LIXO EXTRAORDINÁRIO – WASTE LAND

Cartaz do filme LIXO EXTRAORDINÁRIO – WASTE LAND

Opinião

Lixo extraordinário já diz no nome que se é extra é porque vai além do ordinário, do comum, do que não presta, do que realmente é lixo. Com disse Tião, um dos catadores participantes do projeto quando entrevistado por Jô Soares, eles não são catadores de lixo, e sim catadores de material reciclável. Recolhem o extra, aquilo que pode ter outro fim (ou outro começo) e novamente servir de matéria-prima para a indústria.

Embora o título original seja Waste Land, literalmente “terra do lixo”, adoro a versão brasileira de chamar o lixo reciclável de extraordinário. Funcionou quase como um subtítulo e deu significado ao documentário naquilo que ele tem de melhor, inclusive na descoberta do fator extra também do lado humano.

Um dos maiores do mundo, o aterro sanitário Jardim Gramacho, na periferia do Rio de Janeiro, recebe 7 mil toneladas de lixo por dia, ou seja 70% do total produzido no Rio e arredores. Impressionante o suficiente, não? Mas são as histórias de vida que acabam se tornando o centro do aterro e o lixo, mesmo que extraordinário, serve de material para compor esse projeto idealizado pelo artista plástico Vik Muniz. É quase como uma inversão, a cria acaba engolindo o criador. Pelos depoimentos de Vik, nem ele esperava que “o lado humano viesse tanto à tona, que o trabalho fizesse tanta diferença na vida dessas pessoas”. Que ele não iria mudar um mundo, já era sabido. Mas é inegável o efeito transformador que uma proposta como essa teve na vida dos catadores participantes, durante e depois de dois anos de projeto.

A obra de Vik Muniz passa a ser coadjuvante, como também é secundário o fato de você gostar ou não do que ele produz. O grande prazer do documentário é observar atentamente as transformações possíveis daquilo a que não damos valor. Aqui o lixo vira arte contemporânea, o lixo vira luxo internacional, o lixo humano vira gente.

Indicado ao Oscar de melhor documentário, concorreu com Trabalho Interno.

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