SOBREVIVI AO HOLOCAUSTO

Cartaz do filme SOBREVIVI AO HOLOCAUSTO

Opinião

No dia que os americanos celebram o Dia do Veterano, eu estava nos Estados Unidos. Para a nossa realidade, esse tipo de comemoração não faz muito sentido, mas para eles faz: os veteranos saem às ruas vestidos com farda, tem banda tocando, gente fazendo discurso, pessoas emocionadas e o que mais me chamou a atenção, muito veterano jovem. Claro, os EUA foram recentemente atacados e o 11 de setembro de 2001 mudou tudo. Deste então, estão novamente em guerra. Sempre tem gente combatendo em algum lugar do mundo e, portanto, aquela imagem do veterano velhinho da Segunda Guerra já é coisa do passado.

O veterano de guerra é hoje um sujeito jovem. Fazendo o cálculo dos anos, um combatente que sobreviveu à guerra nazista, na melhor das hipóteses, tem lá por volta de 85 anos. Do Vietnã e do Golfo, ainda há muita memória viva, mas da Segunda Guerra, já não são muitos pra contar a história. Bem diferente dos relatos que ouvimos, uma amiga e eu, sobre os combates atuais, jovens patriotas enviados ao Afeganistão e Iraque, logo depois do ataque às Torres Gêmeas. E seguindo a mesma linha, se os veteranos já são poucos, os sobreviventes são menos numerosos ainda. Se pensarmos no Holocausto, no extermínio de 6 milhões de judeus e na implacável passagem do tempo, não é difícil concluir que são poucos os sobreviventes vivos até hoje. Em pouco tempo, não haverá mais ninguém para reviver a história. É a lei da natureza.

Sobrevivi ao Holocausto faz justamente esse papel, através da vivência trágica do judeu polonês Julio Gartner. No documentário, ele conta como foi seu martírio pelos campos de concentração, suas privações, a perda da família, as incontáveis situações de “quase morte” por que passou, sempre acompanhado da jovem Marina Kagan, que tem a idade aproximada que Julio tinha quando foi libertado. Percorrem os lugares por onde passou, desde a casa onde morava com seus pais até os 15 anos em Cracóvia, na Polônia, até o último campo de concentração em que esteve preso. O filme é simples, mas emocionante. Faz uma leitura genuína da trajetória de Gartner, documenta o terror com realismo e traz depoimentos bem interessantes. O mais emocionante é, sem dúvida, o encontro de Julio com o casal que o abrigou no interior da Polônia, onde viveu escondido dos nazistas por algum tempo.

É pela mesma razão – da passagem implacável do tempo ser inevitavelmente ligada ao esquecimento – é que se faz a chamada Marcha da Vida. O movimento que existe desde 1988 e foi registrado em documentário homônimo na sua 20a edição, em 2008. O projeto foi criado justamente por jovens que resolveram fazer o trajeto entre os campos de concentração de Auschwitz e Birkenau a pé, como era feito pelos judeus na Guerra – a chamada Marcha da Morte. A ideia junta jovens, idosos, sobreviventes e gente solidária independente de religião, nacionalidade ou credo, que não quer deixar a história cair no esquecimento. Já ficam de quebra dois Garimpos na Locadora, sobre esse tema da morte, mas também da vida que teima em continuar.

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