AQUARIUS

Cartaz do filme AQUARIUS

Opinião

Aquarius devolveu meu rosto pro Brasil.” E que rosto, que presença! Longe do cinema nacional desde Tieta, de 1996, Sonia Braga solta essa pérola durante a entrevista coletiva de Aquarius, após a sessão para jornalistas. O filme devolve Sonia ao cinema nacional, de onde espero que ela não desapareça de novo.

Aquarius, indicado à Palma de Ouro em Cannes este ano, conta a história de Clara, uma mulher na casa dos 60, madura e resolvida, que precisa lidar com uma questão muito pontual: todos os apartamentos do prédio em que ela mora foram vendidos para uma construtora, que vai demoli-lo e construir ali um empreendimento moderno. Ela não quer vender, é pressionada e precisa encontrar uma saída para a situação. Além da questão da exploração imobiliária e da destruição do patrimônio e da memória afetiva em prol do ganho financeiro, já abordado por Kleber Mendonça no longa O Som ao Redor (2012), Aquarius vai além: fala do feminino, da sexualidade, das complexas relações familiares e sociais brasileiras, da hegemonia do poder financeiro e do discurso você-sabe-com-quem-está-falando? Um mosaico de sensações, que não é pra qualquer um. E claro, fala da  dificuldade de convivência entre o novo e o velho, uma relação de equilíbrio difícil e confusões à perder de vista.

Kleber Mendonça diz que não se vê fazendo um filme que não trate da realidade, daquilo que está acontecendo. Que bom. Sua obra tem essa pegada humana, de gente de verdade, sempre repleta de reflexões. Clara é o retrato da nova mulher da terceira idade que surge hoje, autônoma e autossuficiente, dona da sua história e do seu presente, capaz de decidir, desejar e viver a vida como bem entende. Na pele de Sonia Braga, ganha um peso ainda maior.

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