DOIS DIAS, UMA NOITE – Deux Jours, Une Nuit

Cartaz do filme DOIS DIAS, UMA NOITE – Deux Jours, Une Nuit

Opinião

Dois dias e uma noite é o tempo que Sandra tem para convencer seus colegas de trabalho de que vale a pena abrir mão do bônus de $1000 euros. Assim, a empresa usa este dinheiro para pagar seu salário e evita que ela fique desempregada. Nessa fábula do cotidiano capitalista, os geniais irmãos Dardenne conseguem escrever, de forma simples, linear e extremamente sensível, uma parábola sobre a fraternidade: independente de ela render os frutos materiais, a fraternidade é gratuita, é recompensadora e fortalecedora. Isso, ninguém pode negar.

Estou torcendo por Marion Cottillard (clique aqui para a lista de filmes com a atriz). Por seu papel como Sandra, ela concorre à sua segunda estatueta (venceu com Piaf, em 2008). E o prêmio coloca os irmãos diretores Jean-Pierre e Luc Dardenne no radar do Oscar, já que nunca (isso mesmo, nunca) foram indicados. Coisas da Academia. Seu olhar é algo único no cinema, um equilíbrio perfeito entre realismo e profundidade humana – parece documentário de tão realistas que são os conflitos de relacionamento e comportamento retratados por eles. É só dar uma espiada em filmes como O Garoto da Bicicleta, O Silêncio de Lorna, O Filho, A Criança. Entendeu a intensidade?

Dois Dias, Uma Noite conta a história da mulher trabalhadora comum de classe média francesa, que já se viu desempregada, entrou em depressão e conseguiu sair do limbo graças à ajuda médica e ao suporte incondicional e amoroso da família. Mulher como qualquer uma de nós. De novo na corda bamba no trabalho, precisa resgatar a auto-estima, acreditar que é possível vencer a luta contra o dinheiro e que sua gratidão pode valer mais do que $1000 euros – valor que cada colega de trabalho deixaria de ganhar caso ela fosse mantida no trabalho. Disse acima que a história dos Dardenne tem jeito de parábola: cada um dos gestos de Sandra e de seu marido são carregados de significados como amor, humildade, perseverança, assim como os de seus colegas. Entre as reações de compaixão e egoísmo, inerentes ao ser humano, o que chama mais atenção é o poder que tem uma boa ação. Ser altruísta contagia, estimula e encoraja as pessoas a saírem da zona de conforto. Sem ser moralista (aliás, seus filmes não têm jamais esse tom), Dois Dias, Uma Noite é uma lição belíssima de que deveríamos exercitar esse dom cada vez mais.

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