EM NOME DO PAI – In The Name of the Father
Opinião
O “pai” do título não é Deus – muito embora o conflito entre Irlanda do Norte e Inglaterra também permeie a intolerância religiosa. Estamos nos anos 1970, quando unionistas protestantes queriam continuar respondendo para Londres, mas os nacionalistas católicos achavam que deveriam voltar a fazer parte da Irlanda. Por isso criam seu braço armado, o IRA (Exército Republicano Irlandês), para lutar contra a presença inglesa no país. Durante mais de 30 anos, os atos terroristas mataram inocentes e prejudicaram a Irlanda do Norte como um todo.
De fato “pai” poderia ser uma referência à luta armada em nome de Deus – assim como muitas outras cruzadas foram justificadas pela religião. Faria todo o sentido. Mas aqui é a luta em nome do pai biológico, condenado, junto com o filho, por um crime cometido justamente pelo IRA, e não por eles, em Londres. A família Conlon é julgada e presa injustamente. Daí a luta pela justiça e liberdade.
O filme é de 1993, mas a questão é bastante atual. Lembrei dele quando vi Nine, também com Daniel Day-Lewis. Lembrava da sua atuação brilhante e de que através de seu personagem conhecemos a ideologia do grupo terrorista IRA e sua brutalidade, além da atitude comum da juventude britânica dos anos 70, no culto das drogas, do sexo e do rock. Preste atenção nas roupas, na ambientação. O retrato é interessante. A cena em que mostra esses jovens inconsequentes, baderneiros e descompromissados no seu “apartamento” londrino caindo aos pedaços me fez lembrar a Londres de hoje. A cidade que mantém as fachadas vitorianas, tem o interior repaginado com o que há de mais moderno, fashion e badalado – vide as lojas e os hotéis charmosos que há por lá. Metafórico talvez de como a Inglaterra se comporta hoje e ontem, do seu conservadorismo, da quebra de protocolos e paradigmas.
Atualmente os dois braços políticos coexistem pacificamente e formam o governo de coalizão, embora ainda haja grupos dissidentes criando conflito. Hoje a província britânica da Irlanda do Norte já tem mais autonomia, com os poderes de polícia e justiça centrados em Belfast, e não mais Londres. Tanto melhor. Cada um que cuide do seu. Por essas e outras, vale rever para lembrar e entender melhor o nosso mundo. Vale rever – nem que seja para apreciar uma história realmente muito boa.
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