TUDO OU NADA – RIEN A PERDRE

Cartaz do filme TUDO OU NADA – RIEN A PERDRE

Opinião

TUDO OU NADA é, no título original, RIEN A PERDRE, ou seja, nada a perder.  Faz sentido. Sylvie é mãe solo, que rala pra sustentar a família e dar conta de cuidar de tudo e de todos. Um dia, ela se vê numa situação limite quando Sofiane, seu filho de 10 anos, vai para um abrigo por suposta negligência da sua parte. Isso porque enquanto ela trabalhava e o irmão estava pra aula, Sofiane sofre um acidente doméstico. É praticamente um barril de pólvora que explode, numa casa que, literalmente, pega fogo. Tudo vai pelos ares. Mesmo sendo uma família amorosa e com forte vínculo afetivo, não é possível viver tranquilamente. Como é dito no filme, “é preciso mais do que amor  pra criar um filho”. O que deveria bastar é colocado à prova diante de sistemas jurídico e social perversos, ineficientes e machistas.

Este é o primeiro longa da diretora Delphine Dologet, que é documentarista, mas escolhe, aqui, não ir por esse caminho. Embora sua pesquisa para criar os personagens seja baseada intimamente na convivência com vidas reais que passam por isso (famílias, advogados, juízes, assistentes sociais), sua opção foi por dar ênfase à construção psicológica dos personagens. Sem se preocupar em retratar fielmente a realidade, Delphine traz a verdade por que passam as pessoas envolvidas neste drama intenso e que produz marcas eternas, transformando o filme em algo universal.

Nesta zona cinzenta e atordoante,  Sylvie é um espelho de um Estado incompetente. Estão expostas as questões fundamentais que estão diretamente ligadas à dupla jornada materna, ao pré-julgamento que se faz de Sylvie, sempre inadequada aos olhos da sociedade, seja quando trabalha, quando se diverte, quando discute, quando consente. A diretora faz bem em não oferecer respostas. Escancara as problemáticas diretamente ligadas ao sistema perverso da jornada dupla da mulher, nos convidando a refletir sobre a importância da rede de apoio familiar, dos cuidados com a saúde mental, da escuta, da individualidade de cada membro da família, de uma assistência social ampla, irrestrita e, principalmente, humana.

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