BANGLA
Opinião
Construir uma narrativa auto-crítica é arriscado. Precisa de distanciamento pra conseguir fazer o julgamento, se ver naquele ambiente, entender como se dão as diferenças. A tal da análise isenta. Mas Phaim Bhuiyan não acha isso. Envolvido em todas as etapas de Bangla – é diretor, produtor, roteirista, protagonista – ele mergulha na sua condição de ser metade italiano, metade bangali e o resultado é uma comédia leve, despretenciosa e muito bem humorada.
Phaim conversa com o espectador, quebra a quarta parede, como quem chama pra conversar, na tentativa de elaborar melhor sobre as questões que ele coloca. É muçulmano, precisa casar virgem, mas se interessa por uma garota italiana que não pensa a mesma coisa. Fala dos costumes, de como o imigrante é visto e da força da cor da pele e do biotipo na definição das relações sociais. Embora nascido na Itália, trata com humor a questão de ser considerado imigrante sempre, inclusive por outras comunidades imigrantes que compõem a Europa de hoje.
Nada disso seria possível se não fosse o carisma e talento de Phaim, que expõe seus dilemas religiosos, sociais, sexuais sem medo de cair em clichês – mas já caindo. O interessante é que sua fala, seu posicionamento e seu olhar sobre si mesmo são representativos de muitos grupos sociais que sentem o peso do preconceito nas costas. Uma maneira de abordar essa questão, sem precisar se preocupar em ser sempre politicamente correto.
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