O HOMEM IRRACIONAL – Irrational Man

Cartaz do filme O HOMEM IRRACIONAL – Irrational Man

Opinião

Quando este filme foi apresentado em Cannes, acompanhei a entrevista coletiva por causa da figura do Woody Allen. Não tem papa na língua, diz o que pensa; espirituoso e irônico, quase sempre. O que eu mais gostei foi quando um jornalista brasileiro perguntou se ele já tinha pensado em matar alguém, já que em seus filmes os assassinatos – ou o desejo de assassinar – estavam invariavelmente presentes. “Claro”, disse Woody, “inclusive enquanto você fazia essa pergunta”.

Essa é a marca do diretor: ser direto, sem rodeios, sem rabo preso, sem obrigação de agradar. Sempre permeados pelos conflitos e questionamentos humanos, seus filmes são, segundo ele, um retrato da realidade que sempre existiu, independente da época. Se gosta de retratar o momento de crise moral em que vivemos, em que a depressão assola a humanidade, em que maridos e esposas se alimentam da traição? Mas quando é que foi diferente? O Homem Irracional é um recorte de uma decisão aparentemente sem sentido, fora dos padrões socialmente aceitos, mas não tão diferente das decisões tolas e inconsequentes que tomamos para sobreviver todos os dias.

Interessante esse raciocínio. O filme conta a história de um professor de filosofia (Joaquin Phoenix, também em Era Uma Vez em Nova York, Ela, Amantes), que está deprimido, sem motivação para viver, a ponto de arriscar puxar o gatilho numa roleta russa. Envolve-se com uma mulher casada, desperta o interesse de uma jovem aluna (Emma Stone, também em Birdman, Magia ao Luar), mas nada devolve a sua vontade de seguir vivo. Até que ouve uma conversa, se intromete onde não foi chamado, resolve cometer um asssassinato e sente-se novamente na ativa com a ideia de ter, finalmente, um objetivo. “Há momentos decisivos na vida de uma pessoa em que ela percebe que algo importante pode acontecer se fizer a escolha certa”, disse Allen na coletiva de Cannes. “Neste caso, a escolha que Joaquin faz é irracional, mas nem tanto, considerando as opções que fazemos em nossas vidas. As pessoas precisam de algo para acreditar, têm que escolher se suas vidas são significativas ou não, escolhem religiões, por exemplo, o que é irracional. Acreditam que se forem boas pessoas, morrerão e irão pro céu, onde viverão para todo o sempre – o que não é menos maluco do que aquilo que Phoenix pensou: que se cometesse aquele ato, sua vida voltaria a ter sentido.”

Adorei mais este Woody Allen. É como uma comédia do absurdo. Os personagens vão narrando seus sentimentos em off e a gente vai viajando com eles nas maluquices humanas. Woody Allen é muito honesto com nossa raça: não doura a pílula, mostra claramente que ela faz escolhas agonizantes e é isso que as pessoas querem ver. É um espelho. Assim como é um espelho do nosso comportamento ambíguo e equivocado o retrato feito em Match Point e Blue Jasmine. Coisa de gênio.

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