O ANIMAL CORDIAL

Cartaz do filme O ANIMAL CORDIAL

Opinião

Visceral é o que mais se encaixa na tentativa de dizer o que é O Anima Cordial. Isso sem tirar as surpresas que o filme da diretora Gabriela Amaral Almeida apresenta a, praticamente, cada minuto. Motivação pra tratar do ser humano desta maneira tão nua e crua parece ter sido o interesse em falar do embate entre opostos. “Acho necessário falar desse embate na arte – o homem e a mulher, o negro e o branco, o pobre e o rico”, conta a diretora. “Essas humanidades opostas colocadas nesse cenário fechado, onde se fomenta o choque, me levou, naturalmente, para esse gênero.”

Por gênero, aqui, entenda-se o terror. O Animal Cordial – que em si já é um paradoxo, um embate, porque o animal não tem como ser cordial, mas sim instintivo, sobrevivente, matador -, é filme de terror. “Sara e Ignácio são os primeiros que surgem na história – ela com sua necessidade de afeto e ascensão, ele é refém da masculinidade opressora, que dá acesso a poder, juventude e conhecimento”, conta Gabriela. A dramaticidade é de embate, de conflito. “Não dá pra fugir de um filme visceral”, conclui. E nem pra deixar nas entrelinhas. Para a diretora, ser explícito é fundamental – “mesmo porque ele esconde a violência implícita nos personagens, os desejos obscuros, o racismo, o machismo, a homofobia, o classismo”. Esconde mesmo – por trás de tiros e facadas, a gente vê tudo isso aparecendo, pintado de muito sangue.

E aqui, está tudo explícito. Ignácio é dono de um restaurante que vai mal das pernas. Fim do expediente, tem um cliente na casa e entra um casal. A cozinha está prestes a fechar, com os funcionários (Irandhir Santos, também em Aquarius) já reclamando do adiantado da hora. Já tem algo de estranho no comportamento do patrão. Sua funcionário braço-direito, Sara (Luciana Paes, também em Sinfonia da Necrópole) é estranha; Ignácio também. Tem um clima de tensão no ar e ainda não dá pra identificar o que está por vir. Aliás, nunca dá. A sequência de acontecimentos surpreende a cada decisão dos personagens, aumenta a tensão num crescente sem parada e culmina no indizível.

O Animal Cordial tem um elenco sensacional e fala da necessidade de abater os comportamentos mais sombrios do ser humano. A ferramenta é o filme violento, com sangue e sem piedade, com objetividade e frieza, banalizando toda e qualquer violência. Não tem como não sair impactado – e muito. Já no título, Gabriela traz a antítese do ser humano – animal não pode ser cordial. Animal é instintivo, sobrevivente, luta com as armas que tem. Os personagens também. Ignácio (Murilo Benício) e Sara encontram seu estado animalesco com facilidade, chegando no limite da racionalidade e da sobrevivência diante de predadores.

Terror brasileiro de primeira linha. O que Gabriela faz é colocar em forma de arte o que vivemos atualmente. Um show de horror.

 

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