AMANHÃ NUNCA MAIS

Cartaz do filme AMANHÃ NUNCA MAIS

Opinião

Se tivesse mais do que 77 minutos, não sei o que seria de nós. Apesar de algumas ressalvas ao filme – e alguns personagens exageradamente grosseiros – se a intenção do diretor Tadeu Jungle era transmitir o estresse e o desgate da vida de alguém que não tem mais o controle sob suas decisões, seus atos, suas vontades e sua família, que foi totalmente absorvido pelo trabalho, pelo trânsito, pelo ritmo maluco da cidade de São Paulo e principalmente pela sua falta de iniciativa em dizer “não”, conseguiu. Passei parte do filme desejando que tudo aquilo acabasse logo – apesar das situações absurdas e improváveis, é bem verdade que a caracterização de Lázaro Ramos como o médico Walter consegue ser aflitiva e angustiante o suficiente para tornar a sucessão de acontecimentos até aceitável.

Quando tudo parecia ter acontecido, acontece algo mais. Walter é médico anestesista em um hospital da zona leste de São Paulo, mas parece viver à mercê da vontade dos outros. Não recusa os conselhos da sogra, muito menos a coxa de frango gordurosa num dia quente na praia; está distanciado da mulher e não consegue se manifestar quando ela é paquerada por outros. Não controla mais seu tempo, não consegue se comprometer com a família, deixa os horários de trabalho invadirem sua privacidade e parece realmente estar naquele ponto de bala do estresse, em que a corda vai arrebentar. E arrebenta, no dia em que tem que pegar o bolo de aniversário da filha e chegar a tempo na festa. E ainda enfrentar seu colega médico, aquele que achei grosseiro (Milhem Cortaz, também em Assalto ao Banco Central) e a maluca amiga de infância (Maria Luisa Mendonça, também em O Homem do Futuro).

Mas o que realmente pega em Amanhã Nunca Mais – e facilmente consegui me imaginar naquela situação – é ficar preso no trânsito enlouquecido da cidade, rodeado por gente estressada e violenta. Quem não se lembra da cena de Um Dia de Fúria, em que Michael Douglas está também a ponto de explodir e perde qualquer resquício de paciência e civilidade parado no trânsito? O filme é interessante, principalmente se pensarmos na tendência de fazer mil coisas ao mesmo tempo, estressar o corpo e a mente e perder as rédeas da própria vida. Mas o silêncio é sempre um alento depois que passa a tempestade. Ele é possível e, na maioria das vezes, é a resposta. Essa é a maior sacada do filme. Mas para chegar lá, é preciso ir até o fundo do poço – ou melhor, até o fim do filme.

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