MIRAL

Cartaz do filme MIRAL

Opinião

Logo de cara Miral tem o chamariz da atriz indiana Freida Pinto (também em Quem Quer Ser um Milionário, Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos, Planeta dos Macacos – A Origem),  mas é bom saber que conta também com a grande atriz palestina Hiam Abbass (também em Lemon Tree, O Visitante, A Noiva Síria, Munique, Conversas com meu Jardineiro), que é um emblema do cinema do Oriente Médio. É preciso dizer que, embora o filme retrate o conflito entre palestinos e israelenses, mais especificamente em Jerusalém, podendo ser estendido para todo do território em disputa, Miral me pareceu também um filme sobre histórias de vida, centrado em duas mulheres, cujas vidas seguem entrelaçadas ao conflito na região.

Claro que usados como pano de fundo, a criação do Estado de Israel em 1947, o cerco aos palestinos, a Intifada, os conflitos e intolerâncias de ambas as partes constroem a narrativa de uma maneira mais do que ilustrativa. São elementos fundamentais para entender o drama de Hind Husseini (Hiam Abbass), uma palestina que acolhe diversas crianças árabes deixadas órfãs durante a guerra entre palestinos e israelenses após a declaração de independência de Israel. Em poucos meses, são 2000 crianças e Hind Husseini cria o Instituto Dar Al-Tifel, que vai se responsabilizar pela educação dessas crianças num território em que ser palestino significava ser contra o poder vigente.

Nesse cenário surge Miral (Freida Pinto), que aos 7 anos é deixada pelo pai no instituto, onde é educada e instruída em segurança, dentro dos portões daquele que se torna o lar para milhares de meninas sem esperança de um futuro estável em meio à disputa entre israelenses e palestinos. Ela cresce, percebe a necessidade de participação na causa palestina, toma partido, corre riscos e escolhe sem caminho. A relação entre Miral e Hind é o cerne de toda a questão, principalmente nos sábios conselhos dados pela experiente educadora, que vê no exercício da tolerância e das concessões a única saída para um final menos doloroso e a única possibilidade de um dia ter uma convivência pacífica entre os povos.

Se a visão do diretor Julian Schnabel (também de O Escafandro e a Borboleta) é parcial e tendenciosa, se pende para o lado dos palestinos, colocando-os como vítimas após a formação do Estado de Israel e domínio israelense sob o território antes palestino, é outro problema. Não tem como um filme desse teor, que mexe nessa ferida de décadas, sem previsão de cicatrização, não ser contestado, não ser questionado. Nem eu tenho a pretensão de tomar partido, não se trata disso – aliás, toda história tem mais de um ponto de vista. O que valeu aqui para mim foi o fato de Miral mostrar a ação humanitária da pelestina Hind Husseini, que acolhe sem exceção, na esperança de assim construir um futuro melhor para todos. É um filme bonito, sem ser espetacular. Como falei, são histórias de vida, recortes de alguns momentos que constroem essa difícil história do Oriente Médio.

 

Comentários