Opinião

Mais uma vida real transportada para o cinema. A história em si é muito boa, mas confesso que tinha uma expectativa alta demais – talvez por causa do outro trabalho do diretor Joe Wright, Desejo e Reparação, que é realmente muito sensível.

O Solista conta a história do talentoso músico Nathaniel Ayers (Jamie Foxx), que tem que abandonar os estudos na renomada escola Juilliard, de Nova York, por sofrer de esquizofrenia. Quem o descobre morando nas ruas de Los Angeles é o reporter Steve Lopez (Robert Downey Jr.), que resolve publicar sua história no jornal e dela escrever um livro (no qual este filme é baseado). Sendo real, é muito interessante, até porque ilustra o caso de muitos talentos perdidos em várias áreas do conhecimento por causa de doenças que recebem tratamentos errôneos ou até são deixadas de lado sem qualquer atenção.

Músico e jornalista estabelecem uma relação de amizade e presume-se que o protagonista seja o músico. Presume-se que a história retrate sua dificuldade de se inserir na sociedade, de se relacionar, de mostrar seu talento e de viver dignamente. Pois é, foi nesse ponto que fiquei decepcionada. Senti que o foco caiu demais sobre o jornalista frustrado, que está sem objetivo, sozinho e deprimido. Que ele, Steve Lopez, encontra em Nathaniel uma válvula de escape, uma razão de continuar vivendo, e não vice-versa. Embora mostre a realidade dos sem-teto de Los Angeles, a dificuldade daqueles que sofrem de doenças mentais e não têm o apoio da família ou do sistema de saúde, achei que a história tinha potencial para emocionar de verdade. Mas ficou devendo.