UMA NOITE EM 67

Cartaz do filme UMA NOITE EM 67

Opinião

 

 

           Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino pra lá
Roda mundo, roda-gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

Roda Viva (de Chico Buarque)

 

A chamada Era dos Festivais de MPB, de 1965 a 72, marcou uma época. Em plena ditadura, ela carrega um significado não só musical, mas também político e ideológico. O festival daquele ano de 67 foi emblemático e portanto escolhido para representar o que foi uma quebra de paradigma na música popular brasileira.

Uma Noite em 67 traz justamente essa experiência. Documenta, através de imagens da época, os finalistas cantando e sendo entrevistados nos bastidores da final do festival; conta, através das entrevistas com os mesmos finalistas 43 anos depois, o que cada um pensava e sentia naquele momento; explora, com essa riqueza de informação, o que foi a época de contestação do regime militar, de ruptura na MPB com a criação do Tropicalismo por Caetano e Gil (que queriam inserir a música brasileira no contexto mundial e aderir à guitarra elétrica), de mudança de postura por parte do público, que vira personagem do festival e assume o que pensa com vaias ou aplausos.

Estamos falando aqui de nada menos que Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Edu Lobo e Roberto Carlos. Além deles, tinha Sérgio Ricardo, que terminou desclassificado por não suportar as vaias, quebrar o violão e lançá-lo na plateia. Qualquer um deles poderia ter ganho, porque até nisso a edição de 67 era especial. Segundo o musicólogo Zuza Homem de Mello, qualquer uma das cinco músicas finalistas arrancaria aplausos do público, do júri e dos outros compositores. Era inédito ter tanta música boa reunida.

Venceu Ponteio, de Edu Lobo. Mas poderia ter sido Alegria, Alegria, Domingo no Parque, Maria, Carnaval e Cinzas ou Roda Viva. Para quem acompanhou todo esse movimento na época, Uma Noite em 67 é uma grata revisita, sem nostalgia – mesmo porque os compositores não falam em saudade e não deixam a sensação de melancolia nos depoimentos atuais. Para quem não viveu esses tempos, mas guarda uma memória histórica de referências do que foi essa revolução da música, da política e da sociedade brasileiras, é quase que uma autorização para visitar. Mas mesmo que seja só pelas canções, pelo visual da época, pelos depoimentos sensíveis, interessantes e muitas vezes divertidos de cantores ídolos da nossa cultura popular, não há como se arrepender.

PRODUÇÃO EXECUTIVA: João Moreira Salles e Maurício Andrade Ramos

CONSULTORIA: Zuza Homem de Mello

Trailers

Comentários