SEM PENA
Opinião
Falar do sistema carcerário no Brasil é cair no lugar comum: prisões superlotadas, condições desumanas, falta de infraestrutura e segurança, higiene inexistente e nenhuma condição de reabilitação no detento na sociedade. O difícil é encontrar um olhar diferente para contar a história sobre as mesmas prisões, algo que instigue sair do conformismo e nos faça parar para refletir. Mesmo que o olhar de Eugênio Puppo cause estranheza e afaste um pouco o público, é diferente. Só por isso já acho que vale a reflexão.
O diretor não dá nome às vozes, nem rosto. O cenário são sim as prisões abarrotadas, a sujeira, a pilha de processos do judiciário, as filas de parentes fora dos presídios, a vigilância precária, as cozinhas imundas. Mas os depoimentos são tão explícitos quanto velados. É como se o diretor estivesse nos perguntando: que diferença faz quem diz o que, se todos concordam que o sistema de justiça brasileiro não é justo? Não examina caso a caso? Não julga como deveria ser?
As vozes que se encaixam nas imagens são de presos, juristas, sociólogos, criminosos, inocentes detentos, juizes, advogados, familiares de presos. Cada um conta a sua experiência, mas todos concordam que o sistema não funciona, que assassinos estão encarcerados ao lado de ladrões de galinha, que o policial tem que cumprir estatística de prisão, que a justiça não avalia com rigor, que não há pena justa. E mais: muitas vezes não há pena, julgamento. Por pura incompetência de quem prendeu e de quem deveria julgar. Sem Pena foi escolhido melhor filme no Festival de Brasília. Um bom documentário, sobre um assunto que, no Brasil, não tem nem sequer réstia de luz no fim do túnel.
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