UMA NOVA AMIGA – Une Nouvelle Amie
Opinião
Quem conhece algo da filmografia de François Ozon, vai entender melhor quando digo que ele se superou. Quem ainda não conhece, garimpe. Além de dirigir praticamente um filme por ano, há 15 anos, dirige com uma personalidade e originalidade impressionantes. Não se repete – que fique bem claro. Vou repetir o que disse no comentário de Dentro da Casa: não fala do casamento em frangalhos do lindo (e triste) Amor em 5 Tempos; nem é melancólico como O Refúgio; nem uma paródia como Potiche; muito menos tem a fantasia de Ricky. Uma Nova Amiga é diferente, mas mesmo assim conta com a genialidade do diretor.
Ozon fala da transexualidade sem ser preconceituoso e sem fazer do distúrbio de transtorno de gênero o protagonista da história. O protagonismo fica por conta da amizade entre duas meninas, que continuam melhores amigas quando adultas, até que uma delas, Laura, morre precocemente e o elo entre as duas é seriamente abalado. Laura sempre foi a mais despachada, a mais decidida, o fio condutor da dupla. Sem ela, Claire (Anaïs Demounstier, também em Elles, O Palácio Francês) fica perdida, como se tivesse mesmo perdido sua cara-metade. Ao aproximar-se do marido de Laura, David (Roman Duris, também em Como Arrasar seu Coração, Bonecas Russas), Claire encontra um refúgio para sua solidão. David gosta de se vestir de mulher, e a transexualidade faz a ponte entre Claire e a amiga que faleceu.
Há vários aspectos interessantes, principalmente a capacidade de criar cenas de comédia, suspense, drama ao mesmo tempo. É preciso assistir pra sentir a liga entre Claire e David – sem que seja uma atração sexual. É mais que empatia. É uma genuína transferência do amor fraternal. Isso, voltamos ao mote do filme. A transexualidade é coadjuvante – e precisa ser muito fera pra falar de assuntos espinhosos e difíceis com tanta sutileza.
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