AMOR?

Cartaz do filme AMOR?

Opinião

Quando se fala sobre violência contra a mulher e sobre relacionamentos que dependem da ameaça, do ciúme e da possessão para sobreviver, logo pensamos na periferia e nas camadas mais desfavorecidas da sociedade. Amor?, metade documentário, metade ficção, mostra exatamente o oposto. Quem conta a história não são pessoas simples, mas sim pessoas de classe média, com bom nível de educação, articuladas, viajadas, esclarecidas, cheias de oportunidades na vida e com capacidade de fazer análises bastante profundas. Portanto, corajosamente desvincula a imagem da agressão, da covardia, da violência à falta de educação formal e classe social, ou coisa que o valha.

Interpretados por renomados artistas, os entrevistados conseguem contar com riqueza de detalhes a fase da vida em que a violência foi preponderante na relação amorosa, e com mais detalhes ainda conseguem analisar, depois de passado o turbilhão, a razão de tanta agressividade, de tanta raiva, de tanta dependência, de tanto desamor. Na pele de atrizes incríveis como Julia Lemmertz e Lilia Cabral, os entrevistados tiveram sua identidade preservada. Tanto melhor – são histórias de arrepiar, interpretadas de forma absolutamente verossímil pelos atores. Dá tranquilamente para acreditar que cada um deles viveu de fato aquilo que narram. Pelo que li sobre o diretor João Jardim (também em Lixo Extraordinário), a sua intenção foi justamente essa: entregar aos atores uma nova vida e não um personagem.

São 100 minutos de monólogos, interrompidos por cenas em que alguém mergulha em águas claras, profundas, mar ou piscina, banho de chuveiro. Metáforas da intensidade dos relacionametos, da sensação de afogamento, de sufocamento, de completo envolvimento e cegueira? Pode ser, mas na prática funcionam para interromper os pensamentos e dar a nós, espectadores, um tempo para respirar. São histórias de amor e desamor, paixão e ciúme, dependedência e ódio capazes de arrasar qualquer um. Remete sim ao filme Jogo de Cena, de Eduardo Coutinho, em que atrizes interpretam alguns episódios da vida de outras mulheres. Mas aqui o que está em jogo é a mais profunda relação de amor, mas na sua forma distorcida, desfigurada e completamente traiçoeira. Mais perto de nós do que podemos imaginar.

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