NÃO ME ABANDONE JAMAIS – Never Let Me Go

Cartaz do filme NÃO ME ABANDONE JAMAIS – Never Let Me Go

Opinião

Não Me Abandone Jamais não é uma história de amor. O título e o cartaz (ao lado) sugerem o triângulo amoroso entre Kathy (Carey Mulligan, também em Educação, Wall Street – O Dinheiro Nunca Dorme ), Tommy (Andrew Garfield, também em A Rede Social) e Ruth (Keira Knightley, também em Desejo e Reparação, A Duquesa). De alguma maneira ele existe, mas para mim ficou muito claro que o filme fala justamente da ausência de amor e humanidade, das pessoas enquanto instrumentos, máquinas. Traz à tona a questão a importância fundamental da criação voltada para o próximo, para a vivência dos sentimentos. É de pequeno que se aprende a “ser gente”. Quem não tem essa escola de vida, passar por ela como mero corpo sem alma.

Kathy, Tommy e Ruth tiveram escola. Mas foi uma escola especial em Hailsham, isolada, só para crianças órfãs, criadas com rigidez, precisão e objetivos muito bem determinados. Foram ensinados a não sentir, a não se relacionar, a não ter contato com o mundo. Não foram ensinadas a viver e ter alma, mas sim a sobreviver, a cuidar do corpo e do científico. Na primeira cena, Kathy já diz que é uma doadora e cuidadora, mas  só se descobre a dimensão disso com o passar do filme. Quando assisti, não tinha ideia da abordagem – mesmo porque acreditava ser um romance. Me pegou de surpresa e por isso não vou entrar em detalhes para que você tire suas conclusões. Fato é que não se trata de um filme leve, que entra numa dimensão existencialista, tratando da importância da referência familiar (e das sua consequente ausência), do exemplo (não se aprende o que não se vê colocado em prática), do contato (a demonstração do carinho, do amor). Somos máquinas a serviço de algo, peças do jogo ou seres humanos que se importam, vivem, sentem e escolhem?

Não Me Abandone Jamais, baseado no romance homônimo do escritor japonês Kazuo Ishiguro, é questionamento do começo ao fim, através do relato da vida de Kathy. O argumento pode até soar irreal e incompatível com o período em que o filme se passa, mas isso é secundário e irrelevante diante da beleza e profundidade do tema.

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