MIGNONNES

Cartaz do filme MIGNONNES

Opinião

A palavra “mignon” é francesa e significa alguém pequeno, fofo, delicado. Chamar uma menina de “mignon” é um elogio, porque tem uma elegância também implícita aqui, de alguém que não se expõe desnecessariamente. Algo como “lindinhas”, numa tradução livre. As MIGNONNES deste filme fogem à regra – e escolher este título pra explicar o que são as 4 amigas que resolvem entrar num concurso de dança na periferia francesa é, no mínimo, uma grande ironia.

Amy é a uma menina muçulmana seleganesa, que vive com a mãe e os irmãos em um conjunto habitacional. Ali estão colocadas as questões da tradição, cultura e religião familiares conservadores, que são apresentadas à Amy com a expectativa de que ela siga à risca o que manda o figurino – inclusive que apoie a mãe, que precisa preparar a festa de casamento do seu marido, com uma segunda mulher.

Do outro lado tem as “mignonnoes”, meninas do bairro e da escola de Amy, que se inscrevem em um concurso de dança e pregam a “liberdade de expressão”. Querem poder fazer o que der na telha, dançar, vestir-se como bem entendem, o que vai contra a tradição selegalesa da família de Amy.

Colocadas as contradições, é disso que o filme fala. Do rito de passagem, da pressão por que passam as meninas em pertencer, em mostrar o corpo, em sexualizar a existência quando nem mesmo entendem o que isso quer dizer. Forte, impactante, da maior importância pra olharmos pra adolescência que chega antes da hora; dos apelos das redes sociais que distorcem a realidade. É a estreia da diretora na direção e já chega dizendo a que veio. Preparem-se para a cena do desfecho que é uma poesia só.

[Netflix]

Comentários