O SAL DA TERRA – Le Sel de la Terre

Cartaz do filme O SAL DA TERRA – Le Sel de la Terre

Opinião

Minha sincera – e emocionada – opinião sobre O Sal da Terra: quem tem um de seus livros ou já parou pra olhar o que Sebastião Salgado fotografa, certamente já se perguntou como é que ele chega nesses lugares. O que a gente esquece de se perguntar é quanto tempo ele levou pra fazer as fotos e o quanto esse processo foi transformador.

É essa a grande magia do filme: além de impecável, é transformador. A fotografia transformou Salgado como pessoa, um projeto deu origem ao outro pela evolução natural dos seus sentimentos e do convívio com a natureza e com as pessoas fotografadas, e transforma quem as vê.

Salgado é aquilo que ele fotografa. Dá pra sentir isso genuinamente no filme. Minha adolescente perguntou (sim, leve seu adolescente!) se todas as suas fotos eram em preto e branco. São. E por isso fazem ainda mais mágica.

Por Suzana Vidigal

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O Sal da Terra foi o filme de abertura da 4a edição da Mostra Ecofalante Ambiental e agora entra em cartaz. Considerando a temática de cidades, lugares, natureza, povos, nada mais propício do começar com um filme que retrata, literalmente, tudo isso: como pessoas se relacionam com o ambiente em que vivem. Através das lentes do fotógrafo Sebastião Salgado, O Sal da Terra, que concorreu ao Oscar de melhor documentário, transcende o modelo de documentário biográfico, levando o espectador a uma viagem íntima e pessoal pelo monumental trabalho do artista.

Admirador do artista brasileiro, Wim Wenders volta ao registro documental, depois dos bem-sucedidos Buena Vista Social Club e Pina, dividindo a direção do longa-metragem com Juliano Ribeiro Salgado. Filho de Sebastião, Juliano confidenciou à imprensa que o projeto ajudou a reaproximá-lo do pai, com quem vivia uma relação distante. A fim de manter um distanciamento crítico, o jovem documentarista deixou a Wenders a tarefa de entrevistar o fotógrafo e narrar sua epopeia, desde os anos de formação, no interior de Minas Gerais, até o exílio político em Paris, a partir de 1969. 

A nova vida na França levou Sebastião a largar a profissão de economista e a se reinventar – com o inestimável apoio da esposa Lélia – como um dos maiores fotojornalistas do mundo. O resto é história: mais de 40 anos dedicados a capturar a vida humana sob condições extremas, em diferentes continentes.

Com tanta história para contar, O Sal da Terra, vencedor do prêmio do júri da seção Um Certo Olhar na última edição do Festival de Cannes, consegue a proeza de dar uma geral na obra de seu biografado (principalmente para quem não a conhece), e ao mesmo tempo lançar uma luz sobre o indivíduo por trás do artista, sem apelar para o excesso de depoimentos de terceiros. Projetos que consumiram anos – como “Trabalhadores”, “Serra Pelada”, “Êxodos” ou o recente “Gênesis” – ganham vida com a projeção de imagens na tela. Ampliadas, as fotografias impressionam. Provocam emoção. E evocam uma série de reminiscências, como anedotas e histórias comoventes vividas por Sebastião ao lado de seus fotografados.

A fisionomia serena e os olhos brilhantes do fotógrafo, refletidos no projetor enquanto vê seu trabalho, dizem tudo. Expressam a relação íntima que mantinha com seus objetos de estudo, seu respeito à cultura do “outro” e sua incansável busca pela dignidade humana, mesmo nas piores circunstâncias. Com O Sal da Terra, compartilhamos um pouco de sua humanidade.

Por Eduardo Lucena

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