UMA GARRAFA NO MAR DE GAZA – Une Boutteille à la Mer
Opinião
Em tempos de atentado (será que vai chegar a hora em que esta introdução não será mais verdadeira?), as reflexões propostas em UMA GARRAFA NO MAR DE GAZA me pareceram muito oportunas. Até pelo fato de o atentado ter sido em Boston (desta vez) e nós aqui, tão longe, sentimos como se fosse conosco. Ameaça iminente, presente, global. Embora não seja esta a nossa preocupação em terras tupiniquins, aqui nos preocupamos também com a violência, com o desrespeito, com a morte de pessoas queridas. Gera tensão um simples telefonema não atendido (o que será que aconteceu?), uma moto que para no farol ao lado do carro (não blindado), uma pessoa de gestos suspeitos (ou nem tanto, o que é ainda mais perigoso). Portanto, onde quer que estejamos, estamos sempre com medo (eu sei, é verdade, há lugares no mundo que não há nem réstia de ameaça, mas temos que trabalhar com os sentimentos disponíveis, não é mesmo?).
Introdução cheia de perguntas esta minha. Assim ficamos com o noticiário, com famílias destroçadas, pessoas de bem, mutiladas e feridas. Assim ficamos. E ficamos paralisados. Mas quando o estresse gera reflexão e ponderação, e ajuda a sair da zona de pânico e paralisia, pode haver, enfim, algum benefício em meio a tanto terror. Por que raios as coisas são assim?
É esse tipo de questionamento que move essa garrafa do título até uma praia da Faixa de Gaza. A francesa Tal Levine é judia e mora com a família em Jerusalém. Inconformada com as bombas que assustam e matam as pessoas na cidade santa, escreve um manifesto mostrando sua indignação com a intolerância religiosa, o coloca em uma garrafa vazia, e joga no mar (veja trailer abaixo). Como uma mensagem de socorro, chega nas mãos do jovem palestino Naïm, que vive em Gaza, território islâmico cercado com altos muros, sob severas restrições e em constante conflito bélico, ideológico, religioso e territorial com Israel.
A partir daí, Tal e Naïm fazem contato e trocam tanto farpas quanto palavras de solidariedade diante dos constantes ataques desmedidos. Munido de uma arma poderosa que é o questionamento da juventude, Uma Garrafa no Mar de Gaza tem a irreverência própria dos jovens, a possibilidade de mudança, a visão do novo e a esperança ainda tão presente a ponto de ser transformadora. Humano e muito delicado, fala da amizade improvável, mas principalmente do preconceito e do perigo que é o rótulo. Difícil entender e tomar partido. Aqui entra o cinema com vários olhares para gerar reflexão e, quem sabe, um olhar fraterno. Afinal, os mundos de Tal e Naïm são separados pelos 90 km mais intransponíveis que possam existir.
PARA SABER MAIS: Sobre os conflitos na região, ver o post FILMES SOBRE O CONFLITO NO ORIENTE MÉDIO.
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