A ÁRVORE – The Tree
Opinião
Charlotte Gainsbourg desta vez não está tão melancólica, embora tenha sim uma tristeza inerente ao personagem já que seu marido morre repentinamente. Digo desta vez porque da última que a vimos no cinema ela era uma das protagonistas, ao lado de Kirsten Dunst, no maravilhoso Melancolia. E ainda, como se não bastasse essa fama de “carregar o mundo nas costas”, é ela também a protagonista do conturbado e controverso Anticristo em que tem que lidar com a morte do filho, transcende os limites da sensatez e nos deixa, espectadores, também muito incomodados com tanta angústia.
No contemplativo A Árvore, da diretora francesa Julie Bertuccelli, Charlotte é Dawn, uma mãe de quatro filhos que mora em uma casa gostosa no interior da Austrália e tem uma vida feliz ao lado do marido. Após sua morte, Dawn vive o luto, mas demonstra vontade de seguir vivendo, de se alegrar, de cuidar dos filhos. É como se ela soubesse aqui que ninguém o substituiria, mas que iria haver um outro caminho, que era preciso esperar. Há tristeza, nos faz parar para pensar, mas há esperança – o que é importante dizer, já que tem um clima diferente dos seus filmes anteriores e definitivamente mais leve.
A esperança está representada pela árvore imensa ao lado da casa, que rende o título do filme, cujas raízes já prejudicam a sua estrutura, mas onde sua filha de 8 anos imagina (e sente) a presença do pai. É aqui que entra a metáfora: as raízes da árvore, da casa, da família, da vida passada se confundem e se mostram fortes e fracas, preenchem e incomodam. É como se só o tempo e a própria natureza fossem capazes de mostrar o rumo a seguir – e aqui a árvore tem uma grande parcela de responsabilidade. Sensível e delicado, A Árvore é uma singela vivência da perda, do luto e da luz que aparece das situações mais imprevisíveis.
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