DE CABEÇA ERGUIDA – La Tête Haute

Cartaz do filme DE CABEÇA ERGUIDA – La Tête Haute

Opinião

Este filme foi exibido na abertura do Festival de Cannes de 2015 e tem Catherine Deneuve. Não é pouca coisa.De Cabeça Erguida é emocionante, Deneuve está divina no papel de juíza e o tema da maioridade penal é mais do que pertinente.

Lembrei-me logo de cara de outro grande filme francês, que também lida com essa questão da delinquência juvenil, das famílias desestruturadas e das tentativas de recuperação do jovem. O Garoto da Bicicleta, dos geniais irmãos Dardenne, traz essa mistura numa tomada bem realista: infância e juventude que saem do âmbito familiar e vão para a mão da assistência social e do Estado, mas só é retomada quando o afeto permeia esse processo. É o tal do equilíbrio difícil entre rigor e sensibilidade.

Em voga aqui no Brasil, a questão da maioridade penal é mesmo um dilema. A história do filme gira em torno do garoto Malony (note que este é o primeiro – e formidável – trabalho de Rod Paradot!), que mora com a mãe Séverine (Sara Forestier, também em Os Nomes do Amor) e o irmão menor, não tem a referência paterna e tem de lidar com a mãe enlouquecida com o consumo de drogas e álcool e com seus diversos homens. Cresce nesse ambiente hostil e sem qualquer luz no fim do túnel, de modo que vai parar diversas vezes nas mãos da assistência social, pela ordem da Vara da Infância e Juventude pilotada pela juíza Florence Blaque (Catherine Deneuve, também em O Homem que Elas Amavam Demais). Durante 10 anos, a vida de Malony é um entra e sai de tribunais, internatos, centros de recuperação de jovens, sempre permeado pelo descontrole emocional, desesperança, violência. A dificuldade é acertar a medida da rigidez das penas e do acolhimento, para que haja ao menos uma chance de recomeço.

Não temos nem de longe a estrutura que o sistema público francês oferece ao jovem. Pensar que um adolescente possa se recuperar nas nossas instituições é piada. Mas isentá-los de responsabilidade pelos crimes que cometeram também não leva a lugar algum. O que o filme da diretora Emmanuelle Bercot sugere é exatamente essa reflexão: até onde vai o papel da família e do Estado no trato com criminosos menores de idade? Guardadas as devidas proporções, é uma relação parecida com a responsabilidade depositada pelos pais nas escolas, uma transferência de poderes, enquanto eles deveriam ser complementares. Portanto, além de superemocionante, De Cabeça Erguida rende muita conversa.

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