RESTREPO

Opinião
Restrepo é um documentário de guerra, sobre a guerra. Nu e cru. Ou seja, se o espírito não for testemunhar a vivência de um pelotão americano no mais perigoso dos confins do Afeganistão, deixe para outra ocasião. Mas se quiser ter uma amostra do que foi a experiência desses rapazes no Vale Korengal, lugar inóspito, árido e cruel, considerado pelo exército americano a sua mais perigosa base, são só 90 minutos. Lembrei-me de Guerra ao Terror (vencedor do Oscar de melhor filme no ano passado), que também me despertou a sensação de fazer parte do contexto, de sentir na pele o que sentem os soldados – embora muita gente não tenha gostado do filme. Só que Restrepo é real e isso faz toda a diferença.
Explico o porquê. Quando o jornalista e escritor Sebastian Junger e o fotojornalista Tim Hetherington, ambos com larga experiência na cobertura de guerras e conflitos, resolveram acompanhar esse pelotão no montanhoso território afegão, terra da milícia do Taliban, a ideia era simplesmente essa: mostrar o que acontecia por lá, como os soldados se relacionavam, como se comportavam, quais eram suas angústias e medos e como foi aquele ano entre 2007 e 2008. Para tanto, ligaram as câmeras. E só. Não há interferência, não há montagem, o perigo é sempre iminente e a ferida que fica da experiência, eterna. Os depoimentos com os soldados, um ano depois de terem deixado o vale, mostra o abismo que existe entre a teoria do alto comando estratégico da máquina da guerra e a prática. No campo, nada está sob controle, as vidas são totalmente vulneráveis – a começar pelo paramédico Restrepo, morto em combate, que dá nome ao posto militar perdido nas montanhas.
Trocando em miúdos, não sobra muita coisa dessa guerra desmesurada. Os soldados são enviados para uma terra de ninguém, para uma negociação impossível com moradores locais, para um choque cultural enorme, sem um objetivo claro. Nem eles sabem o que foram fazer por lá; só sabiam que não estavam preparados, que o inimigo morava ao lado e que o preço psicológico a pagar seria caro, muito caro.
Restrepo concorre ao Oscar de melhor documentário, disputando com Trabalho Interno e Lixo Extraordinário.
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