PRECISAMOS FALAR SOBRE KEVIN – We Need to Talk about Kevin

Cartaz do filme PRECISAMOS FALAR SOBRE KEVIN – We Need to Talk about Kevin

Opinião

Só uma mulher poderia dirigir um filme como este. Atuar da maneira com que Tilda Swinton faz aqui (deveria ter sido indicada ao Oscar), com a intensidade da dor que só uma mãe é capaz de sentir, só poderia ser resultado da parceria com uma diretora. Sem menosprezar, obviamente, a dor do pai. Mas esse pai, representado pelo sempre ótimo John Reilly (também em MagnóliaCyrus), não sente dor alguma. Para ele, não é preciso falar sobre Kevin. Não é ele o alvo do desprezo. O objetivo de Kevin é ferir a mãe, naquilo que ele sabe ser o mais dolorido: o amor materno banalizado, a ternura correspondida com cinismo, a dedicação com maldade, perversão, olhar de indiferença. Não deve ter dor maior. O que fica para Eva (Tilda Swinton, também em Um Sonho de AmorQueime Depois de Ler) é a pergunta que não quer calar: onde foi que eu errei tanto assim? Por quê?

Eleito o melhor no Festival de Cinema de Londres de 2011, Precisamos Falar Sobre Kevin já começa duro, sofrido. Conhecemos a história a partir da perspectiva de Eva, que transmite uma solidão e uma dor impressionantes no semblante, nos modos de vida. É fortemente hostilizada pelos vizinhos, tem dificuldade em encontrar emprego. Suas lembranças vão nos contando como foi sendo construída a relação com o pequeno Kevin, que desde muito pequeno parecia já saber como provocar a mãe, como deixá-la desconcertada, sem paciência. Desde pequeno passava dos limites – como se isso lhe desse o direito de agir como bem entendesse. Desde pequeno vemos a diferença na relação que tinha com o pai e com a mãe, ambas controladas e manipuladas pelo garoto. Ele cresceu, as ferramentas para exercer esse domínio e dissimular situações ficam mais disponíveis, e Eva sente, o tempo todo, que precisa falar sobre Kevin, que há um problema, que algo não anda bem. Mas não há diálogo.

Falei sobre este filme no artigo sobre Elefante, por causa da semelhança do tema ligado aos massacres de Columbine e Realengo (RJ). E me perguntaram se Precisamos Falar Sobre Kevin é um daqueles filmes que atormentam a gente pelo resto da vida. Mãe é mãe, confesso que damos a vida para fazer o melhor que podemos, mas sempre fica a sensação de um “será que vai dar tudo certo”? É perturbador, sim. Mas é imperdível – pelo tema em si, pela qualidade das atuações, pela reflexão que isso gera. O que Kevin planeja para ferir de vez essa mãe que ele tanto odeia – e odeia mesmo, vemos isso nos seus olhos, na sua falta de interesse pela vida e de objetivos, no prazer de chocá-la, de dar falsas esperanças de que vão se entender um dia, de ser cínico diante do pai – você vai ver (e sentir). Mas o que mais me afligiu foi a construção do antagonismo entre o amor materno incondicional de um lado, e a culpa, o arrependimento, o ódio, a possibilidade de perdão, a incompreensão, a decepção e frustração de outro. Por que coisas assim acontecem? E depois de tudo isso, onde fica essa cláusula do “incondicional” que colocamos antes do amor de mãe?

 

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