O PECADO DE HADEWIJCH – Hadewijch

Cartaz do filme O PECADO DE HADEWIJCH – Hadewijch
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Opinião

Deus não está nas caricaturas religiosas, definitivamente. A madre superior chega a essa sábia conclusão quando a noviça Cèline (Julie Sokolowski) exagera nas privações. Não come, não se protege do frio e insiste nas atitudes que beiram o martírio, como se isso fosse prova de fé. Não é – e essa é a grande questão aqui. O fanatismo religioso não encurta o caminho até Deus, seja a religião que for. A mesma madre superior também diz que não é preciso se afastar do mundo para encontrar o divino e Cèline tem de voltar para a sociedade que tanto traz à tona seus conflitos e dúvidas. É como se a freira a colocasse à prova: se conseguir ver, vivenciar, sentir Deus em tudo que é humano, corriqueiro, trivial, nas pequenas coisas, nas relações, na natureza, tem condições de voltar e exercer a sua vocação.

O tema é superinteressante, atual, pertinente. Mesmo porque, de volta ao mundo e à fria família, Cèline conhece dois irmãos muçulmanos e a procura também se estende ao Islã. A fé da menina não a conforta e se transforma em transtorno. O mais rico do filme são os diálogos entre o professor do islã e a noviça – se sentimos a ausência de Deus, é porque ele existe, diz o rapaz. Mas seu olhar vazio perturba um pouco, a força do silêncio faz refletir e pode cansar aqueles que querem mais ação. Não assisti aos outros filmes do diretor francês Bruno Dumont (A Vida de Jesus e Humanidade), mas sei que ele costuma tratar de questões profundas e existenciais, que mexem com a razão de ser das pessoas. Percebi. Aqui ele acompanha Cèline até o fundo do poço e deixa algumas cenas até desconexas e misteriosas.

Repare no final. Tenho meu palpite, mas confesso que fiquei na dúvida e não sei como o funcionário do convento se encaixa  na trama toda. Aliás, não sei quem vem primeiro: se é a conversa com o líder muçulmano e depois a decisão de entrar para o convento, ou vice-versa. Confuso como a cabeça e o coração de Cèline, talvez seja essa a intenção do diretor. Ou talvez seja assim que funcione a cabeça de quem vê na religião um ato fundamentalista e radical. O filme tem o ritmo francês, e um olhar, no mínimo, perturbador.

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