Opinião

“O riso mata o temor, e sem temor não pode haver fé. Se não há temor ao demônio, não há necessidade de haver Deus.”

– monge bibliotecário

Exemplificar uma época tão pouco ilustrada e de difícil documentação como a Idade Média – tempo em que o conhecimento em si era restrito ao clero, guardado a sete chaves – não é tarefa fácil. O que é ensinado sobre essa era das trevas, o poder absoluto da Igreja, a força punitiva da Santa Inquisição, o acesso restrito ao saber para que não gerasse contestação e consequente perda de poder, fica muito melhor exemplificado através deste sempre ótimo clássico, O Nome da Rosa.

Baseado no romance do italiano Umberto Eco, O Nome da Rosa mostra, de maneira inteligente, a razão e o conhecimento lutando contra o medo, a inquisição e a adoração cega. O pensamento lógico de Sean Connery, como William de Baskerville, definitivamente não se encaixava na dinâmica do século 14. É com ele que William pretende desvendar a morte misteriosa de alguns monges, ao lado do noviço Adson (Christian Slater), e a sua relação com o livro Poética de Aristóteles, que fala do riso. Essa é a sua única arma, desacreditada nesse mundo inquisitório. O filme mostra que a razão é justamente a maior inimiga do poderio da Igreja, tanto financeiro, quanto intelectual e territorial. Mostra a simbologia dos prédios escuros, sem janelas, inacessíveis, assim como o conhecimento obscuro e trancafiado na biblioteca de labirintos – também labirintos de respostas às diversas verdades possíveis.

Além de ótimo entretenimento, O Nome da Rosa é didático. Adolescentes que estão entrando nos meandros da história, pais que querem partilhar esse conhecimento com exemplos, ilustrações e de quebra um belo exemplo de produção cinematográfica e raciocínio lógico, é imperdível. Além de ter suspense e mistério que eles adoram! Mesmo tendo já assistido inúmeras vezes, confesso que assistir acompanhado de quem está começando a formar espírito seu crítico, sua percepção, capacidade de argumentação, é delicioso. Faz parar para pensar e Sean Connery dá um baile de sabedoria.