WAJMA – Mostra SP

Cartaz do filme WAJMA – Mostra SP
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Opinião

Wajma é o próprio paradoxo entre a tradição religiosa e o comportamento da vida contemporânea. É o retrato da influência ocidental que chega sem pedir licença numa sociedade ultraconservadora e fechada como o Afeganistão. É um ponto de interrogação gigante na pergunta que não quer calar: como é que uma sociedade regida por leis religiosas extremas pode se adaptar à tecnologia, à liberdade da mulher de ir e vir, de estudar, de namorar, de escolher seu parceiro para casar? Como é que faz?

Wajma até que se fez a mesma pergunta. Não nesses termos, mas questionou o namorado Mustafa, quando ele forçou a barra para avançarem o sinal e transarem antes do casamento. Ela tem 18 anos, acaba de entrar na faculdade de Direito, mas mora com a mãe, o irmão e a avó em Cabul, capital afegã castigada pela guerra e pelas privações impostas à mulher pelo antigo regime do Talibã. Seu pai mora no interior do país, trabalhando para desativar minas terrestres armadas durante as contínuas guerras. Portanto, consegue mais flexibilidade para namorar Mustafa, um garoto que trabalha em um restaurante, tem mais contato com o mundo ocidental e quer, nitidamente, transgredir os costumes de comportamento. Quer namorar, mas não quer fazer o pedido de casamento formal à família. Wajma cede, engravida e planta na família a mais temida vergonha: a desonra perante a sociedade.

Filmado de uma maneira bastante realista e perturbadora, Wajma, indicado afegão ao Oscar de melhor filme estrangeiro, reflete a incompatibilidade entre os mandos do islamismo tradicional e o comportamento do jovem contemporâneo, que usa celular, se inspira nos hábitos dos parentes que conseguiram fugir para o exterior e se livrar de toda a censura, quer ter liberdade de ir e vir, mas não tem a contrapartida da geração criada sob o ferro e fogo do Islã. O próprio Mustafa é reflexo disso. Enquanto interessava, Wajma era bela; quando se viu ameaçado pelo pai da garota, agarra-se no discurso tradicional, respaldado nas leis islâmicas de que não se casaria com uma mulher que não fosse virgem. Só se esquece que ele é o responsável por tirar a sua virgindade e aqui só nos resta rir (e foi essa a reação da plateia). O que era para ser uma história de amor, vira tragédia. Velha e hostil hipocrisia.

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