ATLANTIQUE

Cartaz do filme ATLANTIQUE

Opinião

Mati Diop levou o Leão de Ouro pra casa com o documentário DAHOMEY e vencer o Festival de Berlim não é pouca coisa.  Mas enquanto seu doc vencedor não aterrisa por aqui, temos outra obra da jovem diretora e roteirista franco-senegalesa que levou o Grande Prêmio do Júri em Cannes e está disponível para degustarmos.

ATLANTIQUE é um longa de ficção que tem elementos sobrenaturais. Mati Diop elege outro gênero pra dialogar com a temática das nações africanos colonizadas e pilhadas do documentário de Berlim. Apesar de diferente, ambos têm o oceano Atlântico como protagonista de um passado de tradições roubadas e de um presente que tem no mar a possibilidade da imigração em busca de uma vida melhor.

O mergulho é intenso, principalmente porque temos a juventude e a tradição como pontos de atrito, o que esbarra na falta de perspectiva futura por lá. ATLANTIQUE conta a história de Ada, uma jovem que mora num subúrbio de Dakar, no Senegal, e que está de casamento marcado com um homem rico. Como dizem as mulheres por lá, este é o sonho de qualquer menina: não se preocupar com dinheiro, não precisar dar duro e seguir dentro da linha determinada pelos pais. Acontece que Ada ama Souleiman, que trabalha num canteiro de obras com outros rapazes na construção de um arranha-céu futurista, mas não recebem o salário prometido pelo empreiteiro — que, claro, vive superbem, com luxo e conforto, formando aquele retrato cruel da exploração de uma mão-de-obra que, sem outra opção, fica refém deste tipo de trabalho. Furiosos, esses jovens rapazes resolvem se arriscar no mar na tentativa de chegar na Espanha e conseguir emprego por lá como tantos outros.

O Atlântico é quem engole os sonhos e Mati Diop cria o sobrenatural pra fazer essa conexão entre a realidade e a dimensão que não podemos atingir. Um filme que faz mais perguntas do que indica respostas e nem poderia ser diferente.

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