ASSUNTO DE FAMÍLIA – Shoplifters

Cartaz do filme ASSUNTO DE FAMÍLIA – Shoplifters

Opinião

Por Suzana Vidigal

Família é de novo o assunto do cineasta japonês Hirokazu Koreeda, que leva nada menos do que a Palma de Ouro em Cannes pelo trabalho. E também pela reflexão. O que Assunto de Família traz é a certeza da impermanência das situações e a relativização das atitudes e dos laços de sangue. O que se vê pode não ser realmente a verdade. E a verdade quem é que determina, afinal?

Aparentemente parece ser uma família que vive da pensão que a avó recebe, de pequenos furtos que pai e filho fazem no supermercado, do dinheiro ganho no mercado do sexo. As relações afetivas são tão fortes que permitem acolher uma criança que passa fome e sofre violência doméstica, mesmo quando a vida mal dá conta de quem já vive sob o mesmo teto. Agregar, para Koreeda, é regra – são dele também Depois da Tempestade, Nossa Irmã Mais Nova, Pais e Filhos, O Que Eu Mais Desejo. Na mesma medida em que vamos conhecendo o passado de cada um deles e o potencial de desunião que ele teria, crescem os laços do cuidado mútuo, da cumplicidade e do amor – mesmo quando as atitudes fogem da cartilha da boa educação – pra dizer o mínimo.

O que faz a gente torcer por eles? Vínculos de sangue não garantem afeto, e aquele que se forma por empatia precisa ser forte pra sobreviver às intempéries. A transformação de alguns personagens leva ao desfecho, como um balde de água fria. Verdade, uma só não existe. Mas viver na ilusão não se sustenta – nem sob base do mais nobre afeto.

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