CAPOTE

Cartaz do filme CAPOTE

Opinião

Nestes tempos em que são produzidas muitas biografias no cinema (me pergunto se essa é uma tendência ou simples acaso), lembrei-me de rever Capote, já que Foxcatcher, em cartaz, é do mesmo diretor, Bennett Miller. Lembro-me de que quando vi Capote pela primeira vez, fui atraída pelo estilo do texto desse excêntrico escritor americano. Adoro sua maneira de colocar as ideias no papel, o chamado jornalismo literário, ou New Journalism. Aqui, o autor não é mais ausente, invisível. Ele participa da narrativa, dá sua opinião, transmite seus sentimentos e usa suas ferramentas literárias de linguagem e narrativa para contar uma história real.

Tem-se a impressão de estar diante de uma obra de ficção, mas não. A partir de um acontecimento específico, Truman Capote entra na história, acompanha os fatos em tempo real e espera pelo desfecho para, então, finalizar a sua versão da história. Não há fatos inventados, mas sim o claro olhar do escritor, que assume sua faceta jornalística e transcreve sua vivência para o papel. Foi assim que Capote fica famoso, em 1966. A procura de uma boa história para contar, fica fascinado por um trágico assassinato no Kansas. Uma família inteira é morta sem razão aparente. Capote acompanha desde a prisão dos suspeitos até o julgamento anos depois. Demora quatro anos para escrever A Sangue Frio e depois disso não publica mais nada.

Além da história do assassinato ser inacreditável, o produto final de Capote é um marco na literatura e no jornalismo. Surgem as reportagens com olhares pessoais, o que passa a ser um alento em meio a tantas matérias frias e sem personalidade. Mas nada disso teria graça, nem brilho se Capote fosse representado por alguém menos talentoso e versátil do que Philip Seymour Hoffman (também em O Homem Mais Procurado, Dúvida), premiado com o Oscar de melhor ator pelo papel. É espetacular. Além da reconstrução de época, Hoffman encarna Capote em toda a sua esquisitice, sua personalidade única e seu fascínio pelas pessoas que conhece e pelos personagens que constrói em seu livro. Ele passa a ser personagem de sua própria obra e é modificado por ela. Talvez essa seja a essência do jornalismo de autor (outro codinome para o gênero): a fusão do criador e da criatura.

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