SELMA – UMA LUTA PELA IGUALDADE – Selma
Opinião
Selma é o nome de uma pequena cidade no Alabama, que foi palco de uma grande façanha. Em 1965, já famoso e já ganhador do prêmio Nobel da Paz (1964), Martin Luther King Jr. não se contenta com as honrarias. Não só não abandona a comissão de frente da luta contra a segregação dos negros nos Estados Unidos, como também compra brigas com autoridades racistas, enfrenta policiais, angaria simpatizantes e militantes pelo país todo e organiza passeatas e manifestações pacíficas no sul, região em que o negro ainda sofre o Apartheid. Selma é a cidade onde ocorre a tal passeata, que pressiona o presidente Johnson a fazer cumprir a lei. Explico: embora os negros já tivessem direito ao voto pela constituição, as autoridades não eram obrigadas a segui-la. Alguém tinha que sair da zona de conforto.
Luther King já havia feito, em 1963, seu famoso discurso em Washington: “I have a dream…”. Seu carisma já era conhecido, assim como sua postura de não-violência nos protestos. Sua convicção na luta pelo direito dos negros e contra a guerra do Vietnã o tornam famoso para o bem a para o mau. Consegue melhorias significativas, projetos de lei que vão melhorar gradativamente a vida dos negros e integrá-los na sociedade, mas também serviu para expor sua figura, sua família a ponto de ser assassinado por um opositor branco em 1968.
Dito isso e tendo situado Luther King no tempo e na história, ressalto que Selma é interessante pelo seu momento histórico, pela dimensão das mudanças sociais nos EUA no quesito racial (até culminar na eleição de Obama) e pelo olhar da diretora. Ava DuVernay é negra e declara que fez um filme da maneira como ela vê os fatos – isso porque dizem que a história verdadeira de King e o presidente Johnson não foi bem assim. Concordo com ela, afinal não se trata de um documentário. Sabemos como essas coisas variam de acordo com o olhar e interesse de cada interlocutor. Não precisamos ir longe, basta olharmos para os feitos históricos da atualidade. Há sempre duas verdades, pelo menos: a minha e a sua. Com o que acontece em Selma não foi diferente. O que importa pouco, acho eu. Já que o filme é bem feito, traz à tona um líder humano, cheio de defeitos e problemas como todos nós. Coisa que ninguém é capaz de contestar.
E digo mais: gosto de algumas decisões da diretora, principalmente neste momento do cinema inundado de biografias. DuVernay faz um belo recorte dos personagens e, em poucas palavras, conta o destino futuro de cada um dos ativistas da causa de Luther King no final do filme, enquanto ainda estão fisicamente ao seu lado – não é só um letreiro no final do filme. É como se dissesse que King continua vivo na carreira que cada um deles conquistou graças à persistência e convicção de que todas as pessoas deveriam ser criadas com os mesmos direitos e deveres, e julgadas pelo caráter e não pela cor da pele. Embora às vezes não seja natural (quando vi Oprah Winfrey na tela, lembrei-me do clima falso de O Mordomo da Casa Branca), gosto do filme e o cinema é, de fato, instrumento para imortalização da história.
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