DESERTO | Desierto
Opinião
Depois do atentado de ontem em Nova York, Donald Trump anunciou que pretende encerrar o programa de Vistos da Diversidade – uma espécie de loteria de green cards. É um sorteio aleatório entre cidadãos de países com baixa taxa de imigração nos Estados Unidos. Quem tira a sorte grande fica legalmente no país. Desde que foi eleito levantando essa bandeira do ódio aos imigrantes, o presidente vem colecionando mais inimigos. É o ódio pelo ódio – porque, a essa altura dos acontecimentos, proibir vistos não resolve nada.
É como dizer que todos imigrante é terrorista. Generalizações perigosas e, via de regra, bem longes da verdade. Jonás Cuarón queria trazer mesmo essa discussão quando escreveu o roteiro (ele também é um dos roteiristas de Gravidade, dirigido por seu pai, Alfonso Cuarón). No fim das contas, a imigração ilegal é um grande negócio, em que mocinhos e bandidos se confundem. Moises (Gael, também em Diários de Motocicleta) é mexicano, tem família nos Estados Unidos, foi deportado e tenta cruzar novamente a fronteira pelo deserto, juntamente com outros tantos imigrantes. Calcados nessa desilusão alheia, os traficantes de pessoas ganham dinheiro, montam uma pirâmide hierárquica de poder e fornecem munição para o sentimento horroroso de raiva que pessoas como Sam (Jeffrey Dean Morgan, também na série The Walking Dead e The Good Wife) nutrem. Sam faz parte de uma milícia armada não-oficial que se intitula vigilante da fronteira. São civis que integram o chamado Minutemen Project, ficam patrulhando o local e simplesmente matam quem tenta cruzar. Matam mesmo, não tem perdão.
O deserto é personagem, quente, árduo, árido e implacável. O filme também. Um caça, o outro tenta sobreviver, dentro da cultura da intolerância. O pôster, inclusive, com o rosto de Trump estampado, casa tragicamente com os eventos da semana.
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