Opinião

Andam dizendo que PECADORES é um dos melhores filmes do ano até agora e que vai entrar nas premiações de 2026. É um filmaço mesmo. Aos desavisados, fica o recado: tem vampiros, violência, sobrenatural. Engloba o gênero terror, afinal de contas. Mas, também aos desavisados, é preciso deixar claro que toda fantasia do filme é alegórica e funciona como recurso pra contar uma história que atravessa o tempo. Literalmente. Por isso, não deixe de assistir por causa desses rótulos, por favor.

Dois irmãos gêmeos feitos por Michael B. Jordan, nos anos 1930 na Louisiana, voltam pra sua cidade natal pra abrir uma casa de blues. Acontece que a KKK está na espreita, que o racismo estrutural está enraizado, o trabalho nos campos de algodão é cruel e a música é o único lugar físico e emocional da liberdade, que faz parte da matriz africana — diferente da religião que lhes foi imposta.

Tudo isso pra dizer que PECADORES traz a ideia da apropriação cultural: Vampiros sugam o poder da cultura negra, se apropriam e, ao mesmo tempo, a invisibilizam e desvalorizam. O blues e a música irlandesa, as matrizes africanas e o cristianismo, o preto e o branco. Tudo colocado ali, inclusive vencendo a resistência do tempo, trazendo a noção de continuidade (cena linda, a da dança!).

O diretor Ryan Coogler também fez Pantera Negra e Creed, que todo mundo viu. Mas volto mais no tempo pra falar de Fruitvale Station: a última parada, também com Michael B. Jordan, de 2013. baseado em história real, tem um paralelo muito intenso com essa atemporalidade do racismo.

Pensar nos dois filmes juntos é um convite pra pensar sobre como contar histórias de forma diferente é importante pra acessarmos sentimentos diversos que o racismo produz. Seja com vampiros, seja com uma narrativa que mescla ficção e documentário, filmes nos ajudam a colocar na pauta a reflexão sobre raça. E o paralelo entre as duas histórias é impressionante!

Pecadores e Fruitvale Station formam um duo. Pode crer!