HOMENS E DEUSES – Des Hommes et Des Dieux

Cartaz do filme HOMENS E DEUSES – Des Hommes et Des Dieux

Opinião

Os monges da Ordem Trapista são beneditinos, vivem em mosteiros, mas levam uma vida integrada à comunidade local. Fazem seus votos de castidade, pobreza e obediência, como as outras ordens cristãs, e seguem o princípio fundamental da Regra de São Bento, o ora et labora, ou seja, têm a vida pautada pela contemplação a Deus, pela oração e pelo trabalho. Saber de tudo isso ajuda a entender Homens e Deuses de uma maneira mais completa e complexa. A extrema beleza do filme está nesse exercício de fé que os monges franceses fazem ao se depararem com uma questão de vida ou morte: permanecer desarmados e desprotegidos no mosteiro em Tibhirine, nas montanhas da Argélia, e cumprir sua missão, ou render-se à pressão dos muçulmanos extremistas, que queriam tomar o poder através da violência.

Ouvir os cânticos que contam essa história real é maravilhoso. E digo isso pela beleza que tem, não só a harmonia musical em si, mas também o que se canta, o que se pede, o que se reza durante as orações. Digo isso pela universalidade da oração, pelo sentido ecumênico do ato de rezar. Quando os monges oram, trabalham em prol da comunidade local muçulmana, plantam, colhem, preparam seu próprio alimento e comercializam aquilo que produzem, mostram a essência do trabalho missionário – apesar dos pesares. E os pesares aqui não são poucos. Naquele ano de 1996, os oito monges que vivem na Argélia, veem sua paz e seu trabalho ameaçado pelos violentos insurgentes muçulmanos em plena guerra civil, que aterrorizam não só os cristãos, mas a comunidade muçulmana como um todo e outros grupos estrangeiros instalados no país.

Vencedor do Grande Prêmio do Júri em Cannes em 2010, o título Homens e Deuses é apropriadíssimo. Deixa bem claro o que é obra do homem, o que é obra de Deus – tenha Deus, aqui, o nome que você quiser dar. Deus aqui é paz, convivência, harmonia, troca, serviço. Homem é ambição, ganância, vingança, violência. Toda essa linguagem é magistralmente orquestrada pela luz que entra na capela, pela escuridão que permeia o mosteiro nos momentos de dúvida e dor; pelos monges rezando juntos na capela, representando a união religiosa, ou sentados à mesa mostrando suas individualidades e angústias agora enquanto seres humanos. O desfecho dessa história é, até hoje, controverso e misterioso. Mas a emoção de Homens e Deuses é bem clara. E universal.

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