ÀS CINCO DA TARDE – At Five in the Afternoon

Cartaz do filme ÀS CINCO DA TARDE – At Five in the Afternoon

Opinião

A jovem cineasta Samira Makhmalbaf só tem 31 anos e já faturou duas vezes o Prêmio Especial do Júri em Cannes. A primeira vez foi com apenas 20 anos, com o filme The Black Board (2000); a segunda com Às Cinco da Tarde, quando tinha 23. Aprendeu em casa, com o pai Mohsen Makhmalbaf, também cineasta, responsável pelo fantástico A Caminho de Kandahar, e com a irmã, diretora do filme Green Days. Família de artistas com olhar apuradíssimo. Ainda bem, porque é  através deles que temos a oportunidade de conhecer um pouco dessa cultura complexa e milenar, da situação social e política do Irã e da condição da mulher nos países muçulmanos.

Por causa da perseguições aos cineastas no Irã (ver comentário sobre Isto Não É um Filme), a família Makhmalbaf vive fora do país, inclusive no vizinho Afeganistão. Isso fez com que esta década de profundas mudanças no país fosse tema importante analisado em seus filmes, sempre trazendo à tona o ponto de vista feminino, a sensibilidade da maternidade e a agonia da falta de perspectiva. Noqreh (Agheleh Rezaie) quer ser presidente do Afeganistão. Inspira-se em mulheres que lideraram o poder no mundo, principalmente a paquistanesa Benazir Bhutto e a indiana Indira Gandhi, e quer desesperadamente saber o que esses dirigentes dizem ao povo para serem eleitos. Mas é claro que no Afeganistão tudo é diferente. Mesmo porque seu pai, um senhor conservador e autoritário, não quer que ela volte a estudar. Agora que o país já não está sob o comando do Taleban, as mulheres voltaram aos bancos da escola, onde discutem a situação política do país, suas ambições profissionais e pessoais e tentam achar um caminho para a sociedade esfacelada pela guerra e sofrida pelas perdas e mutilações.

Mas não há de ser a sua vontade a que prevalece – o pai a obriga a cobrir-se, estudar os ensinamentos do Alcorão, a jurar obediência e vê blasfêmia em tudo. Num país em que falta moradia, comida, água, a questão maior é a sobrevivência. Comandada pelo pai, segue com a cunhada pelo deserto, buscando um gole de água e um teto, lutando para salvar a vida do sobrinho e para entender como é possível viver num país totalmente destruído, material e emocionalmente.

Às Cinco da Tarde tem um tom desolador. Um provação do começo ao fim, com um olhar feminino sensível e apurado para as humilhações, como o uso da burca que esconde o rosto, a identidade e individualidade, assim como para as vaidades femininas, como o sapato branco de salto em meio ao deserto. Mostra uma sociedade sem rumo, perdida em seus conceitos autoritários, egoístas e machistas, perdida na aridez e na precariedade que o deserto já traz por si só, e que o homem tratou de piorar ainda mais.

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