1982

Cartaz do filme 1982

Opinião

Quanto silêncio existe no vazio do corredor da escola, no pátio sem alunos, na insegurança diante do estrondo das bombas. Mesmo no soar das bombas há silêncio. 1982 é sobre o dia 06 de junho, quando israelenses invadiram o Líbano com objetivo de derrotar os palestinos que mantinham sua base no sul do país. Foi quando o futuro da nação caiu no vazio.

O diretor Oualid Mouaness veio ao Brasil para a estreia do filme e seu depoimento, durante a entrevista coletiva à imprensa, foi emocionante. O recorte é autobiográfico e este é mais um intimista filme de memórias, num resgate que o diretor faz de momentos da sua adolescência. “A ideia não era falar da guerra em si, embora ela estivesse acontecendo no pano de fundo”, diz Oualid, que é libanês, mas saiu do país por causa da guerra civil, assim como muitos conterrâneos. “A experiência interna do medo e do amor estava em todas as pessoas naquele momento, independente da religião. E é isso que eu quis trazer, porque é nessa revisão que está o processo de cura”, conclui.

1982 é daqueles filmes cheios de ternura. Tem um recorte específico do momento em que começam os bombardeios na Beirute Oriental. Mas nosso olhar é desviado da guerra e guiado pela experiência de Wissam, um aluno do 5º ano, que está apaixonado por uma colega de classe e precisa encontrar um jeito de ser notado. Mesmo na tensão deste último dia de aula, com jatos cruzando o céu e bombas explodindo no sul do país, a ternura e a camaradagem prevalecem.

Do lado adulto, professores entram em conflito no calor do momento, já que cada um tem um ponto de vista sobre o conflito. Representados por Nadine Labaki no papel da professora Yasmine, vemos o contraponto entre os mundos infantil e adulto. Fica mais difícil ver a humanidade do outro à medida que crescemos e construimos muros com nossas diferenças.

“Só entendi o que aconteceu naquele momento nos anos 1990, quando Beirute foi unificada”, diz o diretor, que usou sua escola na época como cenário do filme. “Olhar pra trás ajuda a curar, traz o passado com perspectiva, com camadas e sabedoria.” Parece justo e é um movimento de resgate que roteiristas e diretores fazem quando conseguem se distanciar de suas próprias histórias de vida e contar sua experiência através do olhar infantil, de suas memórias. Foi assim no mexicano Roma, de Alfonso Cuarón, no inglês Belfast, de Kenneth Branagh, e no espanhol Verão 1993, de Carla Simón. Filmes que resgatam histórias reais, mas escolhem a ternura do olhar infantil pra recordar a sensação e o aprendizado que ficou.

No fim das contas, é um filme de rito de passagem, ou coming of age, como chamamos. Depois desta experiências, os pré-adolescentes perdem a inocência dessa fase pra ingressar num mundo real do conflito criado pelos mais velhos. “É um filme que serve de alerta”, diz Oualid. Verdade. Fala de algo que aconteceu 40 anos atrás, mas os problemas seguem os mesmos.

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