AFTERIMAGE
Opinião
Afterimage é o que se chama de imagem residual: a imagem que fica projetada na retina depois que olhamos um objeto. O que nossa mente vai processar daquela imagem, o que realmente vamos enxergar, depende da consciência que temos dela. É assim que Wladyslaw Strzeminski define o ato de fazer arte, dizendo que ela deve mostrar aquilo que o artista absorve da realidade. “Na arte e no amor, a gente só pode dar o que tem”, disse ele. E é isso mesmo – campos em que é preciso ter consciência daquilo que se enxerga.
Apesar de que o universo – e o comunismo – tenham conspirado contra essa convicção e tentado levar a arte do pós-guerra para a esfera política e para o viés do “realismo social” para servir aos interesses do partido, Strzeminski não cede e luta até morrer. Sensível e intensa, a cinebiografia do artista polonês é um retrato do tamanho do estrago feito pelo regime ditatorial de Stalin no campo das artes e do conhecimento. O pintor resistiu à censura, foi banido da Escola de Belas Artes, da associação dos artistas e privado de uma vida minimamente digna. Terminou na miséria, mas com a alma preservada como quem finca o pé no chão e teima em ser coerente com suas ideias e sonhos.
Um pé, porque Strzeminski não tinha uma perna e um braço. Mesmo assim, não cede. Andrzej Wajda, também diretor de Walesa, também cinebiografia sobre outro grande personagem polonês, transmite a dureza dos tempos de penúria e tortura (física e psicológica) por que passaram os poloneses e aqueles que estavam do lado oposto do regime, mas também consegue transmitir uma réstia de esperança. Foram essas pessoas que acreditaram que tudo aquilo passaria e que era preciso deixar um legado. Deixou, de fato, uma expressiva e importante arte de vanguarda.
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