ABRIL DESPEDAÇADO – Por que Rodrigo Santoro precisa de Hollywood?

Cartaz do filme ABRIL DESPEDAÇADO – Por que Rodrigo Santoro precisa de Hollywood?

Opinião

“Olho de um, olho de outro, acabou ficando todo mundo cego.” – Pacu, o filho mais moço

Já disse aqui várias vezes o quanto gosto do trabalho de Rodrigo Santoro no cinema. O nacional, que fique bem claro. Entendo que não seja fácil negar a participação em filmes de Hollywood, como o O Último Desafio, com Arnold Schwarzenegger, ou O Que Esperar Quando Você Está Esperando. Afinal, Santoro lutou para entrar na indústria americana e bem sabemos que não é tarefa fácil.

Sem desmerecer sua luta – quem sou eu para fazer isso. Mas seu trabalho no cinema brasileiro é infinitamente melhor. Aliás, sempre uma grata surpresa rever sua atuação em produções mais antigas, como o lindo Abril Despedaçado. Com a cara do diretor Walter Salles (também de Central do Brasil, Linha de Passe, Diários de Motocicleta, Na Estrada) o filme de 2001 conta com Santoro ainda jovem, recém chegado no campo da longa metragem com uma atuação marcante em Bicho de Sete Cabeças, de Laís Bodanzky, também de 2001. Santoro está novo, porque é jovem. Mas não cru, porque tem maturidade, presença, entrega. E não estamos falando de personagens rasos, tolos, corriqueiros. Estamos falando de papéis densos e profundos nos dois filmes, em que o olhar marca mais do que a fala, em que a atitude diante da câmera é mais forte do que o diálogo propriamente dito.

Com cara de filme autoral, em Abril Despedaçado Santoro é Tonho, o filho do meio de uma família sofrida do sertão brasileiro, que já perdeu o irmão mais velho para o acerto de contas típico do interior cangaceiro, para a disputa de terras sem peso nem medida. Na base da vingança. Uma família toma terra da outra, vinga-se matando o primogênito, que é vingado pelo segundo filho, que mata o primogênito da outra família e assim por diante. Até que não sobra mais ninguém pra contar a história e herdar a terra disputada a ferro e fogo.

O equilíbrio talvez seja a grande sacada de Salles. Ao mesmo tempo em que mostra a escassez do sertão, a fome, a seca, a solidão, a ignorância, a bestialidade da violência, suaviza com a doçura entre os irmãos, com o livro que chega para fazer sonhar, com as imagens que compõem o inatingível, com o balanço que faz voar, com o circo que desperta a vida adormecida.

Quem ainda não viu, corra! É lindo, sensível e brasileiro. E ainda recomendo os filmes abaixo, torcendo sempre para que Santoro não desista do cinema em terras tupiniquins.

 

BICHO DE SETE CABEÇAS, de Laís Bodanzky

CARANDIRU, de Hector Babenco

LEONERA, de Pablo Trapero

CHE – O ARGENTINO, de Steven Soderbergh

CHE 2 – A GUERRILHA, de Steven Soderbergh

HELENO, de José Henrique Fonseca

MEU PAÍS, de André Ristum

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