TARJA BRANCA | CIRANDA DE FILMES
Opinião
Este texto foi publicado em abril, quando Tarja Branca abriu o festival de cinema Ciranda de Filmes. Ainda bem que agora entra em cartaz. Merece sua atenção e vale seu ingresso. Publico novamente, com o trailer abaixo, que tem algumas das frases mais preciosas do documentário.
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E no fim, tudo terminou em ciranda. Ao som do multiartista Antônio Nóbrega, os convidados para a abertura desse inovador festival de cinema, dançavam ao redor das cadeiras do grande Cine Livraria Cultura. Quer coisa mais emblemática? Educadores, cineastas, artistas, mães, pais e todo mundo mais que se conecta, de alguma forma, com a infância e o aprendizado lúdico e transformador, em plena Avenida Paulista, formando uma ciranda de harmonia e olhares (sim, porque dava pra ver todo mundo se olhando)? Assim abriu o Ciranda de Filmes, festival de cinema e rodas de conversa que pretende trazer à tona a importância do brincar e do criar, na formação de pessoas mais felizes e realizadas.
Pretende e consegue. Porque o filme de abertura trata explicitamente do tema. Até o nome é sugestivo. em Tarja Branca, de Cacau Rhoden, um dos entrevistados acredita que a cura para os males contemporâneos não venha dos remédios tarja preta, mas sim daquele que todo mundo pode tomar, tarja branca: o brincar. Minha memória ficou curta para registrar tantas falas interessantes e analogias que foram feitas nos depoimentos, sobre a importância da brincadeira na formação das pessoas.
Mas duas me chamaram a atenção de forma especial, até porque conversam entre si. Dizer que “… tem gente que vive e toca só duas cordas na vida; brincar é poder dedilhar todas as cordas da nossa harpa”, e que “… brincar é empinar pipa usando toda a linha do carretel. Assim, pelo código dos ‘empinadores de pipa’, essa linha não pode ser cortada nunca.” Com essas e outras, o fio condutor da infância foi conduzindo os entrevistados para uma análise genuína de como essa preciosa fase da vida contribuiu para a formação dos adultos que são hoje. Acho que, inclusive, fica o convite para o espectador fazer o mesmo. Em diversos momentos fiquei pensando que sorriso meu da infância eu gosto mais.
Ao percorrer o Brasil, o diretor Cacau Rhoden colhe depoimentos das mais diversas pessoas, das mais diversas profissões e origens, indagando sobre o potencial de transformação das brincadeiras na infância. O curioso é o coro que todos eles formam, da feirante ao psicólogo, do palhaço à pedagoga: é preciso soltar às amarras, deixar a criança vivenciar, montar o carrinho de sucata e sair puxando por aí. Criar é encontrar-se com você mesmo, exercendo o mais sério e compenetrado trabalho de todos. Não sabia que “negócio” era a negação de “ócio”. Achei interessantíssimo e faz realmente todo o sentido. O fazer nada, o ócio, é o nosso grande trampolim para ideias, conversas internas, descobertas, experiências únicas. Quando tudo na vida vira negociação, inclusive a infância, aí a ciranda para de rodar com a mesma alegria.
PROGRAME-SE: O Ciranda de Filmes é gratuito, de 01 a 03 de abril, sempre no Cine Livraria Cultura do Conjunto Nacional (Av. Paulista, 2073, SP). A programação está no site do festival (basta clicar no link acima). Além de filmes, o festival organizou rodas de conversa, o que sempre gera uma interessante e rica reflexão!
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