RAFIKI

Cartaz do filme RAFIKI

Opinião

A cineasta Wanuri Kahiu criou um conceito que chama de AfroBubbleGum. Diz que seu cinema fala de coisas fúteis, divertidas, vibrantes, que não tem nada a ver com as questões pungentes que logo relacionamos com a África, como a fome, a guerra, a pobreza, a devastação, a Aids. Tão fúteis quanto um “bubble gum”, um chiclete. Não que a arte engajada não seja importante, diz ela em um TED. É fundamental. “Mas não deve ser a única arte produzida no nosso continente”, conclui.

É nessa linha que Wanuri Kahiu, a cineasta queniana, escreve e dirige Rafiki, que significa “amigo” em suaíli. Cheio de música, cor, ritmo e otimismo, seu longa conta a história de duas jovens mulheres que se apaixonam, chocam os moradores do conjunto habitacional de Nairobi onde moram e causam desgosto às famílias. Kena e Ziki são filhas de políticos, estão na mira de uma sociedade preconceituosa e de uma legislação que criminaliza a homossexualidade. Kahiu conta uma história de amor em um país – e continente – onde normalmente são contadas histórias de guerra. Traz uma questão universal da homofobia, ambientada nas particularidades do Quênia, sem que seus personagens tenham que estar em sofrimento ou doentes, com situação financeira ruim, mergulhados em conflitos. Pelo contrário, Kahiu propõe quebrar esteriótipos, mesmo neste lugar onde as relações homossexuais são punidas pela lei e pela tradição ultraconservadora, inclusive censurando este filme no país.

Rafiki é vibrante e cheio de esperança. Apresentado em Cannes na categoria Un Certain Regard em 2018, traz um novo olhar. Como disse Kahiu, se os personagens do cinema africano fossem mais alegres e cheios de vida, isso mudaria a imagem que o mundo faz da África. Ela tem razão – histórias devem ter menos rótulos e mais imaginação.

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