A BELA QUE DORME – Bella Addormentata

Cartaz do filme A BELA QUE DORME – Bella Addormentata

Opinião

Depois de belíssimo Vincere, impossível não esperar algo à altura. Digo isso de cara porque A Bela que Dorme não é tão vibrante quanto o seu filme anterior, porque é mais reflexivo. Vincere era um romance histórico; A Bela que Dorme é um roteiro pensado para colocar lenha na fogueira do polêmico assunto eutanásia – que Marco Bellocchio traz à tona de maneira forte, sombria, duvidosa. E bela, claro. Seu cinema é belo. Mas aborda o tema sem firulas e com o drama humano que vem naturalmente com ele.

Embora  não seja um filme fluente e seja escuro durante períodos às vezes longos demais, isso faz parte da proposta reflexão. Mesmo assim, à medida que penso sobre o filme, sinto que gosto dele cada vez mais. Portanto, está dito: não é um filme mastigado, pronto, muito menos conclusivo. Aliás, será que um dia a eutanásia será tema fora da polêmica? Duvido, ainda mais porque bate de frente com áreas do conhecimento humano altamente conflituosas e pessoais, como religião, apego, sentimento, posse, vida, morte.

O cerne do drama gira em torno do caso de uma garota, Eluana, que está em coma há 17 anos e da possibilidade de desligamento dos aparelhos que a mantêm viva. A Itália se mobiliza no âmbito do Parlamento, do Vaticano, da comunidade religiosa, da população em geral, cada um defendendo seu ponto de vista. Com essa linha mestra, três outras historias correm paralelas, também de personagens que precisam conviver com a morte ainda em vida.

Sem luz no fim do túnel escuro – é essa a imagem que Bellocchio constrói. Maria (Alba Rohrwacher, também em Que Mais Posso Querer, Um Sonho de Amor, Irmãs Jamais, Meu Irmão É Filho Único) convive com a mãe doente terminal e com a dúvida cruel em relação à postura do pai, que por sua vez, como senador, quer votar contra o governo e o Vaticano, no referendo que autoriza a eutanásia em casos específicos. Uma mãe (Isabelle Huppert, também em Minha Terra, África, Copacabana) convive com a filha em coma e engessa todas as relações familiares ao redor, incapaz de tirar a família do coma geral. Uma mulher (Maya Sansa) vive deprimida e quer tirar a vida mesmo sem estar em coma. Ou está, só que um coma diferente, consciente, acordado.

Um drama instalado, repleto de situações conflituosas sem aparente solução – o que dá a sensação de peso que o filme e o tema carregam. Peso do pecado, da culpa. Bellocchio pesa a mão nesse sentido, escurece mais o túnel, mas talvez seja mesmo esse o panorama real de quem vive o problema. Se tiver ciente do que vai encontrar, não deixe de ver A Bela que Dorme.

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