Opinião

Budrus é um vilarejo de 1500 habitantes na Cisjordânia, perto da fronteira com Israel. Em 2003, as autoridades israelenses determinaram que seria construído um chamado “muro de segurança” entre os dois territórios, isolando e controlando ainda mais o trânsito de pessoas e mercadorias para as cidades palestinas. Ao invés de construir o tal muro seguindo a linha da divisa já existente, o governo de Israel determinou que ele fosse erguido dentro do território palestino, tirando, portanto, um pedaço significativo de terra dos habitantes de alguns vilarejos. Em Budrus, o muro seria construído exatamente no local onde havia as antigas e produtivas oliveiras, fonte de renda e repertório histórico para a maioria das famílias que vivem ali há gerações.

Julia Bacha, diretora brasileira radicada em Nova York, registrou a movimentação pacífica dos habitantes de Budrus, liderados por Ayed Morrar, chefe comunitário que conseguiu reunir lideranças palestinas mais radicais, como o Fatah e o Hamas, numa atitude de resistência sem violência. Gravou os depoimentos dos soldados israelenses responsáveis pela fronteira e pela construção do muro, dos cidadãos israelenses progressistas e de representantes de organizações internacionais que se uniram à causa palestina e apoiaram a resistência pacífica dos moradores de Budrus e das mulheres que entraram na linha de frente das manifestações. Aos poucos, os protestos foram ganhando projeção internacional e a causa foi se espalhando para outros vilarejos que também sofreriam com a construção do muro em suas terras.

De uma maneira bastante didática e até simples, o documentário Budrus ilustra muito bem a questão da terra, da intolerância e arrogância na região, mostrando o que uma decisão aleatória é capaz de fazer na dinâmica da vida de uma população. Claro que nem tudo são flores e nem sempre as manifestações têm esse cunho nobre da não-violência. Mas aqui, em Budrus, a ação foi bem sucedida, servindo de inspiração para a região, na tentativa de evitar a perda de terras, a perda de fontes de renda e de uma vida digna. Vencedor do prêmio o segundo Prêmio do Público na Berlinale, o Festival de Berlim, perdendo para Lixo Extraordinário., Budrus vale a pena ser visto se você quiser conhecer um pouco mais da realidade vida dessas pessoas em conflito e insegurança permanente.