai, sonhava em ser cantora, mas era muito desafinada. Com ajuda do seu marido e empresário (Hugh Grant), consegue encontrar um lugar ao sol no show bizz dos anos 40, organiza audiências em sua casa e até contrata um professor para se aprimorar e apresentar-se no Carnegie Hall. A história é real e Florence se tornou um fenômeno – literalmente. Além de um figurino lindo e do elenco afinado – este sim! – Florence faz um retrato do comportamento da sociedade da época, mas que é, na realidade, atemporal. O público acolhe Florence, mesmo sabendo que ela cantava mal; o professor aceita seu generoso dinheiro, mesmo sabendo que a aluna não vai pra frente; o marido se beneficia dos luxos e mantém uma vida paralela. Cada um dança conforme a música e se nutre de ilusões para se encaixar na sociedade a qual deseja pertencer. Assim é. E Florence é, também, divertido – o que faz, sem dúvida, o programa valer o seu ingresso.   DIREÇÃO: Stephen Frears ROTEIRO: Nicholas Martin ELENCO: Meryl Streep, Hogh Grant, Rebecca Ferguson, Simon Helberg| 2016 (110 min)  ]]> 23597 0 0 0 FLORENCE - QUEM É ESSA MULHER?: até cantar mal Meryl Streep faz bem]]> JANIS: LITTLE GIRL BLUE http://cinegarimpo.com.br/janis-little-girl-blue/ Sat, 31 Dec 2016 20:09:01 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=24103 Amy, JANIS: LITTLE GIRL BLUE consegue traduzir toda a intensidade da menina que sofreu bullying na adolescência, procurou loucamente um lugar ao sol, cantava com a alma e transmitia uma solidão no olhar. Janis morreu de overdose em 1970, depois de muitos amores, depois do sucesso, mas antes de fazer as pazes consigo mesma. Pelo documentário – emocionante, por sinal – a impressão que se tem é de uma tristeza constante. Álcool pra esquecer; heroína pra conseguir ser ele mesma, depois de descer do palco. Tem gente que não cabe dentro de si mesma. Que não administra o talento de ser ela mesma, de quebrar regras, de ir contra a corrente. Janis foi ícone da contracultura nos anos 1960, deu o que falar, tinha um vozeirão. Letras lindas, mas sempre repletas de melancolia, de amores não correspondidos, de uma vida sempre incompleta. Uma tristeza essa realidade que tanta gente vive; uma pena esses talentos tão jovens que vão embora. Vida em fuga, parece assim.]]> 24103 0 0 0 JANIS: LITTLE BLUE GIRL - vida em fuga de mais um talento que morre aos 27 anos | Tem no Netflix]]> NOÉ - NOAH http://cinegarimpo.com.br/noe-2/ Fri, 04 Apr 2014 15:24:10 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=19609 Cisne Negro, Noé (Russell Crowe) é sim um homem bom. Vive recluso com a família, fugindo dos humanos malvados que destruíram a terra e seus recursos naturais. Noé ouve o chamado de Deus, constrói a arca e embarca nela com sua família. O que vem depois, a gente já sabe. Cá estamos nós, destruímos tudo de novo. Mas isso não vem ao caso. Nesta mega produção, Aronofsky é didático para quem esqueceu a história, fala de Adão e Eva, do fruto proibido, dos seus descendentes e faz um filme bem popular, cheio de efeitos digitais. Ou seja, tem mais cara de uma aventura ficcional, do que de épico religioso. O que também é válido, mas vá sabendo disso e não espere que a fidelidade ao contexto bíblico seja o mais importante. Tive a impressão de que, na tentativa de tornar o filme um campeão de bilheteria, o diretor se permitiu várias licenças poéticas e criou conflitos humanos entre pai e filho, marido e esposa. Humanizou o filme, explorando as personagens de Jennifer Connelly e Emma Watson. Noé entra em crise, de homem bondoso passa a ser extremista, acha-se no direito de bancar Deus, a ponto de comprometer seus descendentes. Isso não está na Bíblia. Portanto, tenha em mente que o céu é o limite na criatividade, o que seria suficiente para os países muçulmanos que baniram sua exibição, porque não aceitam representação de profetas na arte, não se preocupassem tanto assim com o filme.   DIREÇÃO: Darren Aronofsky ROTEIRO: Darren Aronofsky, Ari Handel ELENCO: Russel Crowe, Ray Winstone, Jennifer Connelly, Emma Watson, Anthony Hopkins, Logan Lerman, Douglas Booth | EUA, 2014 (138 min)    ]]> 19609 0 0 0 NOÉ é mais um filme de aventura, cheio de licenças poéticas para atrair bilheteria]]> YVES SAINT LAURENT http://cinegarimpo.com.br/yves-saint-laurent/ Thu, 24 Apr 2014 20:18:43 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=19702 Festival Varilux de Cinema Francês, vale a pena por pelo menos dois motivos: sua impecável estética e seu um incrível personagem. Se você nunca tinha parado para pensar na personalidade que foi Saint Laurent, voilà! Aliás, para os distraídos com a moda., eu diria ainda que o cinema é uma ótima ferramenta para nos apresentar personagens que circulam fora do nosso campo de interesse. O belo filme Coco Antes de Chanel, com Audrey Tautou, nos apresentou como foi a trajetória de Gabrielle, até a criação da Maison Chanel. Agora, conhecemos o tímido e talentoso jovem que com apenas 21 anos assume a criação da Dior, depois da morte de seu fundador, e aos 26, funda, em Paris, seu próprio ateliê de alta costura. E que elegância tem a sua obra! Além da sua importância como estilista, que deu glamour ao prêt-à-porter, o filme tem algo de genuíno e corajoso. Revela passagens sombrias e difíceis da vida do artista, que esteve internado em um hospital psiquiátrico depois da guerra da Argélia, que se envolveu em orgias, drogas e bebedeiras, e que só não colocou seu prestígio a perder porque tinha ao seu lado Pierre Bergé. “Você teria conseguido de qualquer maneira, porque é genial”, diz Bergé a Ives a certa altura, ele que foi companheiro de Saint Laurent na vida amorosa e, mesmo depois de terminarem o relacionamento, continuou profissionalmente ao seu lado até o fim. O trailer do filme já está aqui na coluna, na matéria sobre o Varilux. No entanto, foi curioso encontrar o trailer de um documentário sobre o estilista, chamado O Louco Amor de Yves Saint Laurent, de Pierre Thoretton. Nele, vemos várias cenas que serviram de inspiração para este novo longa. A semelhança é tanta que por vezes tive a impressão de que via YSL em pessoa aqui na ficção também.   DIREÇÃO: Jalil Lespert ROTEIRO: Laurence Benaïm (livro), Jacques Fieschi ELENCO: Pierre Niney, Guillaume Gallienne, Charlotte Le Bon, Laura Smet | 2013 (106 min)]]> 19702 0 0 0 YVES SAINT LAURENT é obrigatório; para quem não é, vale pela incrível história de vida e pela linda estética]]> GETÚLIO http://cinegarimpo.com.br/getulio/ Thu, 24 Apr 2014 20:58:35 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=19705 ]]> 19705 0 0 0 GETÚLIO, de João Jardim, estreia bem no dia 1o de maio e conta com Tony Ramos no papel principal. Vale ver, entrou mesmo para a história]]> ]]> SENNA http://cinegarimpo.com.br/senna-2/ Mon, 28 Apr 2014 11:23:21 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=19713 Senna é digno do piloto, da pessoa que ele foi e do que representou para o país. E até do que continuaria representando se estivesse vivo. Apesar de já sabermos o final da história, o filme emociona, também porque explora aquele lado a que nós, torcedores e telespectadores, não temos acesso, que são os bastidores da Fórmula 1, os entraves, as amizades, as rixas, os favorecimentos e tudo mais. Mostra cenas inéditas da sua vida em família, da imprensa internacional, depoimentos muito sinceros sobre a vida, as corridas, a família, os adversários nas pistas e na ética, o futuro (veja o trailer, abaixo). Para quem viveu os momentos de vitória de Senna, é imperdível. Faz reviver a sensação boa de ter um representante nacional da envergadura dele. Isso hoje faz falta e preencheria uma lacuna importante. Para quem não viveu, também vale. Assim, temos mais chance de perpetuar a sua imagem.   DIREÇÃO: Asif Kapadia | 2010 (107 min) ]]> 19713 0 0 0 SENNA, produzido na Inglaterra]]> GETÚLIO http://cinegarimpo.com.br/getulio-2/ Wed, 30 Apr 2014 20:37:45 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=19721 Getúlio foi pensado também para esse público: além de ter uma produção cuidadosa, uma fotografia que consegue transmitir a tensão daqueles tempos, tem um discurso didático, explicativo, sem ser professoral. Situa o espectador no tempo e no espaço e consegue dar uma dimensão interessante do drama que levou o presidente ao suicídio em 24 de agosto de 1954. Apesar da longa presença de Vargas na história brasileira, primeiro como ditador e depois como presidente eleito, o diretor João Jardim, também de Lixo Extraordinário e Amor?, faz um recorte dos seus 19 últimos dias de vida. Com a crise deflagrada pelo atentado sofrido por Carlos Lacerda, seu feroz opositor, Vargas é culpado pela tentativa de assassinato e fica politicamente isolado. Deste momento até a sua morte, são dias de extrema tensão, conspirações e traições, que o fazem preferir a morte à renúncia. Jardim não faz de Vargas uma vítima da crise, apenas faz uma leitura do que o presidente plantou e tinha a disposição para colher naquele momento. É tudo bem parecido com o Brasil de hoje. Aliás, desabafos à parte, é como se estivéssemos no mesmo lugar. O discurso de que “ninguém sabe de nada” está presente o tempo todo, mesmo quando o jogo de interesses particulares é claro e bastante evidente. Tony Ramos, como Vargas, e Drica Moraes, como sua filha e braço direito, Alzira, acertam no tom do drama humano e da falência pública, bem compostos pela penumbra e beleza irônicas do Palácio do Catete. Já faz 60 anos que isso aconteceu e é como se nada tivesse mudado no país. A diferença é que hoje ninguém quer largar o osso.   DIREÇÃO: João Jardim ROTEIRO: George Moura ELENCO: Tony Ramos, Drica Moraes, Alexandre Borges, Marcelo Medici, Clarice Abujamra, Adriano Garib | 2014  

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19721 0 0 0 GETÚLIO no longa que faz um recorte dos 19 dias que antecederam o suicídio do presidente em 1954 - e parece que, de lá pra cá, nada mudou]]>
WALESA http://cinegarimpo.com.br/walesa/ Fri, 13 Jun 2014 21:09:20 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=19841 Walesa é filme que não emite muito juízo de valor - muito embora eu tenho tido a impressão de que Walesa estivesse, o tempo todo, por cima da carne seca. Principalmente  por causa da sua postura mais arrogante e bastante combativa diante da jornalista italiana. Mas, eu realmente acho que isso não tem tanta importância. Assista ao filme para lembrar o que foi a trajetória do funcionário de um estaleiro polonês, que tornou-se líder de uma greve em 1980 e incentivou a manifestação pacífica. O regime comunista colocou seu partido, o Solidariedade (nome bem sugestivo para sua visão de como atuar em sociedade), na ilegalidade, de onde saiu no final da década de 1980 com a queda do Muro de Berlim. Vale lembrar sim. Quem está na faixa dos 40 viveu esse momento mágico da queda do muro em 1989 e do efeito dominó nos países além da Cortina de Ferro. Em 1990, Lech Walesa se torna presidente e ajuda a mudar a cara do país. Ganha o Nobel da Paz em 1983, quando a Polônia ainda era governada com a rigidez comunista, e por isso não pode ir à Suécia recebê-lo. Talvez o filme pudesse ser ainda mais emocionante, mas serve como ótima referência aos jovens que estudam esta passagem, que mudou o panorama europeu e mundial. Para quem viveu esta época, fico pensando na loucura que era visitar um país comunista fechado em plena Europa. Eram realmente dois mundos e assistir aos alemães destruindo o muro, tijolo a tijolo, foi de uma emoção indescritível. DIREÇÃO: Andrzej Wajda ROTEIRO: Janusz Glowacki ELENCO: Robert Wieckiewic, Agnieszka Grochowska, Iwona Bielska | 2013 (127 min)
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19841 0 0 0 WALESA traça um panorama do eletricista e líder sindical, que virou presidente com seu partido Solidariedade. Quem viveu, vai se lembrar; para os outros, é um bom registro]]>
TIM LOPES - HISTÓRIA DE ARCANJO http://cinegarimpo.com.br/tim-lopes-historia-de-arcanjo-2/ Wed, 04 Jun 2014 22:13:48 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=19844 História de Arcanjo - seu nome de batismo - é um relato contundente, com depoimentos de amigos e profissionais, que traçam o perfil de um sujeito destemido sim, mas sobretudo corajoso - o que é diferente. Tim escolhia suas reportagens para denunciar o descaso, o desfavorecimento, a injustiça, a violência, as mazelas humanas. E para isso, o preço da exposição era alto. Lembro bem do caso, noticiado exaustivamente na mídia, pela crueldade e importância. E pela ditadura do poder que não conhece lei, da proibição de ir e vir, da falta de liberdade de expressão. Sem ser um melodrama - pelo contrário, Quintella tem uma postura profissional e informativa, embora não esconda sua emoção - é um importante registro do mundo cão, do descaso das autoridades e do caminho sem volta em que nos meteram. Dá raiva. E emociona também. Tim Lopes é retratado por imagens, reportagens e depoimentos como um homem humilde, simpático, humano e justo. Além de seu jornalismo ter feito diferença, pareceu-me um sujeito como poucos, que têm a audácia de se arriscar. Devia ser por vocação, como é o caso daqueles jornalistas que se arriscam em zonas de guerras e conflitos e também não conseguem mudar o mundo. DIREÇÃO: Guilherme Azevedo ROTEIRO: Bruno Quintella | 2014 ]]> 19844 0 0 0 TIM LOPES - HISTÓRIAS DE ARCANJO conta quem foi o repórter investigativo brutalmente assassinado, que se infiltrava nos ambientes mais improváveis, como com meninos de rua (foto)]]> TIM LOPES - HISTÓRIA DE ARCANJO http://cinegarimpo.com.br/tim-lopes-historia-de-arcanjo/ Tue, 03 Jun 2014 21:20:06 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=19858 ]]> 19858 0 0 0 ]]> TIM LOPES - HISTÓRIAS DE ARCANJO é o documentário assinado por seu filho, Bruno Quintella (estreia dia 05/06)]]> JERSEY BOYS: EM BUSCA DA MÚSICA - Jersey Boys http://cinegarimpo.com.br/jersey-boys-em-busca-da-musica/ Thu, 26 Jun 2014 14:53:58 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=19980 Inside Llewin Davis - Balada de um Homem Comum. Vale a pena, é garimpo certeiro, com a marca dos diretores e irmãos Ethan e Joel Coen - que conseguem tratar o anti-herói e o cotidiano como ninguém. Com o grande bônus da música folk dos anos 60, já que música boa vira também protagonista.  Para deleite dos que amam essa época e seu ritmo, entra hoje em cartaz outro ótimo filme, também de um grande diretor. Clint Eastwood adapta para a telona o musical da Broadway Jersey Boys, que ganhou o subtítulo em português: Em Busca da Música. Nem precisava. Dê uma espiada no trailer abaixo e você já vai entender que o filme é musical por essência - e acho que poderia ser ainda mais. Mas também dá ênfase à vida dos garotos que saíram da vida mundana de New Jersey, onde não tinham qualquer perspectiva de vida, envolveram-se com a máfia e conseguiram, entre trancos e barrancos, formar a banda de rock "The Four Seasons", que foi um sucesso. John Lloyd Young, que representa Frankie Valli (e tem uma voz incrível e diferenciada), fez também o papel nos palcos da Broadway, assim como outros atores que estão na produção de Eastwood. Além do balanço delicioso das canções, o diretor dá o tom certo ao drama do quarteto que queria fazer sucesso e dinheiro, mas que acaba esbarrando nos desejos e egos individuais. Claro que a produção é caprichosa e reconstitui uma época em que o visual é incomparável. Se eu fosse fazer uma dobradinha musical no fim de semana, seria cinema com Jersey Boys, e sofá com Inside Llewin Davis. Folk e rock de uma época que ainda rende muitas boas histórias nas mãos de diretores talentosos.   DIREÇÃO: Clint Eastwood ROTEIRO: Marshall Brickman, Rick Elice ELENCO: John Lloyd Young, Erich Bergen, Michael Lomenda, Vincent Piazza, Christopher Walken, Johnny Cannizzaro  | 2014 (134 min)     ]]> 19980 0 0 0 JERSEY BOY: EM BUSCA DA MÚSICA : adaptação de Clint Eastwood do musical da Broadway, com rock dos anos 60]]> NÃO PARE NA PISTA - A MELHOR HISTÓRIA DE PAULO COELHO http://cinegarimpo.com.br/nao-pare-na-pista/ Thu, 14 Aug 2014 18:09:21 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=20231 O Mago, a biografia de Paulo Coelho escrita por Fernando Morais (2008, Editora Planeta do Brasil), disse que o livro valia a pena, mesmo para quem não gostasse da obra de Paulo Coelho. Considerando a dificuldade de biografar alguém que está vivo e atuante, Morais dimensionou muito bem as vitórias e derrotas do escritor de O Alquimista, livro lançado em 1988 depois de sua vivência no pelo caminho de Santiago de Compostela, que o colocou definitivamente no mundo da literatura. Literalmente no mundo. Porque Paulo Coelho foi traduzido em 80 idiomas, publica em 160 países, seus livros já venderam 150 milhões de exemplares e agora ganha uma versão no cinema. Não Pare Na Pista – A Melhor História de Paulo Coelho, do diretor Daniel Augusto, com roteiro de Carolina Kotscho (também de 2 Filhos de Francisco) já tinha de saída uma história extraordinária pra contar. Claro, quem é que viveu o que Paulo Coelho viveu? Ordinárias são as nossas vidas. Ele foi parceiro de Raul Seixas, compôs músicas que colocaram o cantor nas estrelas, lutou contra a ditadura, o pai e as drogas, aventurou-se pelo mundo para encontrar seu caminho e ganhou a notoriedade escrevendo – que era o que ele mais queria fazer na vida. Tudo isso aparece no filme, que rende vários comentários – deixo em aberto para que cada um faça o seu. Mas o mais importante deles, que eu não poderia deixar passar, é que o roteiro termina na hora errada. Ao transformar o ator Júlio Andrade (também de Gonzaga – De Pai pra Filho, Serra Pelada) no Paulo Coelho de hoje, além de pecar na maquiagem, dá muita margem para o ego do escritor, que vem à tona com uma força muito maior do que a sua história que, repito, é mesmo extraordinária e deveria bastar. Todo mundo sabe que Paulo Coelho não precisa se promover. Se precisasse, o filme seria uma jogada de marketing. Minha sensação é de que é uma visão rancorosa, do tipo “eu cheguei lá, mesmo que os brasileiros não reconheçam”. Lembro bem quando O Alquimista foi lançado e estourou. Essa foi a pedra fundamental do seu sucesso e aí é que o filme tinha que ter terminado. Do sucesso do Paulo de hoje, o mundo já conhece bem e não dá pra negar. Goste você ou não do que ele escreve.   DIREÇÃO: Daniel Augusto ROTEIRO: Carolina Kotscho ELENCO: Júlio Andrade, Ravel Andrade, Fabiana Gugli, Fabiula Nascimento, Henrique Diaz, Lucy Ferreira, Paz Vega | 2014 (103 min)   ]]> 20231 0 0 0 NÃO PARE NA PISTA - A MELHOR HISTÓRIA DE PAULO COELHO faz a figura do escritor ser maior que a história da sua vida; não deveria, já que sua trajetória é extraordinária]]> UMA LONGA VIAGEM - The Railway Man http://cinegarimpo.com.br/uma-longa-viagem-2/ Wed, 17 Dec 2014 19:09:26 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=20414 Muito cuidado ao assistir ao trailer deste filme - ele revela praticamente todas as surpresas, tira o charme da trama e em troca você consegue deduzir aquilo que ficou subentendido. Não dá pra montar trailer assim! O filme é bom e o espectador tem o direito de se surpreender real e genuinamente. Como já disse várias vezes aqui, leio pouco antes de assistir aos filmes, para que a primeira sensação seja desprovida de preconceitos e pré-conceitos. Com Uma Longa Viagem foi assim. Por isso, cuidado com o que você lê por aí, porque esta produção, baseada no livro autobiográfico de Eric Lomax, tem uma trama bem construída, que me pegou de surpresa e realmente me emocionou. Pode até seja por causa dessa fase mais emotiva, em que os sentimentos estão à flor da pele. Mas basta um pouco de interesse pela história das guerras, um olhar basicamente crítico para as decisões atrozes dos homens e uma amolecida no coração para vestir a camisa do filme e incorporar as inúmeras situações vividas pelos personagens (claro que no sentido figurativo), para sentir emoções que são parte da vida de qualquer um: raiva, ódio, desesperança, compaixão, amor. Uma Longa Viagem, que no título original faz menção ao "homem da ferrovia", referindo-se aos prisioneiros aliados que construíram os caminhos de ferro a mando dos japoneses, durante a Segunda Guerra, conta com a forte atuação de Colin Firth (também em Magia ao Luar, O Discurso do Rei, Direito de Amar, Antes de Dormir) e Nicole Kidman (também em Segredos de Sangue, Os Outros, As Horas, Reencontrando a Felicidade, Antes de Dormir). O casal tem liga e convence na sintonia necessária para acreditar que Patti (Kidman) é quem questiona a infelicidade do marido Eric, seu bloqueio em falar da sua experiência durante a guerra, sua apatia diante da vida. Logo ficamos sabendo da sua traumática experiência como prisioneiro de guerra no Japão, dos mau tratos e de como isso impactou seu futuro e a perspectiva de vida daqueles que sobreviveram. Essa longa viagem é o que Eric faz, na tentativa de rever seu passado e passá-lo a limpo. Ou melhor, na tentativa de simplesmente viver o presente - coisa que as lembranças da guerra não permitem. Gosto mais do título original, tem peso, significado, importância - na sua crueldade, no seu resultado, na sua permanência no tempo. Afinal, são esses três fatores que pesam sob os ombros desse ex-combatente e que conseguem trazer a emoção ao filme, sem cair no clichê e sem precisar dar lição de moral. É o tipo de filme que cada um recebe de acordo com o estado de espírito: para uns será um relato histórico interessante; para outros, uma revisão de valores. Eu me emocionei. Excepcionalmente, este comentário vai sem trailer, porque se eu fosse você, não assistiria.   DIREÇÃO: Jonathan Teplitzky ROTEIRO: Frank Cottrell Boyce, Andy Paterson, Eric Lomax (livro) ELENCO: Colin Firth, Nicole Kidman, Stellan Skersgard, Tanroh Ishida, Jeremy Irvine | 2013 (116 min)    ]]> 20414 0 0 0 UMA LONGA VIAGEM merece surpreender você; por isso, passe longe do trailer, que é um verdadeiro estraga-prazer ]]> O SAL DA TERRA - Le Sel de la Terre http://cinegarimpo.com.br/o-sal-da-terra/ Fri, 12 Sep 2014 01:27:26 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=20433 Sebastião Salgado abre o Festival do Rio 2014. Isso mesmo, com um documentário sobre seus 40 anos de vida como fotógrafo, pela lente de seu filho Juliano Ribeiro Salgado e do renomado cineasta alemão Wim Wenders, também do espetacular Pina. O filme levou o prêmio especial da categoria de Cannes que eu mais gosto, Un Certain Regard. Grande expectativa, tanto para a obra, quanto para a maneira de fotografar e enxergar o meio ambiente e o ser humano.      ]]> 20433 0 0 0 O SAL DA TERRA, documentário sobre o fotógrafo Sebastião Salgado, abre Festival do Rio. Pela lente de Wim Wenders e Juliano Salgado]]> TIM MAIA http://cinegarimpo.com.br/tim-maia/ Mon, 27 Oct 2014 20:08:41 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=20654 ]]> 20654 0 0 0 ]]> TIM MAIA chega dia 30, com esse recorte incrível do genial e genioso cantor, pelas lentes do diretor Mauro Lima]]> TIM MAIA - NÃO HÁ NADA IGUAL http://cinegarimpo.com.br/tim-maia-nao-ha-nada-igual/ Wed, 29 Oct 2014 15:12:41 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=20660 50 Anos a Mil, mas Lobão sobreviveu. Tim Maia não. Genial, mas sucumbiu às drogas e à vida frenética que levava. Quando perguntado na coletiva de imprensa qual foi o critério para fazer o recorte deste filme, o diretor Mauro Lima (também de Reis e Ratos) confirma o que eu escrevi sobre o filme Não Pare na Pista - A Melhor História de Paulo Coelho. "Resolvi contar a parte que o grande público acharia curioso saber sobre aquele artista", diz Lima. "Por isso, retratei o que a nova geração não viu, já que o último Tim Maia se tornou repetitivo: era aquele que não aparecia nos shows, se trancava no camarim, reclamava do som e acumulava processos." E acertou em cheio. Porque ficar repetindo o que o público já sabe é chover no molhado e vira caricato. Tim Maia, baseado na biografia Vale Tudo, de Nelson Motta, traz para o público a vida do gênio pra lá de temperamental desde sua adolescencia na Tijuca, quando vendeu marmita, até descobrir o rock, formar uma banda com Roberto Carlos (!), ir para os Estados Unidos sem falar inglês, fazer sucesso, entrar para a seita que o levou ao fundo do poço, renascer e de novo mergulhar no repetitivo "senhor genioso" - e intratável. Até o final, que a gente conhece, que o levou à morte aos 55 anos. Dois atores foram escalados para construir, brilhantemente, o personagem. O Tim jovem é Robson Nunes e adulto, Babu Santana. "Se você olhar as fotos do Tim, parece que são pessoas diferentes em cada uma das fases", diz o diretor quando explica a escolha de dois atores. "Ele mudou tanto que achei que um ator só não poderia retratar toda a sua complexidade." Tim é um sujeito simpático e cara de pau ainda jovem, para se tornar um irreverente black power quando vai para os Estados Unidos mergulhado nas drogas, no sexo e no álcool e depois descambar para um lado de convivência impossível como o "rei da soul music". Andaram dizendo na coletiva que faltaram algumas músicas. Mas o filme não é um musical. É uma biografia, muito bem delineada, que retrata os anos 50, 60, 70 lindamente, que tem humor e senso crítico. E que traz um Tim que muita gente não conhecia - eu sou uma delas. Assim como pipocaram outras ótimas biografias de artistas brasileiros no cinema como Gonzaga - De Pai pra Filho, Somos Tão Jovens (Renato Russo) e Raul - O Início, o Fim e o Meio, Tim Maia entra para a lista dos filmes nacionais que registram o que a gente tem de bom: talento para a música e poesia e olhar apurado para deixar registrado isso na telona sem ser marketeiro. Como disse o diretor e o elenco, Tim Maia tem uma biografia que rende até uma série, de tanta coisa que o cara aprontou e produziu. Mas poderia ter feito muito mais. Ficou sobrando talento.   DIREÇÃO: Mauro Lima ROTEIRO: Mauro Lima, Nelson Motta (livro) ELENCO: Babu Santana, Robson Nunes, Alinne Moraes, Cauã Reymond, Luis Lobianco, Laila Zaid | 2014 (140 min) ]]> 20660 0 0 0 TIM MAIA - NÃO HÁ NADA IGUAL é mais uma ótima biografia de um dos gênios poetas da música brasileira, com uma história de vida por si só espetacular]]> YVES SAINT LAURENT http://cinegarimpo.com.br/yves-saint-laurent-2/ Thu, 30 Oct 2014 10:24:39 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=20683 ]]> 20683 0 0 0 ]]> YVES SAINT LAURENT, do francês Bertrand Bonello, no auge da moda e dando muito o que falar!]]> SOBREVIVI AO HOLOCAUSTO http://cinegarimpo.com.br/sobrevivi-ao-holocausto/ Wed, 26 Nov 2014 11:48:14 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=20786 Sobrevivi ao Holocausto faz justamente esse papel, através da vivência trágica do judeu polonês Julio Gartner. No documentário, ele conta como foi seu martírio pelos campos de concentração, suas privações, a perda da família, as incontáveis situações de “quase morte” por que passou, sempre acompanhado da jovem Marina Kagan, que tem a idade aproximada que Julio tinha quando foi libertado. Percorrem os lugares por onde passou, desde a casa onde morava com seus pais até os 15 anos em Cracóvia, na Polônia, até o último campo de concentração em que esteve preso. O filme é simples, mas emocionante. Faz uma leitura genuína da trajetória de Gartner, documenta o terror com realismo e traz depoimentos bem interessantes. O mais emocionante é, sem dúvida, o encontro de Julio com o casal que o abrigou no interior da Polônia, onde viveu escondido dos nazistas por algum tempo. É pela mesma razão – da passagem implacável do tempo ser inevitavelmente ligada ao esquecimento – é que se faz a chamada Marcha da Vida. O movimento que existe desde 1988 e foi registrado em documentário homônimo na sua 20a edição, em 2008. O projeto foi criado justamente por jovens que resolveram fazer o trajeto entre os campos de concentração de Auschwitz e Birkenau a pé, como era feito pelos judeus na Guerra – a chamada Marcha da Morte. A ideia junta jovens, idosos, sobreviventes e gente solidária independente de religião, nacionalidade ou credo, que não quer deixar a história cair no esquecimento. Já ficam de quebra dois Garimpos na Locadora, sobre esse tema da morte, mas também da vida que teima em continuar.   DIREÇÃO: Caio Cobra, Marcio Pitliuk ROTEIRO: Marcio Pitliuk ELENCO: Julio Gartner, Marina Kagan | 2014   ]]> 20786 0 0 0 SOBREVIVI AO HOLOCAUSTO: para lembrar os 70 anos da libertação dos judeus de Auschwitz esta semana]]> 65725 0 0 65729 65725 1 65731 65725 1 ÊXODO: DEUSES E REIS - Exodus: Gods and Kings http://cinegarimpo.com.br/exodo-deuses-e-reis/ Thu, 25 Dec 2014 23:22:35 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=20943 Nóe esteve nas telonas, retratando a passagem bíblica da criação da arca e do salvamento das espécies no dilúvio enviado por Deus. Agora é a vez de outro personagem, numa superprodução que gera controvérsias. Nenhum desses filmes têm o intuito de ser um retrato fiel do que está escrito na Bíblia e qualquer adaptação seria passível de críticas. Portanto, a dica aqui é a seguinte: se está a fim de assistir a uma filme cheio de batalhas, traições, amores e rumores, com um bonito visual, a história de Moisés será um bom entretenimento. Essa passagem do Antigo Testamento é, por si só, fantástica. Moisés está na pele de Christian Bale (também em O Império do Sol, O Vencedor, Trapaça, a trilogia Batman) e é ele quem conduz o povo judeu pelo deserto por 40 anos até a Terra Prometida, após libertá-lo da escravidão egípcia que durou 400. Como se sabe, Moisés é criado pelo faraó Seti (John Turturro) junto com seu filho Ramsés, sem saber que era hebreu e escolhido por Deus para libertar seu povo. Êxodo: Deuses e Reis é bem mais convincente do que Noé e prende mais a atenção – muito embora tenha as suas “licenças poéticas”, como Deus representado por uma criança. Mas o diretor Ridley Scott fez um filme para multidões e para grandes bilheterias (nos Estados Unidos está no topo e já arrecadou alguns bons milhões). Mostra o povo escravizado construindo os suntuosos palácios e as pirâmides do Egito, as pragas que caem sobre Ramsés, o implacável e megalomaníaco faraó, e seu povo, o chamado de Deus e Moisés escrevendo os Dez Mandamentos. Todo o contexto histórico tem um cuidado especial e é sempre interessante repassar o momento e reparar nos detalhes da suntuosa civilização. No entanto, faz tempo que não temos no cinema um grande filme que impressione pela beleza e pelo impacto emocional como fez Lawrence da Arábia, O Último Imperador e O Gladiador, do mesmo Ridley Scott. Êxodo: Deuses e Reis vai arrecadar um bom dinheiro, com certeza. Mas faltou algo que gerasse a genuína emoção que o momento histórico merece.   DIREÇÃO: Ridley Scott ROTEIRO: Adam Cooper ELENCO: Chrsitian Bale, Joel Edgerton, John Turturro, Aaron Paul, Sigourney Weaver, Ben Kingsley, Hiam Abbass | 2014 (150 min)  ]]> 20943 0 0 0 ÊXODO: DEUSES E REIS poderia ser mais emocionante, ainda mais com o roteiro fantástico da história de Moisés e a libertação dos hebreus da escravidão no Egito]]> LIVRE - Wild http://cinegarimpo.com.br/livre-wild-2/ Thu, 15 Jan 2015 20:34:42 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=21035 Wild deveria ter sido traduzido como Selvagem. Assim como o filme Into the Wild, que foi chamado em português Na Natureza Selvagem. São histórias diferentes, mas me lembrei dele porque o termo "wild" se refere ao mesmo objeto nos dois casos: o mergulho profundo e desconhecido na natureza, na tentativa de encontrar o sentido da sua própria existência. O termo “livre” faz sentido se pensamos que a personagem da atriz Reese Witherspoon (também em Johnny & June, Amor Bandido) busca se livrar das amarras, dos vícios, das encrencas em que se meteu, para então descobrir o que quer realmente da vida e ser livre para escolher. Mas confesso que "wild" me remete mais à busca por seu estado in natura, por sua essência, pelo autoconhecimento. Esta produção é baseada no livro da escritora Cheryl Strayed, que se chama Wild: From Lost to Found on the Pacific Crest Trail. Ela escreve sobre experiência de cruzar a costa oeste dos Estados Unidos a pé pela trilha chamada PCT, que vai da fronteira com o México até a fronteira com o Canadá, aos 22 anos. O livro é transformado em filme pelo olhar habilidoso e sensível do canadense Jean-Marc Vallée, também responsável por Clube de Compras Dallas, C.R.A.Z.Y e A Jovem Rainha Vitória. E faz bem feito. O que poderia ser um tolo relato de mais uma trilha-a-procura-de-si-mesmo, estilo filme esotérico, pondera drama e humor, constrói e desconstrói o personagem o tempo todo, intercalando cenas de Cheryl na trilha, outras de sua infância, de suas perdas e escolhas que ela fez durante a vida. Quem planta, colhe - é basicamente isso. Tem um clima de "tábua de salvação", mas não de auto-piedade. Com um casamento fracassado, envolvimento com drogas e falta de objetivo, ela percorre 1770 quilômetros do caminho durante três meses, sem saber no que a experiência vai dar. No fundo, sabe que será transformadora. E é. Tem um lado contemplativo muito sedutor, ainda mais para quem curte o silêncio e as caminhadas. A escolha de Cheryl por essa trilha foi radical, uma demonstração de coragem quando a última esperança já escorria pelas mãos – ponto tocante e sensível, que com certeza vai fazer muita gente se identificar. Talvez eu escolhesse uma trilha um pouco mais palatável – Santiago de Compostela, quem sabe – mas a ideia do silêncio e de um passo após o outro já me deixou com vontade de caminhar.   DIREÇÃO: Jean-Marc Vallée ROTEIRO: Nick Hornby, Cheryl Strayed ELENCO: Reese Witherspoon, Gaby Hoffmann, Laura Dern | 2014 (115 min)  ]]> 21035 0 0 0 LIVRE, com Reese Whiterspoon, tem o olhar sensível e tocante do valor de um passo depois do outro - uma história real]]> CÁSSIA ELLER http://cinegarimpo.com.br/cassia/ Thu, 15 Jan 2015 20:17:54 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=21044 ]]> 21044 0 0 0 CÁSSIA ELLER, que estreia dia 29, conta a trajetória da cantora brasileira que morreu em 2001.]]> ]]> 118 DIAS - Rosewater http://cinegarimpo.com.br/118-dias/ Thu, 12 Mar 2015 20:27:09 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=21220 Rosewater, traduzido no Brasil por 118 Dias, aconteceu, é real e não é difícil de acreditar. Basta ver o que é noticiado todos os dias: jornalistas sequestrados, decapitados, queimados em praça pública, desaparecidos. Segundo o site do portal Jornalistas Sem Fronteiras, 69 jornalistas foram assassinados em todo o mundo em 2014; este ano já começamos mal, com 14 até agora, inflacionado pelo atentado terrorista ao jornal Charlie Hebdo. Quem quiser checar, é bem interessante. O portal traça um panorama assustador do terror a que são submetidos os jornalistas em alguns países como Irã, Síria e Sudão. Faz uma lista de periculosidade dos países e deixa claro que agir contra a corrente política em países autoritários e teocráticos não é algo fácil - muito menos inofensivo. E foi exatamente isso que o personagem de 118 Dias fez. Em 2009, escalado pela revista Newsweek para cobrir as eleições no Irã, o jornalista iraniano, radicado na Inglaterra, vai à Teerã para entrevistar o candidato da oposição Mir-Houssein Mousavi. Mas quem ganha é a situação, liderada por Mahmoud Ahmadinejad. Em protesto contra a suposta fraude, os simpatizantes de Mousavi saem às ruas para contestar os resultados, Maziar Bahari filma as passeatas e manifestações, e envia o arquivo para a BBC. A partir daí, as autoridades iranianas deduzem que o jornalista é um espião da CIA e o mantém preso por 118 dias. Baseado em seu livro "Then They Came for Me: A Family’s Story of Love, Captivity, and Survival”, o filme foca nos interrogatórios e sessões de tortura sofridos na prisão Evin. Hoje, Bahari (Gael García Bernal, também em Diários de Motocicleta, No, Babel) é ativista e trabalha para ajudar na libertação de colegas que sofrem situações parecidas. 118 Dias não tem o suspense de tramas políticos como Argo, por exemplo, que também conta uma história de atentado terrorista. Mas vale seu ingresso porque nunca é demais parar para pensar que é preciso fazer alguma coisa. Nem que seja no seu microcosmo, a começar por ser mais tolerante e menos preconceituoso com quem está ao seu lado e pensa diferente. Já seria um bom começo.   DIREÇÃO: Jon Stewart ROTEIRO: Jon Stewart, Maziar Bahari ELENCO: Gael García Bernal, Kim Bodnia, Dimitri Leonidas, Claire Foy, Haluk Bilginer, Shohreh Aghdashloo, Golshifteh Farahani |2014 (103 min)
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21220 0 0 0 118 DIAS: história real para literalmente tentar entender o nosso mundo]]>
DIÁRIOS DE MOTOCICLETA - The Motorcycle Diaries http://cinegarimpo.com.br/diarios-de-motocicleta-the-motorcycle-diaries/ Mon, 16 Nov 2009 16:30:40 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=816 DIRETOR: Walter Salles1 icone_DVD ELENCO: Gael García Bernal, Rodrigo de la Serna, Susana Lanteri, Mía Maestro, Mercedes Morán, Jean Pierre Nohen LOCAL, ANO: Argentina, Brasil, Chile, Estados Unidos, 2004 diários de motocicleta Em 1952 os argentinos Ernesto "Che" Guevara de la Serna (Gael García Bernal, também em Babel) e Alberto Granado tinham um plano: percorrer 8 mil quilômetros em 4 meses, usando como método o improviso. O objetivo era explorar o continente latino-americano com um único equipamento: uma moto, a “poderosa”. Diários de Motocicleta conta a trajetória dessa viagem, recheada de imprevistos e aventuras, mas mostra principalmente o início dos questionamentos de Ernesto, muito antes de ele virar “Che”. Aos 23 anos, Ernesto resolve interromper a faculdade de Medicina e seguir viagem. Parte de Buenos Aires, desce até o sul da Argentina, passa pelo Chile e Peru e chega ao extremo norte da Venezuela. Além do enredo em si, da linda fotografia, da forte relação de amizade entre os dois, o filme é o começo da vida autônoma de Ernesto, que tem na realidade latino-americana o alimento para fomentar sua inquietude em relação às desigualdades sociais e à postura hipócrita da sociedade. Ao vivenciar a realidade dos povos andinos, se depara com a miséria, a intolerância e o descaso, e se convence da importânica da América do Sul unida. Será? São as questões filosóficas que começam a ocupar um espaço cada vez maior nesse Ernesto humanizado pelo ponto de vista de Salles. diarios_de_motocicleta_foto Ainda não se fala em guerrilha, em comunismo propriamente dito. Fala-se da tomada de consciência de que é preciso fazer algo. Mas nós, que temos como emblema a famosa foto do Che herói que estampa camisetas e pôsteres mundo afora, impossível desassociar Ernesto, o médico consciente das mazelas sociais, do Che guerrilheiro, autoritário, líder da ditadura comunista ao lado de Fidel Castro. Mas essa faceta não entra agora - resolvi pensar em Che de uma maneira cronológica, para que fique mais fácil refletir sobre a dualidade verdade-mito. Ela será mostrada nos filmes Che, partes 1 e 2, em breve no Cine Garimpo. Por hora, ficamos com o Ernesto utópico, mas já radical nas escolhas e nas palavras. VEJA EM DICAS AFINS: O livro da blogueira cubana Yoani Sánchez, De Cuba, Com Carinho, traz vários textos publicados no seu blog Generación Y, com milhões de acessos por mês. Ela conta como é o cotidiano em Havana na ditadura idealizada por Che e Fidel Castro. ]]> 816 0 0 0 VERMELHO COMO O CÉU - Rosso Come il Cielo http://cinegarimpo.com.br/vermelho-como-o-ceu-rosso-come-il-cielo/ Thu, 17 Dec 2009 17:11:20 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=2150 Vermelho como o Céu, não sabia que veria algo tão especial - este filme foi fruto de puro garimpo! Quem tem a sorte de ter à disposição todos os sentidos prontos para serem usados, muitas vezes não aproveita essa dádiva e restringe a sensibilidade ao que percebe pela visão. Quem não tem, aguça os sentidos para que o cheirar, o tocar, o ouvir e o falar o façam de fato sentir o mundo. É intuitivo, eu sei. Mas me emocionei com o fato de a história do garoto Mirco ser real e com o poder e a força transformadoras que têm a imaginação. A beleza da vida do garoto que ficou cego aos 8 anos quando brincava com a espingarda do pai, está no fato de hoje ele ser um dos editores de som de cinema mais reconhecidos da Itália. Portanto um cego que entende de sons e que desde criança era apaixonado pelo cinema. Tudo aconteceu nos anos 70, na Itália que não admitia crianças com deficiência visual em suas escolas. Por isso, Mirco é enviado para uma escola especial em Gênova, longe dos pais e junto com outras crianças que pagaram o preço do preconceito e da mente estreita dos educadores italianos da época. É nessa escola que ele vive a outra parte de sua infância, descobre que tem intactos os outros sentidos e que eles fazem a diferença na sua vida e na dos que estão ao redor. Descobre que a realidade está na imaginação e que tudo mais pode se adequar a ela, basta usar as ferramentas disponíveis e ter apoio de quem acredita que isso é possível. Aqui entra não só o professor que presenteia Mirco Mencacci com um gravador para que ele colete sons para sua peça de teatro, como também a família que, embora longe, se emociona com a realização do filho. Na linha do cinema que quer fazer um filme realista, porém humanista, sensível, mas não piegas, Vermelho como o Céu é muito especial. Os sons são na medida para também ouvirmos de maneira especial; os passeios de bicicleta, para sentirmos o vento batendo na cara; e Mirco brincando no campo, para nos lembrarmos do cheiro que têm as coisas ao redor. E é como se desse realmente para sentir tudo isso.   DIRETOR: Cristiano Bortone ELENCO: Luca Capriotti, Paolo Sassanelli, Marco Cocci, Simone Gulli, Francesca Maturanza | 2006 (96 min) ]]> 2150 0 0 0 VERMELHO COMO O CÉU: porque temos muito o que aprender com quem não vê, mas enxerga tudo!]]> O JOGO DA IMITAÇÃO - The Imitation Game http://cinegarimpo.com.br/o-jogo-da-imitacao-the-imitation-game-2/ Thu, 05 Feb 2015 17:16:55 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=20865 12 Anos de Escravidão, Álbum de Família, Além da Escuridão – Star Trek), que concorre ao Oscar de melhor ator pelo papel, além de o filme lutar pela estatueta de melhor diretor, roteiro adaptado e atriz coadjuvante para Keira Knightley (também em Mesmo Se Nada Der Certo). O grande vilão chamava-se Enigma: uma máquina alemã que criava letras aleatórias, que por sua vez formavam palavras, e enviava códigos indecifráveis a respeito de sua estratégia de ataque. Na tentativa de decodificá-los, o serviço de inteligência chegou a recrutar cerca de mil pessoas, das mais diversas formações – de matemáticos a jogadores de xadrez – para trabalhar neste centro secreto de pesquisa em Bletchley Park, na Inglaterra. A iniciativa ficou conhecida como sendo o segredo de inteligência mais bem guardado da história – hoje em dia o local é um museu e pode ser visitado (quem tiver curiosidade, há mais informações e várias fotos no site www.bletchleypark.org.uk). Esta é mais uma história de vida espetacular. Alan Turing era genial e certamente mudou os rumos da Segunda Guerra e do século 20 – segundo os cálculos, encurtou a batalha em dois anos. Vale seu ingresso. Assim como A Teoria de Tudo (em cartaz), que conta a história extraordinária do cientista Stephen Hawking, O Jogo da Imitação traz à tona a genialidade de pessoas que fizeram a diferença e rendem roteiros incríveis para os cinéfilos de plantão.   DIREÇÃO: Morten Tyldum ROTEIRO: Andrew Hodges, Graham Moore ELENCO: Benedict Cumberbatch, Keira Knightley, Matthew Goode, Mark Strong, Charles Dance, Matthew Beard, Rory Kinnear | 2014 (114 min)   ]]> 20865 0 0 0 GARIMPO NA NETFLIX: Mais um filme sobre a vida de um sujeito que fez a diferença: inventou o computador. O JOGO DA IMITAÇÃO levou Oscar de roteiro adaptado. ]]> INVENCÍVEL - Unbroken http://cinegarimpo.com.br/invencivel/ Tue, 20 Jan 2015 21:45:29 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=21057 O Mordomo da Casa Branca? O sujeito trabalhou no mais alto escalão na política norte-americana por sete mandatos, tem muita história pra contar, mas o filme não passou de um folhetim. Mas Angelina Jolie até me surpreendeu e fez um filme honesto. Consegue emocionar com o personagem persistente e vencedor que é o atleta olímpico Louis Zamperini. Integrante da equipe americana de atletismo nas Olimpíadas de Berlim, Zamperini veste a farda quando estoura a guerra e acaba naufragando em mares japoneses em um dos combates. Com mais dois colegas, fica 47 dias à deriva, até que é resgatado por tropas inimigas e é feito prisioneiro em campos de trabalho forçados das tropas do Eixo. Invencível tem esse viés interessante da vontade de viver. Baseado no livro escrito por Laur Hillenbrand, Zamperini não se rende à fome ou ao frio, aos maus tratos ou privações, às humilhações do carrasco japonês ou à tentação de virar casaca. Tem um sentimentalismo carregado, mas achei até que não foi tão exagerado assim. Sabendo que se trata de uma história real e que Zamperini esteve vivo até o ano passado e acompanhou a produção do filme, o personagem é pra lá de interessante e prende a atenção - apesar de ser bem previsível. Imagine o que seria feito dele nas mãos de alguém como Steven Spielberg, por exemplo?   DIREÇÃO: Angelina Jolie ROTEIRO: Joel Coen, Ethan Coen, Laura Hillenbrand (livro) ELENCO: Jack O'Connell, Takamasa Ishihara, Domhnall Gleeson | 2-14 (137 min)   ]]> 21057 0 0 0 INVENCÍVEL conta uma história de vida incrível num filme honesto, mas bem previsível]]> 118 DIAS - Rosewater http://cinegarimpo.com.br/118-dias-rosewater/ Tue, 27 Jan 2015 20:13:50 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=21085 PosterN118DiasGael García Bernal está em novo filme que acaba de ter o pôster nacional divulgado (ao lado). 118 Dias é o número de dias que seu personagem, um jornalista iraniano, com cidadania canadense e morador de Londres, é torturado pelos iranianos quando vai à Teerã cobrir as eleições presidenciais e entrevistar Mir-Houssein Mousavi, candidato da oposição.

Assim que o líder Mohamoud Almadinejad é declarado vencedor, a oposição protesta nas ruas da capital. Bahari (Bernal) filma os conflitos e envia as imagens para a BBC, mesmo sabendo que estava correndo sério risco de ser punido pelas autoridades. Baseado na história real do jornalista Maziar Bahari relatada no best-seller “Then They Came for Me: A Family’s Story of Love, Captivity, and Survival”, 118 Dias estreia dia 5 de março. Rosewater, o título em inglês, refere-se a um dos sequestradores, que usava este codinome.

 Outros filmes com o ator que devem ser vistos:

AMORES BRUTOS, de Alejandro González Iñárritu | 2000

DIÁRIOS DE MOTOCICLETA, de Walter Salles | 2004

BABEL, de Alejandro González Iñárritu | 2006

ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA, Fernando Meirelles | 2008

NO, de Pablo Larraín | 2012

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21085 0 0 0 GAEL GARCÍA BERNAL volta às telonas com thriller político 118 DIAS. Veja aqui o pôster nacional, trailer e outros filmes com o ator. Estreia 5 de março ]]>
A TEORIA DE TUDO - The Theory of Everything http://cinegarimpo.com.br/a-teoria-de-tudo/ Thu, 29 Jan 2015 19:07:48 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=21104 Uma Breve História do Tempo. Era fim dos anos 1980 e chegava aqui, e em todo o mundo, a imagem do brilhante cientista que tinha revolucionado a teoria da criação do universo e escrito o tal livro, embora já estivesse preso a uma cadeira de rodas, imobilizado pela doença degenerativa ELA (esclerose lateral amiotrófica). A imagem frágil do cosmólogo e físico britânico se contrastava com a força da sua presença e da sua vontade de viver. Histórias assim rendem bons filmes, porque o roteiro em si já está pronto. No caso de Hawking, sua trajetória é contada com base no livro escrito por sua ex-mulher Jane, figura fundamental na sua luta pela sobrevivência. A escolha do diretor foi fazer um filme linear, seguindo a ordem cronológica dos acontecimentos, desde quando Stephen desenvolve seu doutorado em Cambridge, conhece a estudante de literatura Jane, apaixona-se por ela e ela por ele (apesar de suas esquisitices) e a doença se apresenta com prognóstico terrível: só dois anos de vida. Fato é que Hawking surpreende aos médicos e a si mesmo, sobrevive, tem três filhos e está vivo e atuante até hoje. A Teoria de Tudo tem um bom equilíbrio, considerando a dificuldade de retratar vidas tão complexas e espetaculares como esta. Quem não se lembra do filme Jobs, sobre o gênio criado da Apple. Um fracasso, embora sua vida transcenda o extraordinário. Aqui poderia ter sido igual, confiando que o roteiro já traçado pelo protagonista desse conta sozinho do recado. Não dá. O olhar do diretor e sua equipe é fundamental para a construção de personagens críveis, à altura do que são na realidade. Já assisti duas vezes e em ambas vi muita gente se emocionar. É para ver em família e levar filhos adolescentes, por que não? Afinal, o que temos na tela é um exemplo de superação e de senso de humor, sem deixar de pontuar as dificuldades de relacionamento que encontra pelo caminho como qualquer ser humano. Afinal, Stephen ficou paralisado ainda jovem, mas seu raciocínio e percepção do mundo estão intactos. Continua vivo e não se sentir vítima da doença é o que o mantém vivo. Rende boa conversa depois da sessão de cinema. A Teoria de Tudo concorre a cinco prêmios no Oscar, inclusive melhor filme, ator para Eddie Redmayne (que já levou o Globo de Ouro), atriz para Felicity Jones e roteiro adaptado.   DIREÇÃO: James Marsh ROTEIRO: Anthony McCarten, Jane Hawking ELENCO: Eddie Redmayne, Felicity Jones, Tom Prior, Harry Lloyd, Simon McBurney | 2014 (123 min)   ]]> 21104 0 0 0 A TEORIA DE TUDO, sobre o cientista Stephen Hawking]]> SELMA - UMA LUTA PELA IGUALDADE - Selma http://cinegarimpo.com.br/selma-uma-luta-pela-igualdade/ Wed, 11 Feb 2015 16:42:48 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=21142 Selma é interessante pelo seu momento histórico, pela dimensão das mudanças sociais nos EUA no quesito racial (até culminar na eleição de Obama) e pelo olhar da diretora. Ava DuVernay é negra e declara que fez um filme da maneira como ela vê os fatos - isso porque dizem que a história verdadeira de King e o presidente Johnson não foi bem assim. Concordo com ela, afinal não se trata de um documentário. Sabemos como essas coisas variam de acordo com o olhar e interesse de cada interlocutor. Não precisamos ir longe, basta olharmos para os feitos históricos da atualidade. Há sempre duas verdades, pelo menos: a minha e a sua. Com o que acontece em Selma não foi diferente. O que importa pouco, acho eu. Já que o filme é bem feito, traz à tona um líder humano, cheio de defeitos e problemas como todos nós. Coisa que ninguém é capaz de contestar. E digo mais: gosto de algumas decisões da diretora, principalmente neste momento do cinema inundado de biografias. DuVernay faz um belo recorte dos personagens e, em poucas palavras, conta o destino futuro de cada um dos ativistas da causa de Luther King no final do filme, enquanto ainda estão fisicamente ao seu lado - não é só um letreiro no final do filme. É como se dissesse que King continua vivo na carreira que cada um deles conquistou graças à persistência e convicção de que todas as pessoas deveriam ser criadas com os mesmos direitos e deveres, e julgadas pelo caráter e não pela cor da pele. Embora às vezes não seja natural (quando vi Oprah Winfrey na tela, lembrei-me do clima falso de O Mordomo da Casa Branca), gosto do filme e o cinema é, de fato, instrumento para imortalização da história.   DIREÇÃO: Ava DuVernay ROTEIRO: Paul Webb ELENCO: David Oyelowo, Carmen Ejogo, Tim Roth, Oprah Winfrey | 128 min (2014)   ]]> 21142 0 0 0 SELMA é um interessante registro histórico da luta pelos direitos civis dos negros, encabeçada pelo líder Martin Luther King Jr.]]> CAPOTE http://cinegarimpo.com.br/capote/ Thu, 12 Feb 2015 21:41:48 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=21238 Capote, já que Foxcatcher, em cartaz, é do mesmo diretor, Bennett Miller. Lembro-me de que quando vi Capote pela primeira vez, fui atraída pelo estilo do texto desse excêntrico escritor americano. Adoro sua maneira de colocar as ideias no papel, o chamado jornalismo literário, ou New Journalism. Aqui, o autor não é mais ausente, invisível. Ele participa da narrativa, dá sua opinião, transmite seus sentimentos e usa suas ferramentas literárias de linguagem e narrativa para contar uma história real. Tem-se a impressão de estar diante de uma obra de ficção, mas não. A partir de um acontecimento específico, Truman Capote entra na história, acompanha os fatos em tempo real e espera pelo desfecho para, então, finalizar a sua versão da história. Não há fatos inventados, mas sim o claro olhar do escritor, que assume sua faceta jornalística e transcreve sua vivência para o papel. Foi assim que Capote fica famoso, em 1966. A procura de uma boa história para contar, fica fascinado por um trágico assassinato no Kansas. Uma família inteira é morta sem razão aparente. Capote acompanha desde a prisão dos suspeitos até o julgamento anos depois. Demora quatro anos para escrever A Sangue Frio e depois disso não publica mais nada. Além da história do assassinato ser inacreditável, o produto final de Capote é um marco na literatura e no jornalismo. Surgem as reportagens com olhares pessoais, o que passa a ser um alento em meio a tantas matérias frias e sem personalidade. Mas nada disso teria graça, nem brilho se Capote fosse representado por alguém menos talentoso e versátil do que Philip Seymour Hoffman (também em O Homem Mais Procurado, Dúvida), premiado com o Oscar de melhor ator pelo papel. É espetacular. Além da reconstrução de época, Hoffman encarna Capote em toda a sua esquisitice, sua personalidade única e seu fascínio pelas pessoas que conhece e pelos personagens que constrói em seu livro. Ele passa a ser personagem de sua própria obra e é modificado por ela. Talvez essa seja a essência do jornalismo de autor (outro codinome para o gênero): a fusão do criador e da criatura. DIREÇÃO: Bennett Miller ROTEIRO: Dan Futterman, Gerald Clarke (livro) ELENCO: Philip Seymour Hoffman, Clifton Collins Jr., Catherine Keener | 2005 (114 min)  
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21238 0 0 0 CAPOTE, criador e criatura se misturam no jornalismo literário e Philip Seymour Hoffman faz isso brilhantemente]]>
SNIPER AMERICANO - American Sniper http://cinegarimpo.com.br/sniper-americano-2/ Thu, 19 Feb 2015 17:06:37 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=21273 veja aqui lista de filmes do diretor). Você pode até achar que é mais um filme de guerra. Não é. Corações de Ferro, em cartaz com Brad Pitt, até se encaixa nessa prateleira. Mas Sniper Americano é diferente. Há quem diga que se trata de mais uma produção ufanista, mais uma supervalorização do soldado americano como o salvador da pátria – e do mundo. Mas não acho que seja um filme-propaganda – mesmo porque não fomos salvos, os ataques terroristas continuam acontecendo e quem vai para a guerra volta mais destruído do que se poderia imaginar. Bradley Cooper faz o seu melhor papel na pele de Chris Kyle, o ex-caubói que, ao ver as Torres Gêmeas despencarem em 2001, alista-se no exército e é escalado para o treinamento do batalhão especial SEAL – soldados treinados para agir por mar, terra e ar. Destaca-se na pontaria e vai para o front no Iraque (sim, deveria ser Afeganistão, por causa do 11 de setembro, mas não vamos discutir com Eastwood). Já casado e pai de dois filhos, vive os horrores da guerra e da responsabilidade de decidir matar quem quer que colocasse a vida dos soldados americanos em risco. Mesmo que esse alguém fosse uma criança. Kyle é  considerado um herói e um grande atirador (responsável por 160 mortes), mas paga um preço alto por isso. Casado e pai de dois filhos, vive atormentado com a guerra, que deixa difíceis sequelas. Embora tenha o viés do heroísmo americano, Sniper é um filme de combates: interno, quando ele decide enfrentar suas memórias, ajudar os veteranos e assim curar suas feridas; e externo, nas emboscadas, nas cidades cobertas por tempestades de areia e na morte dos amigos. O clima é tenso, emocionante e real. Taya Kyle que o diga. DIREÇÃO: Clint Eastwood ROTEIRO: Jason Hall, Chris Kyle ELENCO: Bradley Cooper, Sienna Miller, Kyle Gallner, Cole Konis, Ben Reed, | 2014 (132min)   ]]> 21273 0 0 0 SNIPER AMERICANO mostra Clint Eastwood em forma aos 84 anos]]> EM BUSCA DE IARA - CINEMA PELA VERDADE http://cinegarimpo.com.br/em-busca-de-iara/ Mon, 09 Mar 2015 19:05:39 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=21383 O Dia Que Durou 21 Anos, de Camilo Tavares, tem como fio condutor a liderança dos Estados Unidos na conspiração que culminaria no Golpe Militar de 1964, fundamentada em um vasto acerto de documentos. A ideia do filme é mostrar o mecanismo do início da ditadura que duraria 21 anos, mas também a trajetória de seu pai, o jornalista Flávio Tavares, um dos militantes soltos da prisão em troca da libertação do embaixador norte-americano em 1969, sequestrado por ativistas contrários ao regime militar. Agora me deparo com Em Busca de Iara, também roteirizado por uma jovem, que resgata a história da família, reabre suas cicatrizes e expõe a violência da ditadura. Com direção de Flávio Frederico, o argumento do filme é de Mariana Pamplona, sobrinha da guerrilheira Iara Iavelberg - uma mulher de família rica judia, que deixa a boa vida e junta-se aos militantes contrários ao regime militar, vive na clandestinidade, participa de ações armadas e sequestros, torna-se companheira de Carlos Lamarca e consequentemente alvo da repressão militar. O objetivo de Mariana é resgatar a história da família, destroçada com o destino de Iara, e provar que a hipótese dos militares é falsa: Iara não se suicidou, mas foi assassinada. Interessante este movimento de resgate da memória por pessoas cujas famílias foram profundamente impactadas pela ditadura, mas que eram pequenas demais na época para entender o que acontecia. Em Busca de Iara tem um tom bastante pessoal, com Mariana transitando entre os entrevistados, dando voz à sua pesquisa e mostrando que a emoção da perda e da violência ainda está bem viva. Assim como no caso de Iara, a tese do suicídio foi usada como desculpa de assassinatos, como foi provado em diversos casos nos últimos anos. Em 2015 faz 30 anos da volta da democracia no Brasil e a 4a edição da Mostra Cinema Pela Verdade exibe quatro documentários em diversas universidades do país. Em Busca de Iara (12 anos, 90 min, Brasil, 2013) é o filme de abertura no Rio de Janeiro dia 10 de março (ver programação na página da Mostra no Facebook: www.facebook.com/CinemaPelaVerdade) e representa bem o estrago que fez a ditadura na sociedade. Para quem não puder acompanhar e quiser saber o que o cinema produziu com o pano de fundo da repressão militar, o Cine Garimpo tem uma lista de filmes sobre a ditadura, que merecem a sua atenção.   Outros filmes selecionados pelos organizadores da Mostra são: Democracia em Preto e Branco, de Pedro Asbeg   Documentário, 10 anos, 90 min., Brasil, 2014. Sinopse: Durante o ano de 1982 a ditadura militar completava 18 anos. A música popular brasileira sobrevivia de metáforas, devido a grande opressão e censura, e o clube de futebol Corinthians passava por um período interno turbulento. No meio disso, o rock nacional começava a nascer. O filme mostra como a música, o esporte e a política se encontraram para mudar o rumo da história do país.   Osvaldão, de Vandré Fernandes, Ana Petta, Fábio Bardella e André Lorenz Michiles Documentário, 12 anos, 80 min., Brasil, 2014 Sinopse: A vida de Osvaldo Orlando da Costa, comandante da Guerrilha do Araguaia que virou herói entre o povo local, por conta de sua coragem e generosidade. Muitos até o consideram como um ser mítico. Uma visão não só da lenda ao redor do nome de Osvaldão, mas também de suas aventuras humanas. Vindo de uma família de ex-escravos, uma trajetória onde um jovem campeão carioca de boxe na década de 1950 se transforma em um dos principais guerrilheiros do país.   500 – Os bebês roubados pela Ditadura Argentina, de Alexandre Valenti Documentário, 14 anos, 100 min., Brasil/Argentina, 2013 Sinopse: Entre 1976 e 1983, a Argentina viveu sombrios anos de ditadura militar. Neste período, famílias inteiras foram despedaçadas pela repressão clandestina empreendida por um estado terrorista que ceifou a vida de cerca de 30 mil argentinos. Dentre as práticas mais aterradoras deste regime estava o sequestro sistemático de bebês e crianças, filhos de presos e desaparecidos políticos, que eram apropriados por seus algozes com espólio de guerra. A partir da iniciativa das Avós da Praça de Maio criou-se o “Banco dos 500”, com amostras de seu próprio sangue, o que possibilitou a descoberta de 114 das 500 crianças sequestradas. Reunidos às suas famílias reais e às suas verdadeiras identidades, os jovens nascidos nas maternidades dos campos da morte, juntamente com as Avós da Praça de Maio confrontam, em 2011, perante o Tribunal de Buenos Aires, os dignitários da mais sangrenta ditadura Argentina, acusados de genocídio e crimes contra a Humanidade: um caso histórico, único e universal. O documentário “500 – Os bebês roubados pela Ditadura Argentina” narra esta incansável luta das avós e seus netos que continua, diariamente, até que o último dos “500” seja encontrado.   Em Busca de Iara, de Flávio Frederico  Documentário, 12 anos, 90 min., Brasil, 2013 Sinopse: Através de uma investigação pessoal de sua sobrinha, Mariana Pamplona, o filme resgata a vida da guerrilheira Iara Iavelberg. Uma mulher culta e bela, que deixou para trás uma confortável vida familiar, optando por engajar-se na luta armada contra a ditadura militar. Vivendo na clandestinidade, na esteira de uma rotina de sequestros e ações armadas, tornou-se a companheira do ex-capitão do exército Carlos Lamarca, compartilhando com ele o posto de um dos alvos mais cobiçados da repressão. O filme desmonta a versão oficial do regime, que atribui sua morte, em 1971 a um suicídio.]]> 21383 0 0 0 MOSTRA CINEMA PELA VERDADE começa com o documentário EM BUSCA DE IARA, dia 10, no Rio de Janeiro]]> LIBERTEM ANGELA DAVIS - Free Angela and All Political Prisoners http://cinegarimpo.com.br/libertem-angela-davis-free-angela-and-all-political-prisoners/ Thu, 12 Mar 2015 20:03:58 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=21444 Por Eduardo Lucena

No meio de tantas estreias nos cinemas toda semana, é difícil ter espaço para documentários que, quando conseguem uma brecha na programação, entram e saem de cartaz em poucas semanas. Eventuais lançamentos do gênero em DVD acabam sendo uma forma de conhecer e apreciar trabalhos importantes, e de relevância histórica, como Libertem Angela Davis. Escrito e dirigido por Shola Lynch, o filme reconstitui parte da trajetória da ativista Angela Davis em sua luta pelos direitos civis dos negros, nos anos 1960 e 70. Afro-americana nascida no Alabama, Angela estudou filosofia em Frankfurt, na Alemanha, e retornou aos EUA em 1967. Dois anos depois, sua admissão como professora de filosofia na renomada UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles) deflagra uma crise na instituição, transformando-a  em alvo do FBI e até de Ronald Reagan, então governador da Califórnia e ferrenho opositor do comunismo. Demitida da universidade, em razão de seu envolvimento com o Partido Comunista dos EUA e com o grupo radical Panteras Negras, Angela ainda viria a ser, como o espectador verá mais tarde, incluída na lista dos 10 fugitivos mais procurados do FBI, além de ser chamada de "perigosa terrorista" pelo presidente Richard Nixon. Hoje com 71 anos, Angela é quem narra o documentário, composto por imagens de arquivo, depoimentos dos envolvidos na época e encenações com atores. Se na primeira parte acompanhamos a imersão dela nos movimentos civis, na segunda metade o filme investiga a sua prisão e julgamento, em 1970. O ataque frustrado de um jovem ligado aos Panteras Negras termina com a morte de um juiz, implicando Angela, já que as armas usadas na tragédia estavam registradas em seu nome. Foragida da justiça, ela vai a julgamento, acusada de conspiração, sequestro e assassinato, passíveis de pena de morte. Começa então uma longa batalha judicial à la Davi versus Golias, na qual Angela representa o indivíduo em luta contra as injustiças do Estado. O resultado do julgamento (e suas consequências), o espectador vai saber apenas no final. O documentário peca apenas pelo tom "chapa-branca" de sua denúncia, não dando voz a representantes das autoridades americanas, e também por não questionar o radicalismo dos Panteras Negras. Contudo, os depoimentos emocionados da biografada e as poderosas imagens de arquivo - como uma gravação de Nixon ao lado de J. Edgar Hoover anunciando a prisão de Angela, ou fotos de negros sendo espancados – causam indignação e falam por si só. Reverberam até hoje, quando vemos sucessivos (e flagrantes) casos de racismo ocorrendo não só nos EUA, mas em todo o mundo. Ao menos, Angela, diferentemente de Malcolm X e Martin Luther King (lembrado recentemente no filme Selma), sobreviveu para contar sua história.   DIREÇÃO e ROTEIRO: Shola Lynch  ELENCOAngela Davis, Eisa Davis | 2012 (102 min) ]]>
21444 0 0 0 ANGELA DAVIS sobreviveu para contar sua história neste documentário]]>
4a MOSTRA ECOFALANTE DE CINEMA AMBIENTAL http://cinegarimpo.com.br/4-ecofalante/ Fri, 20 Mar 2015 01:11:40 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=21459 4a. Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental. Interessante o título "Ecofalante"- fala por si só. Até dia 29 de março, serão exibidos filmes sobre energia, recursos naturais, biodiversidade, consumo, cidades e povos. Dos diversos filmes selecionados de 23 nacionalidades, seis foram escolhidos para ser o ponto de partida dos debates após a exibição. O que é muito bacana - o cinema enquanto ferramenta de discussão e conscientização. Considerando essa temática de cidades, lugares, natureza, povos, nada mais propício do que começar com um filme que retrata, literalmente, tudo isso: como pessoas se relacionam com o ambiente em que vivem. Através das lentes do fotógrafo Sebastião Salgado, O Sal da Terra transcende o modelo de documentário biográfico, levando o espectador a uma viagem íntima e pessoal pelo monumental trabalho do artista (foto). Para mais informações e programação, acesse o link da Mostra (acima).]]> 21459 0 0 0 O SAL DA TERRA, sobre o fotógrafo Sebastião Salgado]]> O SAL DA TERRA - Le Sel de la Terre http://cinegarimpo.com.br/o-sal-da-terra-3/ Thu, 26 Mar 2015 21:01:57 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=21501 Minha sincera - e emocionada - opinião sobre O Sal da Terra: quem tem um de seus livros ou já parou pra olhar o que Sebastião Salgado fotografa, certamente já se perguntou como é que ele chega nesses lugares. O que a gente esquece de se perguntar é quanto tempo ele levou pra fazer as fotos e o quanto esse processo foi transformador.

É essa a grande magia do filme: além de impecável, é transformador. A fotografia transformou Salgado como pessoa, um projeto deu origem ao outro pela evolução natural dos seus sentimentos e do convívio com a natureza e com as pessoas fotografadas, e transforma quem as vê.

Salgado é aquilo que ele fotografa. Dá pra sentir isso genuinamente no filme. Minha adolescente perguntou (sim, leve seu adolescente!) se todas as suas fotos eram em preto e branco. São. E por isso fazem ainda mais mágica.

Por Suzana Vidigal

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O Sal da Terra foi o filme de abertura da 4a edição da Mostra Ecofalante Ambiental e agora entra em cartaz. Considerando a temática de cidades, lugares, natureza, povos, nada mais propício do começar com um filme que retrata, literalmente, tudo isso: como pessoas se relacionam com o ambiente em que vivem. Através das lentes do fotógrafo Sebastião Salgado, O Sal da Terra, que concorreu ao Oscar de melhor documentário, transcende o modelo de documentário biográfico, levando o espectador a uma viagem íntima e pessoal pelo monumental trabalho do artista. Admirador do artista brasileiro, Wim Wenders volta ao registro documental, depois dos bem-sucedidos Buena Vista Social Club e Pina, dividindo a direção do longa-metragem com Juliano Ribeiro Salgado. Filho de Sebastião, Juliano confidenciou à imprensa que o projeto ajudou a reaproximá-lo do pai, com quem vivia uma relação distante. A fim de manter um distanciamento crítico, o jovem documentarista deixou a Wenders a tarefa de entrevistar o fotógrafo e narrar sua epopeia, desde os anos de formação, no interior de Minas Gerais, até o exílio político em Paris, a partir de 1969.  A nova vida na França levou Sebastião a largar a profissão de economista e a se reinventar – com o inestimável apoio da esposa Lélia – como um dos maiores fotojornalistas do mundo. O resto é história: mais de 40 anos dedicados a capturar a vida humana sob condições extremas, em diferentes continentes. Com tanta história para contar, O Sal da Terra, vencedor do prêmio do júri da seção Um Certo Olhar na última edição do Festival de Cannes, consegue a proeza de dar uma geral na obra de seu biografado (principalmente para quem não a conhece), e ao mesmo tempo lançar uma luz sobre o indivíduo por trás do artista, sem apelar para o excesso de depoimentos de terceiros. Projetos que consumiram anos – como "Trabalhadores", "Serra Pelada", “Êxodos" ou o recente "Gênesis" – ganham vida com a projeção de imagens na tela. Ampliadas, as fotografias impressionam. Provocam emoção. E evocam uma série de reminiscências, como anedotas e histórias comoventes vividas por Sebastião ao lado de seus fotografados. A fisionomia serena e os olhos brilhantes do fotógrafo, refletidos no projetor enquanto vê seu trabalho, dizem tudo. Expressam a relação íntima que mantinha com seus objetos de estudo, seu respeito à cultura do “outro” e sua incansável busca pela dignidade humana, mesmo nas piores circunstâncias. Com O Sal da Terra, compartilhamos um pouco de sua humanidade.

Por Eduardo Lucena

DIREÇÃO: Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado ROTEIRO: Wim Wenders, Juliano Ribeiro Salgado e David Rosier ELENCO: Sebastião Salgado, Lélia Wanick Salgado | 2014 (110 min)   ]]>
21501 0 0 0 O SAL DA TERRA: as fotografias de Sebastião Salgado prescindem de palavras]]>
STEVE JOBS http://cinegarimpo.com.br/steve-jobs/ Mon, 18 May 2015 16:46:26 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=21821     ]]> 21821 0 0 0 STEVE JOBS com Michael Fassbender (ainda sem previsão de estreia)]]> ]]> STEVE JOBS http://cinegarimpo.com.br/steve-jobs-2/ Wed, 01 Jul 2015 22:06:13 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=22104 ]]> 22104 0 0 0 STEVE JOBS, dirigido por Danny Boyle, de Quem Quer Ser Um Milionário, promote ser um filme decente sobre o visionário - ainda sem previsão de estreia por aqui]]> ]]> DIOR E EU - Dior and I http://cinegarimpo.com.br/dior-e-eu/ Fri, 28 Aug 2015 11:55:26 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=22295 Dior e Eu vale o ingresso. Mostra os bastidores de um desfile, mas nada ali é um "qualquer". Estamos falando da Maison Dior, daquele que foi nomeado para substituir o inglês John Galliano depois do escândalo causado pela declaração de que "amava Hitler", da capacidade de criar uma coleção, liderar uma equipe e planejar não só um desfile, mas seu début no mundo da alta costura diante dos olhos do mundo. Não é pouca coisa e não é para qualquer um. Portanto, goste você de moda ou não, dê uma espiada no que este jovem e talentosíssimo estilista foi capaz de fazer em meras oito semanas de trabalho. Honesto e fiel, Dior e Eu não é um filme oficial da Maison, mas seus dirigentes não vetaram momentos em que o diretor Frédéric Tcheng mostrou a faceta dura e inflexível do líder Raf Simons, um estilista belga que nunca tinha pisado no mundo da alta costura, estava acostumado a criar coleções de prêt-à-porter e tinha sobre ele todos os holofotes do planeta da moda mundial. Mas também não vetaram seu desabafo final, sua euforia e emoção ao ver o projeto concretizado com sucesso. Pouquíssimo tempo, nenhuma intimidade com o processo de produção, nem com sua equipe. Por outro lado, toda a liberdade para construir sua imagem na casa em que seu criador, Christian Dior, trabalhou somente por 10 anos (1947-57) e deixou um legado inquestionavel de elegância, delicadeza e beleza, no pós-guerra em que a mulher era uma mulher-soldado. Ele devolve a figura da mulher-flor em seus vestidos, resgata a feminilidade. Simons tinha esse legado como referência, esses dez anos revolucionários para criar algo dinâmico, com toque pessoal e contemporâneo. Outros filmes sobre moda surgiram recentemente, inclusive dois sobre a trajetória de Yves Saint Laurent (Yves Saint Laurent e Saint Laurent). Chanel também tem um filme com Audrey Tautou, Coco Antes de Chanel, e outro chamado Coco Chanel & Igor Stravinsky, mas todos são obras de ficção. O bacana aqui é que Dior e Eu é um documentário, pelas mãos e olhos do diretor francês Tcheng, que já tinha registrado o mundo da moda em Diana Vreeland: The Eye Hás to TravelValentino: The Last Emperor. Parece que pegou mesmo o jeito da coisa, além, é claro, de ser um colírio para os olhos.     DIREÇÃO e ROTEIRO: Frédéric Tcheng ELENCO: Raf Simons, Sharon Stone, Jennifer Lawrence, Grace Coddington, Marion Cottilard, Isabelle Huppert | 2014 (90 min) ]]> 22295 0 0 0 DIOR E EU: como foi que Raf Simons, o novo diretor de arte da Maison Dior, criou sua primeira coleção de alta costura em 2012]]> AMY http://cinegarimpo.com.br/amy/ Thu, 15 Oct 2015 13:46:39 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=22447 Amy Winehouse - e quem não gosta? - assistir a este documentário na telona deve ser realmente muito emocionante. Foi lançado oficialmente em Cannes e superelogiado pela crítica. Quem dirige é Asif Kapadia, o mesmo cineasta que pilotou o ótimo documentário Senna, sobre o nosso grande piloto. Tem o mesmo viés imparcial e humano, muito realista, mostrando pontos de vista bem diferentes: traz muito da própria Amy, de seu pai, seu empresário, seu marido, sua melhor amiga. Dá só uma espiada no trailer.    ]]> 22447 0 0 0 AMY é sensacional e tem sessões extras dias 4 e 6 de outubro!]]> GARIMPO NA NETFLIX | O documentário AMY, que concorre ao Oscar e é muito bom, já está disponível ]]> A TRAVESSIA - Pra quem não tem medo de altura http://cinegarimpo.com.br/a-travessia/ Thu, 08 Oct 2015 18:05:02 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=22568 A Travessia já foi contada uma vez, no documentário O Equilibrista de 2008, que ganhou o Oscar de melhor documentário naquele ano. Mas isso não invalida a ficção, muito pelo contrário: complementa. Junte os dois títulos e chegamos no enredo desta aventura: A Travessia e O Equilibrista. Philippe Petit, super ousado e super competente, resolve traçar um plano para superar todos os seus feitos anteriores, que não eram poucos: desta vez ele quer simplesmente colocar um cabo de aço entre as Torres Gêmeas do World Trade Center, em Nova York. Tudo isso aconteceu  em 1974, um ano depois da inauguração das torres. Petit (Joseph Gordon-Levitt, também em Como Não Perder Essa Mulher, 500 Dias Com Ela) ficou famoso não só porque enfrentou as autoridades americanas, porque essa tipo de aventura é ilegal, mas principalmente porque desafiou a lei da física - vale lembrar que as torres que caíram nos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 tinham, nada mais, nada menos do que 413 metros de altura. Apaixonado pela profissão e obcecado com a ideia da travessia, junta alguns amigos e monta uma equipe bem amadora para ajudá-lo executar o plano de ação: ele teria que entrar no prédio, subir até o topo, driblar os vigilantes, posicionar o cabo de aço entre as torres e atravessar o vazio entre elas antes de ser preso pela polícia. Vou te dar três motivos para justificar que o filme vale o seu ingresso: o primeiro é que o diretor Robert Zemeckis, também de Náufrago e O Voo, é muito eficiente na construção do personagem - consegue transmitir a  persistência e a determinação de Philippe – características fundamentais pra fazer q gente acreditar nesse plano mirabolante; o segundo é os acontecimentos estão sempre por um triz, literalmente - isso faz com que o suspense dessa história seja muito realista; e o terceiro é que as Torres Gêmeas não existem mais, e isso sempre gera uma sensação, no mínimo, esquisita. É de tirar o fôlego.   DIREÇÃO: Robert Zemeckis ROTEIRO: Robert Zemeckis, Christopher Browne, Philippe Petit ELENCO: Joseph Gordon-Levitt, Charlotte Le Bon, Ben Kingsley | 2015 (123 min)     ]]> 22568 0 0 0 A TRAVESSIA é de tirar o fôlego - literalmente]]> GRACE DE MÔNACO - Grace of Monaco http://cinegarimpo.com.br/grace-de-monaco-grace-of-monaco/ Sat, 07 Nov 2015 19:39:37 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=22729 Piaf - Um Hino ao Amor, que premiou Marion Cotillard no Oscar e Globo de Ouro. Nem dá pra acreditar, porque a "pegada" é completamente diferente. Considerando que são duas biografias de duas mulheres importantes e mundialmente famosas, eu estava esperando uma Grace Kelly à altura de Piaf: capaz de me emocionar genuinamente. Minha dica é: não vá com muita sede, achando que vai encontrar uma registro incrível sobre o conto de fadas de Mônaco. Tinha tudo pra ser isso mesmo, porque a história boa já veio de lambuja. Mas o problema é o formato, a luz, a abordagem. Fica mais pra uma "Sessão da Tarde", bem parecido com Diana que, apesar de ter a estrela Naomi Watts, também passou despercebido (nem estreiou no cinema). Deve ser difícil se superar com personagens assim tão marcantes e não cair no conto de fadas às avessas. Mas é aqui que entra a mão sábia e talentosa do roteirista, que consegue perceber essas ciladas e buscar alternativas. Em Grace de Monaco, embora Nicole Kidman seja uma excelente atriz (também em As Horas, Os Outros, Antes de Dormir, Segredos de Sangue), não consegue salvar a pátria - nem o reinado. Pra quem gosta de reis e rainhas, das alegrias e amarguras dessas histórias, pode ter um encantamento parecido com aquele do conto de fadas - morno e raso. Agora, é preciso dizer que, em termos de beleza, é espetacular e digno de uma princesa realmente. O foco do filme é a crise no casamento de Grace Kelly e do príncipe Rainier, de Mônaco, que coincide com um momento político delicado no principado. No início dos anos 1960, o general Charles de Gaulle quer incorporar Mônaco à França e isso causa uma saia justa e tanto nas finanças e na condição independente do paraíso europeu. É neste momento que o casamento está estremecido, que a ex-atriz quer resgatar seu lugar ao sol em Hollywood, mas já não tem domínio sobre sua vida, já é uma figura pública. Portanto, adeus vida própria e é aí que a está o conflito do filme. Não entendi até agora - acho que ninguém entendeu - como é que este foi o filme de abertura de Cannes em 2014. Aliás, o que não faz a política neste mundo, inclusive do cinema...   DIREÇÃO: Olivier Dahan ROTEIRO: Arash Amel ELENCO: Nicole Kidman, Tim Roth, André Penvern | 2014 (103 min)    ]]> 22729 0 0 0 GRACE DE MÔNACO: visual digno de uma princesa no formato de Sessão da Tarde]]> ALIANÇA DO CRIME - Black Mass http://cinegarimpo.com.br/alianca-do-crime/ Thu, 12 Nov 2015 21:00:03 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=22762 Alice no País das Maravilhas, a franquia Piratas do Caribe, Eduardo Mãos de Tesoura, Willy Wonka, todos têm seu mérito, mas confesso que o gênero que Depp faz me cansa um pouco. Por isso foi uma grata surpresa vê-lo de volta na telona no formato de gente de verdade – vale lembrar que ele já esteve do lado dos mafiosos em Inimigos Públicos. Em Aliança do Crime ele é o gângster James "Whitey" Bulger, o mais violento e mais temido criminoso de Boston nos anos 1970. É gente, embora não seja nada, nada humano. A história é real e permeia aquele período tenebroso em que as famílias mafiosas disputavam território com os criminosos traficantes locais, aumentando horrores o índice de criminalidade das cidades americanas. O interessante aqui, além da interpretação do protagonista, é o envolvimento dos órgãos oficiais do governo americano no crime. Whitney Bulger é irmão de um senador e amigo de infância de um agente do FBI, que tal? Claro que interesses privados e familiares são misturados no negócio de tráfico de influência, drogas, dinheiro, poder e violência – e esse é o lado mais humano do filme. Afinal, como é possível separar? Além de Johnny Deep, Aliança do Crime conta com elenco estrelado. Tem Benedict Cumbarbatch (também em O Jogo da Imitação, Álbum de Família, 12 Anos de Escravidão) e Joel Edgerton, que está muito bem no papel do sujeito que não se segura diante das tentações que vêm junto com o poder. Quanto à Dakota Johnson, faz uma ponta. Mas é um colorido no meio de tanta violência.   DIREÇÃO: Scott Cooper ROTEIRO: Mark Mallouk, Jez Butterworth ELENCO: Johnny Depp, Benedict Cumberbatch, Dakota Johnson, Joel Edgerton, Kevin Bacon, Julianne Nicholson | 2015 (122 min)   ]]> 22762 0 0 0 ALIANÇA DO CRIME é real e é pra quem gosta de filmes de gângster - com bastante violência, falta de ética e Johnny Depp ]]> COCO ANTES DE CHANEL - Coco Avant Chanel http://cinegarimpo.com.br/coco-antes-de-chanel/ Fri, 13 Nov 2009 08:15:17 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=1447 Coco Antes de Chanel é um registro bonito dos costumes e do figurino de uma época, um romance sem final feliz. Não causa, nem de longe, a comoção de Piaf - Um Hino ao Amor, por exemplo, também francesa, também diva, também tragicamente marcada pelas tristes trajetórias da vida. Aliás, eu diria que não emociona, mas encanta por sua beleza plástica.   DIRETORA: Anne Fontaine ELENCO: Audrey Tautou, Benoît Poelvoorde, Alessandro Nivola, Marie Gillain, Emmanuelle Devos | 2009 (110 min)     ]]> 1447 0 0 0 GARIMPO NA NETFLIX | Alta costura e muito charme em COCO ANTES DE CHANEL, com Audrey Tautou]]> VINCERE http://cinegarimpo.com.br/vincere/ Wed, 04 Aug 2010 20:30:39 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=4901 Vincere. Justificado - o filme é mesmo imperdível. No começo tem-se a impressão de que se trata de um romance histórico, mas o que se vê na telona é tão intenso e dramático, que vai além da simples classificação de “filme de época”. É o retrato da Itália autoritária de Benito Mussolini e de outros ditadores; é o retrato da sede de poder e do desprezo pelo ser humano, mas também da determinação, do amor desmedido e da compaixão. Não fala exatamente sobre a trajetória do Duce. Sua ascenção é mostrada através da vida de Ida Dalser (a ótima Giovanna Mezzogiorno), sua amante e mãe de seu primogênito. É o seu drama pessoal que dá o tom, mas é o olhar do diretor Marco Bellocchio que confere ao filme a áurea de uma ópera, no que ela tem de mais artístico e dramático. Ida Dalser se apaixona por Mussolini enquanto ele ainda é sindicalista. Não desiste de provar que é sua esposa, mesmo quando ele deixa o socialismo para fundar a ditadura facista, mesmo quando se casa com outra. Embora seja uma história com poucos registros, Bellocchio dirige o filme com as informações disponíveis, envolve personagens fictícios e o recheia com imagens reais do líder direitista, seus discursos, a mobilização de massa, a Itália nas duas Guerras Mundiais. Impressiona a decisão de não mais usar o ator Filippo Timi para representar o Duce depois que ele se torna facista – o ator passa a representar seu filho, Benito Albino. Agora são as imagens reais históricas do próprio Mussolini que passam a rondar a vida de Ida, presa em um manicômio para não perturbar a estabilidade familiar do líder; são elas que levantam a questão da formação da liderança, da manipulação das massas e do discurso, do interesse político, da posição muitas vezes hipócrita da Igreja, em contraposição à escolha pela verdade por parte de Ida. Plasticamente, Vincere (perdeu a Palma de Ouro em Cannes para A Fita Branca) é impecável e seus planos belíssimos, tanto dos amantes jovens, quanto de Ida no sanatório, dão suporte ao que se quer discutir. Sempre que o cinema é ferramenta para construção do significado do próprio filme, ele por si só dá, à sétima arte, uma real importância histórica – como se vê em várias passagens deste filme. Mas mesmo se for só pelo prazer de assistir a um filme minuciosamente cuidado em todos os seus aspectos, o próprio Bellocchio já foi um vencedor.   DIRETOR: Marco Bellocchio ROTEIRO: Marco Bellocchio e Daniela Ceselli ELENCO: Giovanna Mezzogiorno, Filippo Timi, Michela Cescon, Corrado Invernizzi, Fausto Russo Alesi, Pier Giorgio Bellocchio, Paolo Pierobon |  2009 (128 min)   ]]> 4901 0 0 0 CHOCOLATE - Chocolat http://cinegarimpo.com.br/?p=20384 Wed, 30 Nov -0001 00:00:00 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=20384 20384 0 0 0 MALALA - He Named Me Malala http://cinegarimpo.com.br/malala/ Thu, 19 Nov 2015 00:19:38 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=22776 Malala tem todo um significado especial, que o filme mostra através de lindas ilustrações. É daí que vem o título original deste documentário: He Named Me Malala. Quem deu a essa pequena grande mulher o nome de Malala foi seu pai, o guardião de toda a sua trajetória. Mas ela diz com todas as letras: "Ele me deu o nome, mas eu escolhi me tornar uma Malala". Portanto, é uma escolha. Tornar-se uma referência na luta pelo direito à educação de meninas em todo o mundo aos 15 anos, mesmo depois de ter levado um tiro dos militantes do Talibã em 2012 e ter ficado entre a vida e a morte, foi uma escolha. Mas o que mais impressiona é a opção pela vida, pela alegria e pela atitude de não-violência. E isso é explícito, não é só discurso. Por mais triste que seja, é interessante pensar que Malala estreia justamente na semana em que os atentados em Paris deixaram o mundo em polvorosa. Optar por atitudes de tolerância, aceitação e respeito parece ser mesmo a melhor resposta a tudo isso que vem acontecendo. E a paquistanesa assina em baixo. Neste documentário, conhecemos a menina doce de fala mansa, que em nenhum momento se revolta, que sempre prega a paz e que tem sua família como alicerce e seu pai como pilar principal e inquestionável. O filme não tem nada de muito extraordinário e nem precisava. Mostra Malala no ambiente familiar, imagens dela com amigos, fazendo tudo que uma criança ou adolescente faz em qualquer lugar do mundo. O extraordinário fica por conta da convicção de que sua missão era entrar em ação e fazer a diferença. Inspirador!   DIREÇÃO: Davis Guggenheim ELENCO: Malala Yousafzai, Ziauddin Yousafzai, Toor Pekai Yousafzai | 2015 (88 min) ]]> 22776 0 0 0 MALALA estreia na semana em que mais precisamos da atitude de não-violência]]> CHATÔ, O REI DO BRASIL http://cinegarimpo.com.br/chato-o-rei-do-brasil/ Tue, 17 Nov 2015 21:33:42 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=22778 Chatô, O Rei do Brasil, me perguntaram se era fiel ao livro escrito por Fernando Moraes. Já li faz uns bons 15 anos e confesso que não me animo a pegar novamente aquelas 720 páginas pra conferir (embora seja muito bem escrito e mereça ser lido sim!). Tudo isso pra dizer que não me lembro se o diretor Guilherme Fontes, que demorou nada mais, nada menos que 20 anos para concluir o filme, envolto em sombrios financiamentos com dinheiro público, foi realmente fiel ao livro biográfico. E isso pouco importa, diga-se de passagem. Porque o filme é bem feito e tem uma construção interessante dentro do enorme universo de realizações desse excêntrico magnata da comunicação. Francisco de Assis Chateaubriand era paraibano, semi-analfabeto até os 12 anos e tem esse nome porque sua mãe era devota do santo e seu pai, fã do poeta francês Chateaubriand. Aí já começa a esquisitisse do sujeito simples, que seria um dos homens mais poderosos de meados do século 20 no Brasil, como jornalista, empresário, político e mecenas - é ele o fundador do MASP, afinal de contas. Superinfluente, Chatô era amado e odiado, um mulherengo inveterado e um sujeito que ficou pra história - goste você dele ou não. Por isso tudo, gosto da cara que Fontes deu ao roteiro: mistura os delírios de um Chatô (na pele de Marco Ricca) já no fim da carreira, agonizando por causa das sequelas de um derrame, e as maluquices e ousadias do tempo de empresário e jornalista. Numa história tão cheia de detalhes, visões ambíguas, muitas verdades e pontos de vista, acho que foi uma saída interessante para não cair no conto da verdade suprema da biografia - que, pelo que me lembro, em se tratando do controverso Chatô, isso seria uma verdadeira armadilha. Vale dizer que o elenco que cerca o personagem de Marco Ricca, envolvido até o último fio de cabelo com seu ego, mulheres e política, é muito interessante. Andréa Beltrão (também em Pequeno Dicionário Amoroso 2, A Partilha) está incrível como sempre no papel da poderosa amante de Chatô, e Paulo Betti, uma caricatura sulista do Getúlio. Chega a ser engraçado o tom forçado do sotaque - mas não incomoda, porque o filme todo tem esse tom do excêntrico que beira o ridículo, condizente com a figura do magnata, que precisou ousar muito para inovar e fazer outras cositas más.   DIREÇÃO: Guilherme Fontes ROTEIRO: João Emanuel Carneiro, Guilherme Fontes, Matthew Robbins ELENCO: Marco Ricca, Andréa Beltrão, Leandra Leal, Leticia Sabatella, Paulo Betti, Gabriel Braga Nunes, Eliane Giardini, Zezé Polessa, Marcos Oliveira, Ricardo Blat, Alexandre Régis, Walmor Chagas, José Lewgoy | 2015 (102 min) ]]> 22778 0 0 0 CHATÔ, O REI DO BRASIL demorou 20 anos pra ficar pronto, mas é um recorte bacana da vida do magnata excêntrico]]> STEVE JOBS http://cinegarimpo.com.br/steve-jobs-3/ Mon, 18 Jan 2016 11:35:37 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=23032 Por Suzana Vidigal

O efeito dos feitos de Steve Jobs a gente sente na pele. E nos dedos. O sujeito revolucionou a maneira com a gente se comunica, interage, pensa, ouve música, tralha, vive. Acho que chega a isso tudo sim. Basta olhar ao redor. O bacana deste Steve Jobs do diretor Danny Boyle (também de Quem Quer Ser Um Milionário, 127 Horas) é que, diante de tantos feitos, o foco escolhido não foi a história linear da criação da Apple, seus aparelhos únicos e incompatíveis, seu fracasso, a criação da Next e sua recontratação para, enfim, mudar o mundo como ele mesmo disse que seria capaz. Ele conta tudo isso, mas a energia é colocada no Steve Jobs dos bastidores, sua relação com os colaboradores, com a filha, seu ego, obstinação, determinação e genial visão de futuro. Não tem nada a ver com o outro filme Jobs, de 2013, com Ashton Kutcher – que é sofrível. Aliás, Kutcher não tem nada a ver com Michael Fassbender, que ao lado da fiel assistente representada por Kate Winslet (levou o Globo de Ouro pelo papel), dão ao filme a intensidade e veracidade das relações nos bastidores dos lançamentos dos produtos. Mostra a dualidade das decisões, visões de mundo e das relações entre as pessoas. Retratar os caras geniais não é fácil e Boyle é muito feliz na sua escolha.   DIREÇÃO: Danny Boyle ROTEIRO: Aaron Sorkin, Walter Isaacson (livro) ELENCO: Michael Fassbender, Kate Winslet, Seth Rogen, Jeff Daniels, Michael Stuhlbarg, Katherine Waterston| 2015 (122 min)   ]]>
23032 0 0 0 STEVE JOBS dispensa apresentações e vale a pena você saber dos bastidores!]]>
WHAT HAPPENED, MISS SIMONE? http://cinegarimpo.com.br/what-happened-miss-simone/ Tue, 19 Jan 2016 17:46:59 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=23058 What Happened, Miss Simone? foi indicado ao Oscar de melhor documentário, concorrendo com Amy, sobre a também talentosíssima artista Amy Winehouse. Páreo duro e a gente é que sai ganhando. Imperdíveis! DIREÇÃO: Liz Garbus ELENCO: Lisa Simone Kelly, James Baldwin, Stokely Carmichael, Walter Cronkite | 2015 (101 min)  
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23058 0 0 0 GARIMPO NA NETFLIX | Bela surpresa saber que WHAT HAPPENED, MISS SIMONE? é indicado ao Oscar de melhor documentário, ao lado de AMY]]>
TRUMBO - LISTA NEGRA - Trumbo http://cinegarimpo.com.br/trumbo-lista-negra-trumbo/ Fri, 29 Jan 2016 13:38:38 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=23091 A Princesa e o Plebeu e Spartacus, mostra bem que coerência, aliada à criatividade, acabam vencendo a luta. Talentoso e requisitado pelos mais famosos estúdios de Hollywood como Columbia, Paramount, 20th Century-Fox, M.G.M., Trumbo passa a ser perseguido pelo Comitê de Atividades Antiamericanas por não colaborar com as investigações e não delatar aqueles que o governo considerava comunistas. Não cede às pressões, fica preso por um ano, perde dinheiro, prestígio e o emprego, e dá a volta por cima escrevendo (sem parar!) com pseudônimos. De tão boas, as histórias são compradas pelos estúdios de cinema, os filmes são feitos e premiados, sem que Trumbo leve as glórias. Eu não conhecia a história deste personagem, incrivelmente interpretado por Bryan Cranston (o inesquecível Walter White da série Breaking Bad, indicado agora ao Oscar). Por isso, aproveite cada detalhe, que são gratas surpresas: a sua postura enquanto personagem e ator, as relações familiares, a decisão dos estúdios, a reconstituição da época, a ousadia dos amigos e colegas de trabalho que sabiam que a arte poderia derrubar o argumento frágil daquela lista negra. Trumbo é um filmaço, forte e impactante. Um personagem inspirador para quem escreve e acredita na força que têm as palavras.   DIREÇÃO: Jay Roach ROTEIRO: John McNamara, Bruce Cook ELENCO: Bryan Cranston, Daine Lane, Helen Mirren, John Goodman, Elle Fanning, Michael Stuhlbarg| 2015 (124 min)   ]]> 23091 0 0 0 TRUMBO: venceu a repressão escrevendo ]]> A GAROTA DINAMARQUESA - The Danish Girl http://cinegarimpo.com.br/a-garota-dinamarquesa-2/ Thu, 11 Feb 2016 21:23:28 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=23142 A Garota Dinamarquesa abordando esse seu tema principal: a história real de Lili, uma artista plástica transgênera, que viveu nos anos 1920 na Dinamarca e que foi pioneira na mudança de sexo. E é isso mesmo. Além de lindo e delicado, o filme tem esse protagonismo importante, na pele do excelente ator Eddie Redmayne (vencedor do Oscar com o personagem Stephen Hawking em A Teoria de Tudo). Portanto, pela qualidade cinematográfica, pela atuação da atriz sueca Alicia Vikander (também em O Amante de Rainha), pela beleza da luz, do figurino, das cores, da reconstituição da época, vale seu ingresso. Sem dúvida. Mas vale ainda mais se pensarmos naquilo que possibilitou Einar Wegener se perceber mulher, aceitar-se dessa maneira e tomar a decisão de mudar de sexo. Tudo teria sido diferente se o amor de sua esposa Gerda não tivesse sido incondicional. E aqui, dá pra ir bem longe nas questões humanas de aceitação e compaixão. Não acho que Tom Hooper, também diretor de O Discurso do Rei e Os Miseráveis, foi conservador na sua leitura do personagem. Ele faz a escolha do tom certo, para que A Garota Dinamarquesa chegasse para o espectador com a convicção e a força que o tema merece, mas principalmente com a intensidade dessa relação humana que abraça, acolhe e faz toda a diferença.   Concorre ao Oscar em quatro categorias: ator, atriz coadjuvante, direção de arte e figurino.   DIREÇÃO: Tom Hooper ROTEIRO: David Ebershoff, Lucinda Coxon ELENCO: Eddie Redmayne, Alicia Vikander, Amber Heard, Matthias Schoenaerts, Sebastian Kock | 2015 (119 min) ]]> 23142 0 0 0 A GAROTA DINAMARQUESA: transgeneridade, mas principalmente amor]]> O DONO DO JOGO - Pawn Sacrifice http://cinegarimpo.com.br/o-dono-do-jogo-pawn-sacrifice/ Tue, 03 May 2016 14:54:41 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=23457 Pawn Sacrifice, numa referência ao peão do jogo de xadrez – peça com menos autonomia no jogo, com movimentos mais limitados e menos poder. Assim são os dois geniais jogadores do filme: tanto o americano, quanto o russo são peões, marionetes nas mãos de seus respectivos governos que, em plena Guerra Fria, lutam pela hegemonia mundial do capitalismo e do socialismo, respectivamente, manipulando seus cidadãos como for melhor para a imagem e influência do país. Já dá pra ver que a versão em português não carrega essa nuance, o que é uma pena. Isso não prejudica, é só uma curiosidade que faz todo o sentido. É verdade que O Dono do Jogo foca é biográfico. Conta a história de vida do gênio do xadrez, os americano Bobby Fischer, que se torna o mais jovem campeão americano nos anos 1960, considera-se o melhor do mundo e cisma em enfrentar o campeão mundial Boris Spassky. Mente brilhante, enfrenta o desafio até o final no campeonato mundial na Islândia em 1972, mas sua genialidade acaba engolida pelos transtornos psíquicos e sua vida fica bem dura no final. Além da história real muito boa e do ótimo elenco, o retrato do momento histórico é o ponto forte. Como bem disse um dos personagens, outros ícones da história também se perderam na sua genialidade, que transcende o entendimento das pessoas normais. Mozart, por exemplo. Rever o jogo de poder, as nações espionando tudo e todos, a desconfiança instalada em todos os campos do conhecimento e a propaganda política é sempre uma boa aula da nossa história mundial bem recente, que o diretor Edward Zwick, também de Diamante de Sangue, faz muito bem. DIREÇÃO: Edward Zwick ROTEIRO: Steven Knight, Stephen J. Rivele ELENCO: Tobey Maguire, Liev Schreiber, Peter Sarsgaard, Michael Stuhlbarg, Lily Rabe, Robin Weigert | 2014 (115 min)]]> 23457 0 0 0 O DONO DO JOGO: belo retrato da Guerra Fria e da guerra publicitária]]> PARATODOS http://cinegarimpo.com.br/paratodos/ Thu, 23 Jun 2016 22:48:42 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=23593 Paratodos pra ver a dimensão. Mas dá pra pensar o seguinte: o Brasil ficou em sétimo lugar no quadro de medalhas na Paralimpíada de Londres. Se é sétimo com essa estrutura precária que temos e com a falta de respeito do poder público com aqueles que têm alguma deficiência física, imagina o que seríamos se o país fosse um pouco mais competente. Aqui dá pra dar um grande suspiro - de pesar e de alívio. Ainda tem luz no fim do túnel, porque tem gente com muita raça nessa vida. As histórias são inacreditáveis. Quando der preguiça de alguma coisa ou vontade de reclamar de bobagem, lembra da Terezinha, que a velocista mais rápida do mundo - e também psicóloga, que já planeja, quando encerrar a carreira de atleta, ser terapeuta esportiva; lembra do Daniel, que nasceu com má formação nos braços e pernas e já tem 15 medalhas paralímpicas; do Alan, bi-amputado que venceu o sulafricano Pistorius em 2012 e levou o ouro nos 200m rasos; do remador paraplégico, que era modelo, sofreu um acidente, ficou paraplégico e hoje é tetracampeão mundial de paracanoagem; lembra da Susana, triatleta que fazia Ironman, foi diagnosticada com uma doença degenerativa, luta contra o avanço cruel desse mal, que consome seus movimentos a cada dia. E aí, tá reclamando de quê, mesmo?   DIREÇÃO: Marcelo Mesquita  ROTEIRO: Peppe Siffredi ELENCO: Alan Fonteles, Daniel Dias, Fernando Fernandes, Ricardinho, Terezinha Guilhermina, Fernando Cowboy Rufino, Susana Schanarndorf, Yohansson do Nascimento | 2016 (110 min)        ]]> 23593 0 0 0 PARATODOS: deficiente é quem enxerga com olhos limitados]]> NISE: O CORAÇÃO DA LOUCURA http://cinegarimpo.com.br/nise-o-coracao-da-loucura-2/ Fri, 19 Aug 2016 11:59:24 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=23689 Nise me faz lembrar de Bicho de Sete Cabeças, de Laís Bodanzky. Rodrigo Santoro é internado em um hospital psiquiátrico, na época em que o tratamento era à base de eletrochoques, lobotomia e sedação. É com esse tipo de paciente - que passam a ser chamados de "clientes"- que a médica Nise da Silveira começa o trabalho de Terapia Ocupacional e revoluciona a forma de lidar com pessoas que sofrem transtornos mentais como a esquizofrenia. Nise não é um grande filme - mas tem um tom poético, bonito - mas é uma grande história. Registra a vida e coragem da psiquiatra que volta para trabalhar num hospital para doentes mentais depois de ter sido afastada, contesta as técnicas invasivas e ineficientes da medicina tradicional e é isolada na área de terapia ocupacional. Sem qualquer recurso ou importância, esse departamento não tem crédito. Mas é nele que Nise (Glória Pires, também em Flores Raras) aposta suas fichas, enfrenta o corpo médico, coloca sua carreira em perigo e aplica um tratamento fundamentado na expressão artística e no afeto. Os resultados são transformadores. Vale a pena assistir (ainda em cartaz, mas já no digital pra ver em casa) por pelo menos dois motivos: primeiro porque Nise é fonte de inspiração - graças a pessoas ousadas e sensíveis como ela que os doentes passam a ser vistos sob um prisma humano e generoso, podem ser curados e ter uma vida digna; segundo porque o filme traz depoimentos da verdadeira Nise, uma pequena grande senhora, que esbanja alegria e disposição. E muita, muita coragem.   DIREÇÃO: Roberto Berliner ROTEIRO: Flavia Castro, Maurício Lissovsky ELENCO: Glória Pires, José Carlos Machado, Simone Mazzer, Julio Adrião, Fabrício Boliveira, Roney Villela, Flavio Bauraqui   ]]> 23689 0 0 0 NISE: O CORAÇÃO DA LOUCURA | Amor e expressão artística no tratamento de doenças mentais]]> O HOMEM QUE VIU O INFINITO - The Man Who Knew Infinity http://cinegarimpo.com.br/o-homem-que-viu-o-infinito-the-man-who-knew-infinity/ Fri, 23 Sep 2016 13:39:27 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=23822 Mente Brilhante? Fico imaginando quantos gênios improváveis têm escondidos por aí, fazendo a diferença nas várias áreas do conhecimento. Srinivasa Ramanuja é um deles. É verdade que a matemática complexa que Ramanuja domina não faz parte do repertório fora dos meios acadêmicos, mas os teoremas do jovem, que era atendente alfandegário em uma pequena cidade da Índia colonial em 1913, são analisados até hoje. Obcecado pelo estudo, Ramanuja entra em contato com a elegante e conceituada Universidade de Cambridge, na Inglaterra, consegue chamar a atenção de um importante professor e arrisca tudo para provar suas teorias. Além de ser um filme sobre as diferenças culturais e o preconceito, O Homem Que Viu O Infinito é sobre a amizade que nasce entre o indiano e o inglês. Dev Patel (também em Quem Quer Ser Um Milionário) e Jeremy Irons (também em Beleza Roubada) formam uma boa dupla, principalmente na caracterização dessa disparidade cultural – o que, no fim das contas, não deveria fazer diferença alguma. DIREÇÃO e ROTEIRO: Matt Brown ELENCO: Dev Patel, Jeremy Irons, Malcolm Sinclair | 2015 (108 min)   ]]> 23822 0 0 0 O HOMEM QUE VIU O INFINITO: quando a diferença cultural não deveria fazer diferença]]> CANTA, ELIS! http://cinegarimpo.com.br/canta-elis/ Thu, 20 Oct 2016 21:37:04 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=23913 ]]> 23913 0 0 0 ELIS entra em cartaz em novembro! Espia só o trailer. ]]> PEQUENO SEGREDO http://cinegarimpo.com.br/pequeno-segredo-2/ Sun, 13 Nov 2016 21:40:12 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=23956 Pequeno Segredo é um filme essencialmente feminino”, diz o diretor David Schurmann durante entrevista coletiva, o irmão da garota. E é mesmo, já que as figuras centrais são as mulheres. Escolhido para representar o Brasil na corrida pelo Oscar de melhor filme estrangeiro (ainda vai passar por uma peneira em Los Angeles, até serem escolhidos os cinco que entram na reta final), Pequeno Segredo tem, de fato, um roteiro naturalmente emocionante, já que conta uma linda história de amor e dedicação. Pena que o cinema não esteja à altura desse relato e deixe a gente com vontade de realmente se emocionar.   DIREÇÃO: David Schurmann ROTEIRO: Marcos Bernstein, Vitor Atherino, David Schurmann ELENCO: Julia Lemmertz, Marcello Antony, Mariana Goulart , Maria Flor, Fionnula Flanagan, Erroll Shand | 2016 ]]> 23956 0 0 0 PEQUENO SEGREDO: representante brasileiro no Oscar 2017 - filme não entrega uma grande história à altura da realidade ]]> RAINHA DE KATWE - Queen of Katwe http://cinegarimpo.com.br/rainha-de-katwe-queen-of-katwe/ Sun, 13 Nov 2016 21:44:38 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=23959 ]]> 23959 0 0 0 ]]> RAINHA DE KATWE: pra quem acha que a vida está difícil, dá uma espiada nessa campeã de xadrez]]> SNOWDEN - HERÓI OU TRAIDOR - Snowden http://cinegarimpo.com.br/snowden-heroi-ou-traidor/ Mon, 14 Nov 2016 21:13:53 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=23961 A Travessia, 500 Dias Com Ela) entra para a CIA, é um expoente da agência e é visto com o funcionário capaz de montar o maior esquema de espionagem que recaiu sobre o cidadão comum. E capaz de revelar, ao mundo, que a Agência de Segurança Nacional (NSA) seria capaz de tudo em nome da soberania - do Estado sobre o indivíduo. Snowden põe a boca no mundo e precisa se exilar na Rússia porque nos EUA ele não entra mais. Dirigido por Oliver Stone (também de Selvagens), tem ritmo de thriller, cara de filme de espionagem (#sóquereal), pincelado por um romance e todas as questões privadas que se mesclam com as públicas - numa alusão a essa confusão que se tornou a vida de qualquer cidadão comum com o uso da tecnologia em todos os campos da vida. Quem rastreia quem? Quem é o espião e quem é o espionado? Parece que estamos todos dentro de um saco só.     DIREÇÃO: Oliver Stone ROTEIRO: Keiran Fitzgerald, Oliver Stone ELENCO: Joseph Gordon-Levitt, Shailene Woodley, Melissa Leo | 2016 (135 min)  ]]> 23961 0 0 0 SNOWDEN - HERÓI OU TRAIDOR: na era da conexão plena, espionagem faz parte do pacote]]> RAINHA DE KATWE - Queen of Katwe http://cinegarimpo.com.br/rainha-de-katwe-2/ Sun, 27 Nov 2016 16:40:56 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=24027 Selma - Uma Luta Pela Igualdade) para competir em Uganda, na África e em torneios internacionais. O improvável toma conta da situação. O mais bonito do filme é o roteiro verdadeiro que ele carrega - de superação e vitória no meio de tantas adversidades. Apesar de todo o sofrimento da mãe (Lupita Nyong'o, também em 12 Anos de Escravidão), da miséria que rodeia a família e da dificuldade de acreditar no talento da menina, o filme não tem drama a mais, pelo contrário. Tem uma suavidade que convida adolescentes a assistir, acompanhar quase que em ritmo de aventura e refletir sobre as adversidades e a resiliência. E o desfecho é bem a cara da Disney - o que dá uma graça a mais ao filme, já bem gostoso de assistir e com a inevitável lição de moral que um exemplo deste carrega.   DIREÇÃO: Mira Nair ROTEIRO: William Wheeler, Tim Crothers ELENCO: Lupita Nyong'o, Madina Nalwanga, David Oyelowo, Martin Kabanza | 2016 (124 min) ]]> 24027 0 0 0 RAINHA DE KATWE: quando o improvável vence o jogo]]> ELIS http://cinegarimpo.com.br/elis/ Wed, 23 Nov 2016 21:38:49 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=24036 Elis não tem emoção. Poderia ser mais emocionante? Sim, poderia. Porque Elis era assim: já dizia a que veio e não saia sem deixar traços bem marcados. Mas a escolha foi por um filme linear, cronológico, didático, que se adapta bem na televisão. Pro grande público, pode ser - o que não é de todo ruim, porque possibilita que circule e a história da cantara chegue mais longe, inclusive atingindo uma geração que não a conheceu. Também acho que faltou Tom Jobim – apesar de a cena inicial dela cantando Como Nossos Pais ser linda, senti falta de Águas de Março - música da minha infância. Mas amei ouvi-la cantar, com interpretação corajosa de Andréia Horta. Como se parecem, as duas. A voz que se ouve é de Elis, mas é preciso dizer que a sincronização labial é perfeita – até parece que Andréia canta de verdade. Sua morte foi suavizada no quesito drogas-álcool, seus relacionamentos foram amenizados, sem tanta dramaticidade. Mas a cinebiografia conta com o elenco cuidadosamente trabalhado, composto por Julio Andrade, Caco Ciocler, Lúcio Mauro Filho, Gustavo Machado, Zécarlos Machado. Seria maravilhoso ter um documentário, com a força que vimos no filme sobre Cássia Eller, por exemplo. Documentário com toda a força do cinema. Mas coloco Elis na prateleira das biografias bacanas sobre artistas brasileiros memoráveis como Gonzaga: De Pai Pra Filho, Tim Maia, Somos Tão Jovens, Cazuza, Raul – O Início, o Fim e O Meio, A Música Segundo Tom Jobim, Cassia Eller. E fico aguardando a próxima produção sobre ela. De tão complexa, rende ainda muito o que falar – e produzir.   DIREÇÃO: Hugo Prata ROTEIRO: Luis Bolognesi, Vera Egito ELENCO: Andréia Horta, Gustavo Machado, Caco Ciocler, Zécarlos Machado, Julio Andrade, Lúcio Mauro Filho | 2016 (110 min)   ]]> 24036 0 0 0 ELIS: de tão parecida e talentosa, Andréia Horta é a grande sensação como Elis Regina]]> SULLY - O HERÓI DO RIO HUDSON http://cinegarimpo.com.br/sully/ Thu, 15 Dec 2016 01:36:23 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=24071 Sniper Americano e Invictus), a sensibilidade é genuína. Transmite emoção na medida certa, sem drama extra. Escolhe os ângulos, mede as palavras. Escolhe o essencial pra que o fundamental não fique fora. Em se tratando do pouso forçado feito no rio Hudson, em Nova York, com 155 pessoas a bordo, o fundamental é a emoção de conseguir pousar, de não fugir da responsabilidade, de buscar a verdade, de se sentir vivo. Isso o filme tem de sobra. Em 2009, um avião decola do aeroporto de La Guardia, choca-se com um bando de pássaros logo nos primeiros minutos de voo e os dois motores entram em pane. Rapidamente, é preciso tomar a decisão, antes que o avião caia em uma das áreas mais populosas do planeta: Manhattan. Sully é pilotado por Tom Hanks, literalmente – que andou fazendo filmes bem medianos recentemente, mas arrasa quando a direção é boa, como em Ponte dos Espiões, Capitão Phillips e Forrest Gump – O Contador de Histórias. Ele é o piloto Chesley “Sully” Sullenberger, que conduz o pouso de emergência e faz toda a diferença com sua postura humana, ética e técnica durante e depois do acidente. Assim como o diretor e sua câmera, tão precisa. Prova de que não basta uma bom enredo pra se fazer um bom filme. Não saber contá-lo afunda até a mais nobre das histórias.   DIREÇÃO: Clint Eastwood ROTEIRO: Todd Komarnicki, Chesley Sullenberger ELENCO: Tom Hanks, Aaron Eckhart, Laura Linney | 206 (96 min)   ]]> 24071 0 0 0 SULLY - O HERÓI DO RIO HUDSON: uma tragédia com final feliz]]> A GAROTA NO TREM - The Girl on the Train http://cinegarimpo.com.br/a-garota-no-trem-2/ Thu, 27 Oct 2016 19:30:38 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=23930 Garota Exemplar (Gone Girl): existe uma linda mulher, que tem um relacionamento intenso, desaparece de repente e as pessoas entram em parafuso à sua procura. No trem, indo para NY todos os dias, Rachel (Emily Blunt, também em Sicario, O Diabo Veste Prada) observa as pessoas em suas casas, imagina como se relacionam, cria fantasias e suposições, e acaba sabendo mais do deveria sobre essa mulher desaparecida. Do tipo quem-procura-acha. Começa a caçada pela verdade, com reviravoltas e muito suspense. A pegada é bem parecida; o jogo, bem amarrado. A personagem de Rachel está deprimida, bebe demais e não consegue se desvencilhar do ex-marido, que já está casado com outra. Perde o rumo da própria vida e se mete numa trama difícil de se safar. Com ótimo ritmo, o filme é baseado no best seller homônimo e realmente vale seu ingresso. Quando o desfecho é surpreendente, é sinal de que o roteiro não deixa pontas soltas. Emily Blunt está perfeita no equilíbrio desequilibrado da mulher ferida, que bate no fundo do poço e precisa de uma boa causa para vir novamente à tona e renascer.   DIREÇÃO: Tate Taylor ROTEIRO: Erin Cressida Wilson, Paula Hawkins ELENCO: Emily Blunt, Haley Bennett, Rebecca Ferguson, Justin Theroux, Allison Janney | 2016 (112 min)   ]]> 23930 0 0 0 A GAROTA NO TREM: história boa, amarrada e com ótimo suspense]]> O ÍDOLO - The Idol http://cinegarimpo.com.br/o-idolo/ Thu, 26 Jan 2017 14:22:44 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=24171 Uma Garrafa no Mar de Gaza, por exemplo. Só mais universal do que o jovem, acho que é a música - coisas que caminham juntos, não por acaso. Dá aquela sensação de compreender um pouco de uma realidade bem distinta, o que é uma oportunidade de realmente olhar para o diferente com outros olhos. Falando em olhar, O Ídolo traz essa perspectiva da superação de dificuldades. Não tem lá muito novidade, segue uma linha cronológica desde a infância e Mohammed Assaf e doura a pílula um pouco no quesito destruição e miséria por que passa o povo palestino. Mas, tirando isso, conta a verdadeira a história do menino de Gaza que sonhava em ser cantor profissional e se apresentar na Ópera do Cairo. Tanto ele faz – e tanto conta com a determinação da família – que consegue inscrever-se no concurso musical Arab Idol, "fugir"de Gaza para se apresentar na audição no Egito e finalmente vencer a competição. O diretor do filme, Hany Abu-Assad, também de Paradise Now, que foi nomeado para o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2006 e tem uma pegada bem diferente e realista –, também é palestino, nasceu em Nazaré. Consegue trazer emoção para o drama, mesmo que tenha, sim, alguns clichês – que além de ser humano, universal enquanto luta por um lugar ao sol, pela liberdade de ir e vir, pelo sonho, pela justiça, traz pra perto uma realidade que a gente, aqui do outro lado, mal consegue dimensionar e que o cinema é capaz de traduzir.   DIREÇÃO: Hany Abu- Assad ROTEIRO: Hany Abu-Assad, Sameh Zoabi  ELENCO: Tawfeek Barhom, Kais Attalah, Hiba Attalah | 2015 (100 min)   ]]> 24171 0 0 0 O ÍDOLO: história real do palestino que consegue sair de Gaza e vencer o Arab Idol]]> JACKIE http://cinegarimpo.com.br/jackie-3/ Tue, 31 Jan 2017 18:31:05 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=24175 good wife, Natalie Portman (também em Cisne Negro, Um Beijo Roubado), indicada ao Globo de Ouro e Oscar pelo papel, consegue plantar a imagem da mulher astuta, consciente e política. Era preciso mostrar o que tinham feito com o presidente. Diretor também de No, que mostra o momento do político importante no Chile, Larraín aqui também se preocupa em construir uma Jackie consciente de sua posição política, o que faz um contraponto importante com esse ícone da elegância, daquele que ditou as regras da moda nos anos 60, daquela que era a cara da América. Não é à toa que o filme concorre ao Oscar de melhor figurino. O diretor fez questão de fazer esse lado estético impecável, assim como era Jackie. Sempre elegante. Até suja de sangue, até quando precisou pontuar que seu marido entraria, sim, para a história. De fato, falou e disse.   DIREÇÃO:  Pablo Larraín ROTEIRO: Noah Oppenheim ELENCO: Natalie Portman, Peter Sarsgaard, Greta Gerwig | 2016 (100 min)   ]]> 24175 0 0 0 JACKIE: elegância, mesma suja de sangue e garantindo seu lugar na história]]> ATÉ O ÚLTIMO HOMEM - Hacksaw Ridge http://cinegarimpo.com.br/ate-o-ultimo-homem-hacksaw-ridge/ Wed, 01 Feb 2017 13:30:52 +0000 http://cinegarimpo.com.br/?p=24197 Um Novo Despertar. Bom vê-lo de volta nas telonas, agora como diretor, numa história de redenção. Tensa também, mas tensa-guerreira. E isso é bom, porque lutar - mesmo que aqui tenha duplo sentido - é sempre sinal de que estamos vivos. A tradução bem livre do original Hacksaw Ridge, o nome de uma serra da ilha japonesa de Okinawa, onde acontece a batalha retratada no filme, mostra qual a intenção do filme. O protagonista Desmond Doss se alista para lutar na Segunda Guerra, mas por princípios religiosos, nega-se a pegar em armas. Quer ser médico, salvar vidas. Convicto, não cede às pressões dos comandantes e se propõe a lutar, mas para salvar "Até o Último Homem" que puder. Faz sentido. Além de contar como foi essa resistência, de mostrar a força da sua fé e os frutos que colhe depois – não só resgatando os soldados feridos do campo de batalha em território japonês, mas também colecionando admiradores e amigos – Gibson faz um retrato realista e bem sangrento do que foi esse pedaço da guerra. Tem sangue a beça, mas guerra é guerra e não gosto daqueles recortes plastificados em que não consigo acreditar que possa ser verdade. Já que é cruel, prefiro que o diretor chegue perto do real. Assim o altruísmo de Doss fica ainda mais nobre. Andrew Garfield, também em A Rede Social e O Espetacular Homem-Aranha, merece os holofotes.   DIREÇÃO: Mel Gibson ROTEIRO: Robert Schenkkan, Andrew Knight ELENCO: Andrew Garfield, Sam Worthington, Luke Bracey | 2016 (139 min)   ]]> 24197 0 0 0 ATÉ O ÚLTIMO HOMEM: pra quem acha que fazer o bem é só querer o bem. Mão na massa!]]>