SEBASTIÃO SALGADO IMPERDÍVEL

Cartaz do filme SEBASTIÃO SALGADO IMPERDÍVEL
TAGS:

Opinião

Jogo lá embaixo deste post o que eu tinha escrito antes de conferir Gênesis, a exposição do fotógrafo Sebastião Salgado. Já não faz mais sentido, muito embora não tenha inverdades. Pelo contrário, está correto, mas longe de ser o essencial. É objetivo demais, para imagens que se pretendem sensoriais. Aliás, eu diria que é uma experiência emotiva de um modo geral. Imaginar que Salgado percorreu o mundo, encontrou em contato com situações extremas nas paisagens mais inóspitas e espetaculares, já na casa dos 60,  fez milhares de fotos, conseguiu escolher algumas, já é o suficiente para deduzir, sem medo de errar, que uma expedição como essa forma e deforma sensações e sentimentos, esperanças e medos. Presumo que ele não tenha saído ileso.

Ninguém sai. Na chegada ao Sesc Belenzinho (aliás, que instalações!), algumas fotos nos recepcionam ao ar livre. Impactantes. Uma manada de elefante que parece compor uma montanha, gaivotas e leões que descansam confortavelmente nos seus companheiros, com olhares, eu diria, humanos. Tribos nativas, casas na árvore, esquimós cortando a paisagem gelada dos polos. Nos quatro cantos do mundo – que para Salgado são muito mais numerosos que isso – seu olhar aparece de modo especial, na tentativa feliz de retratar confins que ainda não sofreram a intervenção do homem, da máquina, da informática, do conhecimento como nós o entendemos hoje. Por isso Gênesis, o começo de tudo.

Depois de degustar o democrático “aperitivo” das ampliações ao ar livre, a apresentação da curadora nos convida a aguçar os sentidos. “Em tempos de proliferação de fotógrafos (todos nós somos, não?), vale indagar o que qualifica um olhar fotográfico, diferenciando-o dos demais”, diz ela. Salgado se diferencia, vai até onde ninguém foi. E mais: consegue transmitir os sentidos na imagem. Mesmo em preto e branco, mesmo quando as cores da natureza são espetaculares e prescindíveis. Suas imagens são um presente, por vários motivos. Cito dois, que me vem à cabeça e principalmente ao coração de imediato:  um presente porque possivelmente não iremos até onde ele foi; um presente porque, como somos todos fotógrafos, teremos a oportunidade de fazer fotos, no mínimo sensíveis e emocionantes, em nossas mentes, daquilo que ele de fato registrou. Um compartilhamento generoso do fotógrafo, que nos diz em milhares de tons de cinza, o quanto já judiamos do nosso planeta, e o quanto é preciso repensar a origem de tudo.

______________________________

Não dá para deixar passar essa exposição do fotógrafo Sebastião Salgado, no SESC Belenzinho, em São Paulo. São 245 fotografias feitas entre 2004 e 2011, reunindo montanhas, desertos, pessoas, tribos, aldeias, animais e tudo mais que possa nos afastar da acelerada vida contemporânea. Pelo período extenso que abrange e pelo que folhei do livro homônimo Genesis, parece ser um repasse geral no planeta – ou naquilo que sobrou da sua origem. Poético e nostálgico ao mesmo tempo.

Programem-se, tem bastante tempo (em cartaz até 01 de dezembro). Vou conferir e volto com minhas impressões. (ACIMA)

 

Comentários