SENTIMENTAL VALUE

Cartaz do filme SENTIMENTAL VALUE

Opinião

Com este filme de Joachim Trier, mente quem diz que não se identifica. SENTIMENTAL VALUE explora as mágoas, os problemas não resolvidos, as palavras não ditas nas famílias. Fala dos silêncios que pairam entre pais e filhos e dos valor sentimental que isso tem.

Título vem a calhar, por sinal. Aqui tem silêncios, mas tem também afeto, que precisa achar seu lugar ao sol. Pra isso, é preciso curar as mágoas. A casa da família entra como testemunha da memória, como protagonista mesmo, naquela metáfora que normalmente funciona de fazer da casa física, do cenário onde habita a família, a casa interna do personagem. Renate Reinsve (também em A Pior Pessoa do Mundo) é Nora, uma atriz de teatro, que tem um olhar melancólico pra vida, inseguranças aparentes que influenciam a maneira de lidar com o trabalho e com os relacionamentos. Ficamos sabendo que seus pais se separam e quando a mãe morre, seu pai volta para encontrar as filhas. É nesse encontro que vêm à tona as mazelas do passado.

A maneira de Joachim Trier de olhar pra isso é através da arte. Stellan Skarsgard é o pai, Gustav, um diretor de cinema famoso, que resolve se aproximar de Nora escrevendo um papel pra ela em um novo filme que conta a história de sua mãe, que se suicidou nesta casa da família. Nora declina e ele escala Rachel Kemp (Elle Fanning), uma atriz famosa que vai entrar na relação familiar de uma forma particular.

Trier conta que o filme nasceu a partir da relação entre as irmãs Nora e Agnes, que traz o espírito da sororidade pra falar do cuidar, da herança feminina que passa de geração em geração e constrói o histórico familiar — para o bem e para o mal. Carregar o piano que foi deixado pelos antepassados é pesado e Trier entra na seara da cura pela linguagem da arte, quando falar a linguagem dos humanos é difícil demais para gerações que não exercitaram a linguagem social da escuta.

É um cinema intimista na medida em que fala de fragmentos memória, de personagens que estão despedaçados pelas experiências. Improvável que não cause identificação com quem quer que seja — ou que esteja disposto a olhar para suas próprias experiências familiares. Está arrancando elogios em Cannes e é bonito mesmo. Mas não é páreo para Jafar Panahi.

 

Comentários