O ÚLTIMO DANÇARINO DE MAO – Mao’s Last Dancer
Opinião
A primeira referência que me veio à mente ao assistir a O Último Dançarino de Mao, baseado na autobiografia Adeus, China – O Último Bailarino de Mao (Fundamento, 2007, 400 páginas), é o filme com o Mikhail Baryshnikov, O Sol da Meia-Noite, de 1985. Nele, o bailarino russo exilado nos Estados Unidos tem de fazer um pouso forçado no território soviético a caminho do Japão e acaba preso pela KGB por ser considerado um traidor. Fica isolado na Sibéria, sob cuidados de um bailarino americano que desertou do exército e casou-se com uma russa. A história toda gira em torno da saída ou não do território fechado da ex-União Soviética, do envolvimento da embaixada, da mídia, da opinião popular e, obviamente, traz à tona o tema da liberdade de ir e vir, de pensar, de se expressar em regimes autoritários e cruéis.
O Último Dançarino de Mao retoma o assunto, contando a história verdadeira de Li Cunxin, que era um menino de 11 anos como tantos outros nas regiões remotas e carentes da China comunista de Mao, em plena Revolução Cultural nos anos 1970, quando as formas de arte deveriam ser politizadas, militarizadas. Foi escolhido para dançar balé na Academia de Dança de Pequim, submetendo-se a treinamentos intensos, dolorosos e competitivos. Em tempos de penúria e de forte influência do Partido, ser escolhido significava ganhar na loteria – era, de fato, uma chance única de ser alguém na vida aos olhos da família.
Em 1979, Li Cunxin é escolhido para representar a China nos Estados Unidos, num intercâmbio cultural incentivado pelo governo dos dois países. Segue para o Texas, onde se depara com um mundo completamente diferente, do consumo à arquitetura, à liberdade de expressão. A partir daí Li faz suas escolhas, sempre recheadas de fatores políticos, envolvimento emocional, diplomacia – já que um abismo separa a China familiar e censurada, da possibilidade de ser livre, de fazer uma carreira internacional sólida e bem sucedida.
A meu ver, há um importante contraponto em O Último Dançarino de Mao, do diretor australiano Bruce Beresford (também de Conduzindo Miss Daisy). Ao mesmo tempo em que é sentimental demais em algumas cenas e mostra personagens rasos, tem cenas belas e delicadas, momentos de verdadeira superação e escolhas difíceis. Talvez as coisas tenham realmente se dado dessa maneira, dramáticas. O ator e bailarino Chi Cao, escolhido para interpretar Li Cunxin, é intenso na sua interpretação e as cenas de dança são lindíssimas – gosto em particular da mais informal delas, a última. Quando vejo esse tipo de filme, procuro ter em mente o fato de ser uma história real. Isso muda tudo. Como eu dizia, apesar do sentimentalismo em alguns momentos, a história de vida supera qualquer excesso. Um registro importante e histórico de uma China que ainda reprime, mas que já presenteia seu bilhão com o capitalismo que tanto surpreendeu Li naqueles anos.
Nos cinemas: 9 de dezembro
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