ATÉ O FIM – All Is Lost
Opinião
Dois bons motivos para você se encher de coragem e assistir a Até o Fim. Digo coragem porque trata-se de um filme de um só personagem, de um só cenário e de um só tema: a sobrevivência. Para alguns pode parecer monótono, mas acredite: Robert Redford, no auge dos seus 78 anos, está incrível. E misterioso.
Aliás, este é um dos motivos de que falei acima: o filme não tem diálogo, mesmo porque ele não tem com quem falar. Mas poderia falar com Deus, consigo mesmo, poderiam aparecer seus pensamentos com mais frequência – aparecem no começo, em poucas palavras, sinalizando que sua vida não foi lá grande coisa, não teve lá grandes êxitos, não construiu lá relacionamentos duradouros e estáveis. Deve ter sido tudo muito confuso e difícil. Daquelas vidas cheias de tropeços, amores desfeitos e decepções. Robert não fala, mas também não expressa arrependimento, medo, pavor, angústia. É um sujeito frio. Está naufragando em pleno oceano Índico e consegue ser pragmático, seguir os procedimentos de segurança, usar os recursos de sobrevivência sem demonstrar um pingo de emoção. Impressionante. Deve ter sido assim durante a vida também, sem emoção. Por isso o isolamento.
Que a gente não sabe de onde vem, esse isolamento. Fica claro que é isolamento emocional também, frustração. Mas não sabemos a quanto tempo está no mar, por que partiu, para onde ia, quem deixou para trás. E esse é o segundo motivo: o roteiro é instigante nesse sentido, deixa tudo no ar, mas a direção de J.C. Chandor, também de Margin Call – O Dia Antes do Fim, consegue deixar bem claro a personalidade do personagem, que não tem nem nome. Sugestivo, não?
Apesar de Robert Redford lutar até o fim, como sugere o título em português, preferiria que a distribuidora tivesse traduzido ao pé da letra desta vez. Algo como “tudo está perdido” carregaria mais significado. Independente do que aconteça no final (você vai ter que conferir), dizer que está tudo perdido tem a conotação do tempo que não volta, das decisões tomadas de forma equivocada e do arrependimento que não nos deixa em paz. Acho isso a cara deste filme. Bem diferente dos outros dois naufrágios famosos do cinema, Náufrago, com Tom Hanks, e As Aventuras de Pi. Esses dois queriam conviver, mesmo que fosse com um tigre ou com uma bola de vôlei. Redford não consegue superar a batalha da comunicação. E sem comunicação, põe-se tudo mesmo a perder nessa vida.
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