MOONRISE KINGDOM

Cartaz do filme MOONRISE KINGDOM

Opinião

Jared Gilman e Kara Hayward fazem sua estreia neste filme. Seus personagens estão apaixonados um pelo outro e resolvem o problema de uma maneira simples e folclórica: Suzy foge de casa e Sam foge do acampamento de escoteiros. Trocam cartas com os detalhes da fuga, hora e local, e marcam um encontro em um dos bucólicos campos da ilha da Nova Inglaterra, onde moram. Naqueles anos de 1965, tudo era diferente e essa atmosfera poética que o diretor Wes Anderson constrói vem da imaginação daquilo que ele gostaria que tivesse acontecido.

“Não aconteceu obrigatoriamente”, diz Anderson na entrevista coletiva concedida por ele e equipe no Festival de Cannes deste ano, já que Moonrise Kingdom foi escolhido para abrir o grande evento. “É uma perspectiva de como imagino o amor jovem e idealista, a força do amor genuíno”, conta ele. E essa é a essência do filme. Tem uma  áurea de anos 60, época em que os Estados Unidos ainda não entrara no turbilhão de mudanças que vem com a Guerra do Vietnã, contracultura, Woodstock, etc. “Isso não foi proposital, foi intuitivo. Percebi que havia desenhado um perfil dos personagens antes da revolução comportamental dos anos 60 depois que o roteiro estava pronto”, confessa o diretor. “Construí dois adolescentes de uma geração que estaria vivendo, em alguns anos, em um mundo completamente diferente.”

Isso é muito curioso no filme. Não coloca o foco nos adultos – um time de atores de primeira linha: Bruce Willis, Bill Murray, Tilda Swinton, Edward Norton e Frances McDormand, que sai em busca do casal, que passa dias na paradisíaca enseada de Moonrise Kingdom, acampando, lendo e conversando. Nem no seu ponto de vista da história, nem na sua vida pacata e acomodada. Pelo contrário: dá importância à determinação de Suzy e Sam e na sua capacidade de mobilizar as opiniões adultas e mudar o curso da vida.

Mas não espere um filme de ação, fugas mirabolantes e buscas frenéticas, um visual tradicional de filmes com essa narrativa (o trailer abaixo mostra isso).  Acho até que encantará mais adultos que crianças, pelo ritmo e pela fotografia. Moonrise Kingdom tem um ar de poesia, nostalgia dos objetos e referências da infância, de desejo adulto transportado para o mundo infantil. Algo como isso-é-o-que-eu-queria-ter-vivido. Tem um tom de frustração, pontuado com esperança. Sem falar dos próprios protagonistas, que não fazem os típicos adolescentes descolados e bonitões. Suzy é quieta, reservada, séria, concentrada; Sam é hábil, decidido, estilo escoteiro mesmo. Talvez não sejam feitos um para o outro, fisicamente falando. Mas ambos são solitários na sua realidade, em busca de algo a mais. E é isso que os une na aventura. O mais legal é que conseguem fazer com que os adultos comprem a ideia. Mesmo que para isso precisem ser atingidos por um raio.

 

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