NINGUÉM PODE SABER – Nobody Knows

Opinião
A única vez que encontrei com Hirokazu Koreeda em festival de cinema foi em Veneza, em 2019, quando seu filme A Verdade (La Vérité) concorreu ao Leão de Ouro.
Valeu — e não valeu, ao mesmo tempo. Valeu porque eu já alguns dos seus filmes no meu repertório, naquela prateleira de obras humanas e extremamente emocionantes. Nossa Irmã Mais Nova, Pais e Filhos, O que eu Mais Desejo. Assunto de Família, que foi laureado com a Palma de Ouro no ano anterior, eu ainda não tinha visto. Mas já sabia que seu olhar me fisgava de maneira particular. Ainda mais em histórias contadas sob o ponto de vista da criança.
Não valeu porque A Verdade não é um filme sobre o Japão. Com Catherine Deneuve, Juliette Binoche e Ethan Hawke no elenco, é um filme internacional — inclusive no idioma já que Koreeda dirigiu os atores estrelados em japonês, com com tradutor a tiracolo. Portanto, de Japão, a verdade é que não tem nada.
Tudo isso pra dizer que o que Koreeda nos ensina sobre o Japão ninguém pode saber. No dia em que pisar por lá, não verei este Japão. Arrisco dizer que é invisível. Mas quem assiste Koreeda, tem tudo. Uma visão implacável da solidão que vem com o olhar infantil. Como mão, assisto quase pulando na tela pra colocar as crianças no colo e dizer que vai ficar tudo bem.
Só que não. Não é assim em Assunto de Família, não é assim em Mostro — que até rendeu sessão no Cineclube CineGarimpo. Não é assim em Ninguém Pode Saber (2004) que acabei de assistir e deixou no ar a triste e verdadeira desesperança na humanidade. Assim estão as crianças do mundo. Ao deus-dará. No Japão que visito com Koreeda, não há reza que dê colo às crianças que fazem eco mundo afora. Um olhar melancólico que tira o chão e mostra que o sol não nasce igual pra todos. Nem mesmo por lá, que tem, garantido por Deus, o primeiro sol do continente.
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