QUANDO EU ERA VIVO
Opinião
Indo na contramão dos gênero comédia, o mais assistido quando se trata de cinema nacional, Quando Eu Era Vivo explora o suspense, o terror. Algo com a mesma vibração encontrada em Trabalhar Cansa, que, definitivmente, não é para qualquer público. Tem algo de sobrenatural, um suspense em torno dos personagens e da história em si. Até mórbido, eu diria. E para quem gosta de cinema nacional e aprecia sair do lugar comum, pode ser uma boa surpresa.
O elenco é conhecido: Marat Descartes, presente em Trabalhar Cansa, Super Nada, Os Inquilinos; Antonio Fagundes, estrela da televisão e do teatro, Sandy Leah, cantora e atriz. Conhecido não quer dizer competente, mas aqui há harmonia e funciona. Marat é Júnior, um sujeito que acabou de se separar da mulher e volta pra casa do pai Sênior (Fagundes) a procura de abrigo. E alguma segurança. Apesar de totalmente desestruturado emocionalmente, o que mais sinto em Júnior é a sua fraqueza. Alguém indiferente. Logo se nota que a relação com o pai é distante, desconhecida, sem vínculo afetivo. Quem começa a estabelecer algum contato mais íntimo é a garota Bruna, uma estudante de música que aluga um quarto na casa de Sênior. Mas a realidade da família não pertence a ela e só Júnior sabe o que fazer com isso.
Tudo que Sênior havia guardado do passado, tudo que pertencia à mãe morta, é resgatado por Júnior, que mergulha no passado para conseguir viver o presente. Até que solta a pérola “quando eu era vivo” e o espectador começa a fazer a relação clara da presença da mãe morta, das visões da infância, dos objetos guardados, da música e da obsessão pelas experiências já vividas.
Em entrevista coletiva, os atores disseram que o filme fala da relação entre pai e filho. Eu diria que fala da não-relação, do abismo que se cria e da dificuldade de se comunicar. Só que aqui, ganha uma dimensão sobrenatural que pode causar estranhamento. Mas tem uma construção criativa e inovadora. Pra quem gosta de sair do lugar comum.
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